Cacá Diegues traz a 'Favela Gay'

Cineasta produz documentário com histórias de homossexuais que vivem em áreas carentes do Rio

Os gays da favela. Flávio Ruivo, Martinha e Guinha (em pé) dividem suas histórias de vida no filme de Rodrigo Felha e Cacá Diegues Paula Giolito / Paula Giolito


ROBERTA CALABRE

“Nada é mais diferente que um homossexual do que outro homossexual”. A frase, proferida pelo deputado Jean Wyllys, resume o espírito de “Favela gay”, um documentário que mostra o cotidiano dos homossexuais nas favelas do Rio de Janeiro, e tem lançamento previsto para o fim do ano, no Canal Brasil.

Filmado nas comunidades Cidade de Deus, Rio das Pedras, Rocinha, Vidigal, Complexo do Alemão, Complexo da Maré e Andaraí, o filme aborda temas como homofobia, preconceito, aceitação da família e trabalho. Jean Wyllis é um dos entrevistados. Longe de promover um simples desfile exótico de personagens, o documentário mostra, com a crueza da linguagem das favelas, e com a poesia das imagens do cinema, os múltiplos seres que se abrigam sob as letras do arco-íris LGBT, descortinando, ainda que apenas pela duração do filme, o que realmente significa ser gay num espaço dominado pelo preconceito, pela violência e pela pobreza.

O filme tem concepção e direção de Rodrigo Felha, morador da Cidade de Deus, e produção de Cacá Diegues e Renata de Almeida Magalhães. A ideia surgiu em 2008, a partir de um já tradicional jogo de queimado organizado na Cidade de Deus pela MC Tati Quebra-Barraco. Ao filmar a partida, Felha notou que o ápice do evento acontecia na hora em que os gays tomavam conta da quadra.

— A comunidade toda parava para vê-los. A partida era movida a funk, e eles dançavam no meio do jogo, se enfrentavam, batiam cabelo. No filme, as imagens estão romanceadas, em câmera lenta, para captar esse espírito desafiador deles, que é fascinante — explica.