Estresse é uma das principais causas de transtornos mentais em estudantes e nem sempre dispõem de assistência psicológica na universidade

Assistência Estudantil

Agência Focaia
Reportagem
Barbara Argolo
   Foto: Barbara Argôlo
O acumulo de atividades acadêmicas é uma das causa de estresse no âmbito acadêmico

Passar no vestibular é uma enorme conquista, entretanto demanda muitas vezes mudanças bruscas na vida dos jovens. Morar sozinho, responsabilidades, amadurecimento precoce, número elevado de atividades acadêmicas, cobranças, esses são, segundo os entrevistados, um dos principais motivos dos problemas psicológicos causado pela rotina acadêmica, com consequências na vida dos estudantes.

Apesar dos problemas à saúde dos acadêmicos, nem sempre há assistência, como é o caso da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Araguaia, que, atualmente, não possui auxílio psicológico e nem profissionais qualificados para atendimento à comunidade estudantil.

De acordo com a professora da UFMT/CUA e psicóloga Ana Maria Penalva Mancini pode ocorrer esse estresse devido a inúmeros fatores, mas principalmente pelo surgimento de um novo desafio à maioria dos estudantes. “É um espaço novo pra eles, a responsabilidade passa a ser exclusiva do aluno. Podem desenvolver um processo de conflitos, uma vez que estão adentrando um mundo novo.” avalia.

O atual cenário do país tem colaborado, conforme Penalva, para esse estresse em alto nível. “O cenário econômico, social, emocional, a questão das relações humanas estão se enfraquecendo muito, até em virtude das redes sociais, das mídias que fazem com que as pessoas se distanciem.”

A acadêmica do curso de jornalismo Khryst Anne Soares Serpa, afirma que “a incerteza da empregabilidade pós conclusão da graduação, a pressão social e familiar sobre o acadêmico, e, até a pressão pessoal que o próprio aluno se impõe, tudo isso contribui muito pra que o aluno se sinta desmotivado, e em alguns casos, realmente deprimido.”

Para Serpa é complicada a convivência acadêmica, a necessidade de sociabilidade. “Acredito que qualquer ambiente de socialização já cria essa atmosfera de ansiedade e estresse. Na Universidade, onde temos uma minimização da sociedade, onde tudo é mais próximo da nossa realidade, inclusive a competitividade, as chances de se desenvolver algum tipo de transtorno é bem maior.” 

A estudante diz que conhece de perto esta realidade. Acrescenta que em 2015 desenvolveu Transtorno de Ansiedade Generalizada decorrente da pressão por escolha de um curso que não lhe agradou, e se viu isolada e deslocada da maioria dos colegas de faculdade.  “Na época, eu tinha uma fobia social muito grande, me sentia fisicamente mal só de precisar me comunicar com alguém” o que levou a desistência do curso.

Victor Ananias, graduando do curso de direito destaca que “o fato de você ter que se mudar para uma outra cidade, a responsabilidade se dá de forma muito precoce, exige um amadurecimento grande, e muitas vezes não estamos preparados pra isso.” Ele que precisou se mudar de Goiânia (GO), cidade natal, para Barra do Garças (MT) para estudar na UFMT.

Ananias evidencia ainda que, sente muita insegurança em relação ao seu futuro profissional e isso desencadeou ansiedade. “Esse foi um dos fatores que quase me fizeram desistir do curso, pois sempre pensei que nunca seria capaz”. Ele afirma que a competitividade e a vida pós faculdade o fazem refletir acerca da escolha que fez. “Será que eu vou ser apenas mais um com diploma na mão?”.

Além do estresse dos estudantes, Penalva evidencia o desânimo em muitas ocasiões por parte dos professores. Relata que esse processo de estresse e exaustão emocional em professores tem o nome de Síndrome de Burnout. Como descreve, “foi realizada uma pesquisa com professores e detectou-se que estes têm a síndrome da desistência, quando o desgaste emocional é tamanho que você desiste de tentar fazer algo para melhorar a sua profissão ou sua vida”.
Falta assistência na universidade
A UFMT /CUA não possui atualmente nenhum mecanismo de auxilio psicológico ao estudante. De acordo com Regiane Barbosa, assistente social do campus, quando o estudante procura assistência junto a PRAE (Pró-reitoria de Assistência Estudantil) é realizado um processo de escuta e é orientado a providenciar atendimento pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
A gente orienta que ele [estudante] se encaminhe ao CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e lá terá as informações de documentação que precisa para o atendimento”, declara.
O acadêmico somente será acompanhado pela universidade caso retorne à PRAE, caso contrário não é realizado um acompanhamento periódico.
Como ressalta a Barbosa, “se o estudante estava passando por atendimento psicológico era solicitado que ele retornasse a PRAE pra que ficassem em alerta em relação ao rendimento acadêmico deste”. No entanto, como o acompanhamento acadêmico não é realizado pela assistente social no momento, e, não soube informar como está sendo feito o procedimento.

Recebem atenção diferenciada, apenas os alunos beneficiários dos auxílios estudantis (moradia, alimentação e permanência). Para conseguir o serviço, porém, os estudantes devem ter no mínimo 70% de aproveitamento do rendimento acadêmico e, neste caso, independente de procurar ou não a PRAE, é acompanhado pelo setor.