Resenha
Redação
Gabriel Green Fusari
Foto: Google Imagens
O “Le Guerre du Feu”
(A Guerra do fogo) é um filme franco-canadense produzido na década de
80 por Jean-Jacques Annaude. O longa-metragem retrata
a experiência dentro de uma sociedade de homens pré-históricos, com seu
regime de vida, objetivando a sobrevivência de sua espécie, por isso, a busca
incansável do fogo, a forma mais rudimentar, mas eficiente para se defender
contra inimigos e animais. Um dos poucos filmes produzidos totalmente
sem diálogos entre os personagens na narrativa, o que não impede
acompanhar com tensão a história no decorrer do longa-metragem.
Um dos fatos mais
interessantes sobre a linha narrativa, é que, embora o filme seja uma
referência à pré-história, não se pode deixar de notar o contato com a
realidade contemporânea, a busca pela tecnologia, formação de grupos sociais e
poder.
O exemplo mais pertinente
é a do empoderamento feminino e machismo. Nos anos 80, já era incontável o
número de marchas feministas e também a quebra de tabus sociais sobre o papel
da mulher na sociedade. No filme isso é bem retratado esse fato, assim
apresentado na cena onde os hominídeos machos não conseguem fazer o fogo, e a
única fêmea (homo sapiens, diga-se de passagem) toma o papel de protagonista na
busca do fogo, deixando os homens em segundo plano, “criando” o fogo de forma
magistral. Uma forma de fazer refletir sobre o papel da mulher, não ser apenas
subalterna ao homem na sociedade, podendo assim fazer o trabalho intelectual, que antes era apenas designado ao homem e, diga-se, saindo-se muito bem
numa tarefa que mostraria impossível e de sobrevivência.
Outra cena que chama a
atenção, promovendo estranhamento no público, ocorre quando, na película, a
fêmea homo sapiens toma seu posicionamento no sexo, não
mais sendo passiva numa sociedade emergente, com uma espécie de machismo
pré-histórico, que para saciar desejos, acaba ao final usando de violência. Esse é
um dos contrapontos sobre o machismo apresentado no filme, que também tem como
outro episódio a demarcação de território e propriedade pessoal da
fêmea de um dos Neandertais, seja pelo sexo de violação, seja por puxar-lhe os
cabelos, seja pela defesa ou algum tipo de relacionamento.
A xenofobia também é
abordada com as rixas e guerras recorrentes. Métodos de segurança local e
de tecnologia de defesa são apresentados pela tribo indígena dos homo
sapiens, que criou em sua volta, um rio de areia movediça para sua
proteção. A variedade de tribos e atritos entre os diversos grupos, sem
qualquer veículo social, apresentado na história também é um dos tópicos para
se pensar sobre a evolução humana. No que se refere à estética do corpo o
social, o diretor destaca a moda, vista nas roupas, ainda que primitivas
com adornos e no valor das pinturas corporais.
O longa ganhador de
inúmeros prêmios, como Oscar de melhor maquiagem e penteado, é
um ótimo filme a ser apresentado em aulas de sociologia, tendo como temas abordados
a comunicação e a construção social, numa relação entre o pré-histórica e
contemporâneo. O filme, de forma cômica, muitas vezes apresenta autêntico em
características visuais, retratando as diferenças sociais e revelando a
busca incessante pelo poder, para além da existência de um dispositivo, neste
contexto o fogo.