Feira Livre de Barra do Garças (MT) atrai consumidores dos produtos orgânicos, mantendo a cultura do campo por gerações


Agricultura

Agência Focaia
Reportagem
Júlia Viana
Thaynara Fernandes


A Feira Livre da Agricultura Familiar de Barra do Garças (MT), realizada todas às sextas-feiras em avenida central da cidade, como ocorrem em outros municípios brasileiros, atrai consumidores pela sua variedade de produtos orgânicos, comercializados pelos pequenos produtores da região. Nas diversas barracas ao longo da via pública se mantém a tradição rural, que se alia à natureza para combater pragas na produção em pequenas quantidade, principalmente das formosas hortaliças.

Os produtos orgânicos são aqueles livres de adubos químicos e de agrotóxicos. Nas lavouras, esses produtos cultivados com os adubos naturais, sem agredir o meio ambiente. Alimentos orgânicos não podem ter corantes ou conservantes sintéticos, tampouco substâncias como agrotóxicos.

Segundo a agricultora Rosilene Lima, “as vantagens de consumir produtos orgânicos são infinitas, a qualidade do produto, a qualidade de vida, um produto mais limpo, que você pode comer sem medo de ter algum veneno”.

Os alimentos produzidos por estes pequenos agricultores chamam a atenção pela qualidade e benéficos para saúde, portanto, mais aceitos que os gêneros alimentícios produzidos em grande escala pelo agronegócio Goiano e mato-grossense, vendidos nos supermercados regionais.



Feira livre de Barra do Garças ocorre toda sexta na avenida central, em que pequenos
produtores da cidade e região comercializam seus produtos. Imagem: Mylena Caitano.


Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em publicação, o Estado de Mato Grosso é o maior produtor de orgânicos do país, com uma área plantada de 622,6 mil hectares. Em seguida, aparecem os estados do Pará (602,6 mil hectares), Amapá (132,5 mil), Rondônia (36,7 mil) e Bahia (25,7 mil). 

Os principais alimentos orgânicos produzidos no Brasil são representados pela soja (31%), seguida das hortaliças (27%) e do café (25%). A maior área plantada é a de frutas (26%), depois cana (23%) e palmito (18%). Os alimentos orgânicos mais consumidos no país são os vegetais (legumes e verduras).

Para Rosaline Lima, embora seja um produto mais trabalhoso de ser cultivado e produzido em  menor escala, é mais gratificante de ser oferecido à população, porque não causa nenhum dano à saúde do consumidor.

Lima planta alface crespa, alface americana, agrião, mostarda, rúcula, couve, salsa e almeirão. Como afirma, para produzir os orgânicos, realiza o combate das larvas, dos mosquitos e de fungos que dão na estufa, por meio do extrato de pimenta, o óleo de neem (conhecido também como óleo de nim), o extrato da folha de neem e com o fumo.

A tradição de gerações

“Você pega o fumo, deixa ele sete dias curtindo e pulveriza, não fica nada vivo,” diz, confirmando uma tradição que passa de geração em geração, observada em várias regiões do país.

O agricultor Aldenir Morais conta que não é fácil trabalhar com produtos orgânicos, como pode chegar a pensar, exigindo conhecimento e espera pelo tempo certo para cada cultura. “Fui criado na roça e aprendi muito com o meu pai sobre o sistema da lua, sobre você plantar na época certa para cada produto. O milho tem a lua certa, a mandioca também, cada alimento tem a sua lua, então eu trabalho mais neste objetivo,” explica.

Os consumidores acompanham a tradição de perto, revelam tranquilidade para o consume dos produtos das feiras, na sua maioria orgânicos. Carlos Henrique frequentador das feiras, em busca de produtos orgânicos, afirma que se percebe diferença de preço e qualidade, pois é possível observar que as verduras são mais saudáveis e agradáveis.

De acordo com dados do Coagre (Coordenação de Agroecologia), ligada a Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (SDC), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a área reservada para à produção de alimentos orgânicos no Brasil é maior do que 750 mil hectares. 

Segundo o Ministério da Agricultura, até o ano passado estavam cadastrado 17.7 mil produtores de produtos orgânicos.  

Os principais benefícios em se consumir produtos orgânicos se dá por ser ricos em nutrientes, já que em sua produção são feitos em solos sem contaminação e enriquecidos com adubos naturais, que contribui para a economia local, gerando emprego e renda para feirantes e o homem do campo.

O agronegócio

O estudante de agronomia da UFMT/CUA Leonardo Lopes, debate que é praticamente impossível trabalhar com produção de alimentos em larga escala sem o uso de defensivos agrícolas.

“A maioria dos feirantes são pequenos agricultores, o que vem a ser mais fácil de lidar com pragas ou doenças," diz.  Ele acrescenta que, mesmo assim, quando ocorrer proliferação de uma determinada praga ou doenças, é muito difícil o produtor não ter prejuízo se não recorrer ao uso de defensivos agrícolas.

Para Lopes, o uso de defensivos agrícolas é de suma importância para a produção de alimentos em todo mundo, numa referência às grandes lavouras que exige equipamentos sofisticados e alta tecnologias que se renovam a cada ano.

O estudante faz uma ressalta, nas feiras "orgânicas" como a de Barra do Garças, o uso de defensivo agrícola para o combate às pragas será bem pequeno, quando realmente necessário. Como avalia, muitas das vezes nem são usados. Como são agricultores de pequenas áreas conseguem o controle das pragas, laçando mão de suas tradições.