Estresse é uma das principais causas de transtornos mentais em estudantes e nem sempre dispõem de assistência psicológica na universidade
Assistência
Estudantil
A estudante diz que conhece de perto esta realidade. Acrescenta que em 2015 desenvolveu Transtorno de Ansiedade Generalizada decorrente da pressão por escolha de um curso que não lhe agradou, e se viu isolada e deslocada da maioria dos colegas de faculdade. “Na época, eu tinha uma fobia social muito grande, me sentia fisicamente mal só de precisar me comunicar com alguém” o que levou a desistência do curso.
Agência
Focaia
Reportagem
Barbara Argolo
Foto: Barbara Argôlo
O acumulo de atividades acadêmicas é uma das causa de estresse no âmbito acadêmico
Passar no
vestibular é uma enorme conquista, entretanto demanda muitas vezes
mudanças bruscas na vida dos jovens. Morar sozinho,
responsabilidades, amadurecimento precoce, número elevado de
atividades acadêmicas, cobranças, esses são, segundo os
entrevistados, um dos principais motivos dos problemas psicológicos
causado pela rotina acadêmica, com consequências na vida dos
estudantes.
Apesar dos
problemas à saúde dos acadêmicos, nem sempre há assistência,
como é o caso da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus
Araguaia, que, atualmente, não possui
auxílio psicológico e nem profissionais qualificados para
atendimento à comunidade estudantil.
De acordo com a
professora da UFMT/CUA e psicóloga Ana Maria Penalva Mancini pode
ocorrer esse estresse devido a inúmeros fatores, mas principalmente
pelo surgimento de um novo desafio à maioria dos estudantes. “É
um espaço novo pra eles, a responsabilidade passa a ser exclusiva do
aluno. Podem desenvolver um processo de conflitos, uma vez que estão
adentrando um mundo novo.” avalia.
O atual cenário
do país tem colaborado, conforme Penalva, para esse estresse em alto
nível. “O cenário econômico, social, emocional, a questão das
relações humanas estão se enfraquecendo muito, até em virtude das
redes sociais, das mídias que fazem com que as pessoas se
distanciem.”
A acadêmica do
curso de jornalismo Khryst Anne Soares Serpa, afirma que “a
incerteza da empregabilidade pós conclusão da graduação, a
pressão social e familiar sobre o acadêmico, e, até a pressão
pessoal que o próprio aluno se impõe, tudo isso contribui muito pra
que o aluno se sinta desmotivado, e em alguns casos, realmente
deprimido.”
Para Serpa é
complicada a convivência acadêmica, a necessidade de sociabilidade.
“Acredito que qualquer ambiente de socialização já cria essa
atmosfera de ansiedade e estresse. Na Universidade, onde temos uma
minimização da sociedade, onde tudo é mais próximo da nossa
realidade, inclusive a competitividade, as chances de se desenvolver
algum tipo de transtorno é bem maior.”
A estudante diz que conhece de perto esta realidade. Acrescenta que em 2015 desenvolveu Transtorno de Ansiedade Generalizada decorrente da pressão por escolha de um curso que não lhe agradou, e se viu isolada e deslocada da maioria dos colegas de faculdade. “Na época, eu tinha uma fobia social muito grande, me sentia fisicamente mal só de precisar me comunicar com alguém” o que levou a desistência do curso.
Victor Ananias,
graduando do curso de direito destaca que “o fato de você ter
que se mudar para uma outra cidade, a responsabilidade se dá de
forma muito precoce, exige um amadurecimento grande, e muitas vezes
não estamos preparados pra isso.” Ele que precisou se mudar de
Goiânia (GO), cidade natal, para Barra do Garças (MT) para estudar
na UFMT.
Ananias
evidencia ainda que, sente muita insegurança em relação ao seu
futuro profissional e isso desencadeou ansiedade. “Esse foi um dos
fatores que quase me fizeram desistir do curso, pois sempre pensei
que nunca seria capaz”. Ele afirma que a competitividade e a vida
pós faculdade o fazem refletir acerca da escolha que fez. “Será
que eu vou ser apenas mais um com diploma na mão?”.
Além do
estresse dos estudantes, Penalva evidencia o desânimo em muitas
ocasiões por parte dos professores. Relata que esse processo de
estresse e exaustão emocional em professores tem o nome de Síndrome
de Burnout. Como descreve, “foi realizada uma pesquisa com
professores e detectou-se que estes têm a síndrome da desistência,
quando o desgaste emocional é tamanho que você desiste de tentar
fazer algo para melhorar a sua profissão ou sua vida”.
Falta
assistência na universidade
A UFMT /CUA não
possui atualmente nenhum mecanismo de auxilio psicológico ao
estudante. De acordo com Regiane Barbosa, assistente social do
campus, quando o estudante procura assistência junto a PRAE
(Pró-reitoria de Assistência Estudantil) é realizado um processo
de escuta e é orientado a providenciar atendimento pelo SUS (Sistema
Único de Saúde).
“A gente
orienta que ele [estudante] se encaminhe ao CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e lá terá as
informações de documentação que precisa para o atendimento”,
declara.
O acadêmico
somente será acompanhado pela universidade caso retorne à PRAE,
caso contrário não é realizado um acompanhamento periódico.
Como ressalta a
Barbosa, “se o estudante estava passando por atendimento
psicológico era solicitado que ele retornasse a PRAE pra que
ficassem em alerta em relação ao rendimento acadêmico deste”. No
entanto, como o acompanhamento acadêmico não é realizado pela
assistente social no momento, e, não soube informar como está sendo
feito o procedimento.
Recebem atenção
diferenciada, apenas os alunos beneficiários dos auxílios estudantis
(moradia, alimentação e permanência). Para conseguir o serviço,
porém, os estudantes devem ter no mínimo 70% de aproveitamento do
rendimento acadêmico e, neste caso, independente de procurar ou não
a PRAE, é acompanhado pelo setor.