UFMT Araguaia comemora quatro décadas de história, sem a presença da comunidade acadêmica

Aniversário

Luiguy Kennedy

Durante os dois anos de atividades remotas, devido a pandemia do coronavírus, não foi possível a comemoração presencial dos seus 40 anos de existência, completado em 25 de novembro do ano passado. As aulas presenciais na UFMT/CUA somente foram possíveis a partir do mês de abril, com a redução de casos de infecção pelo vírus, após a população brasileira ter disponibilizadas para imunização, três doses de vacina.

O campus Araguaia, neste período, passou por adequações para receber os estudantes, como disponibilização de álcool em gel, distanciamento entre alunos nas salas de aula, algumas reformas como ampliação do Restaurante Universitário e revitalização das Bibliotecas das duas Unidades, de Barra do Garças e Pontal do Araguaia.

 

Imagem do alto do Campus Universitário do Araguaia, ao fundo parte da Serra Azul. Imagem – Cristiano Sousa.

  

CUA 40 anos

O Campus Universitário do Araguaia, surgiu em 1981, com aula inaugural realizada no dia 13 de março na cidade de Pontal do Araguaia, primeira unidade, lugar que à época pertencia ao município de Torixoréu. Depois UFMT/CUA se estende para Barra do Garças, com a construção da unidade II. 

O CUA Iniciou suas atividades com apenas dois cursos, letras e ciências (curso de curta duração), o Centro Pedagógico de Barra do Garças, como era chamado, surgiu com o objetivo de fortalecer e consolidar a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), época, com uma década de existência. A afirmação é do Professor José Nogueira, em documentário produzido pelo Núcleo de Produção Digital (NPD) em comemoração aos 40 anos do CUA.

O campus nasce na cidade de Pontal do Araguaia, onde atualmente é localizada a Unidade I, porém, suas primeiras instalações foram na escola São João Batista, onde eram ministradas as aulas dos dois cursos. O prédio administrativo foi cedido pela prefeitura, onde ficava o mercado vicinal, na época desativado, na Vila Santo Antônio.

De acordo com Nogueira, em 1983, o Campus Universitário do Araguaia passou a funcionar na escola Francisco Dourado, que no período diurno atendia alunos do ensino fundamental e médio, e no noturno os dois cursos de graduação da universidade. O quadro docente, em sua maioria, era composto por professores com o título de graduação, mas com vasta experiência em suas respectivas áreas.

Com a expansão da universidade, que ocorre em 2008, houve a criação da Unidade II, localizada em Barra do Garças, cidade vizinha à Pontal do Araguaia, e com abertura de novos cursos, compostos por Agronomia, Ciência da Computação, Engenharia de Alimentos, Engenharia Civil, Física, Matemática, Química, Jornalismo, Direito, Geografia, Letras, Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem e Farmácia. 

Com a sua ampliação foram criados três institutos que passam a ser responsável por suas respectivas áreas de conhecimento: Instituto de Ciências Exatas e da Terra (ICET), Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) e Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS).

O período foi o suficiente para que o CUA se tornasse referência no ensino superior, com destaque para os cursos de graduação, como ocorre com direito, por exemplo, que se faz o terceiro melhor do estado de acordo com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Na UFMT Araguaia, com sua expansão, houve a criação de projetos de extensão que prestam atendimento à comunidade local, como é o caso do Núcleo de Práticas Jurídicas (NPJ), Núcleo de Produção Digital (NPD), Centro de Estudo e Informação Toxicológica do Araguaia (CEITOX), e a inserção da sociedade na universidade na prestação de uma educação pública e gratuita.

Quatro décadas depois da sua fundação, o Campus Universitário do Araguaia (CUA/UFMT) tem cerca de 2400 discentes, 200 docentes e 70 servidores técnicos, distribuídos entre seus 16 cursos de graduação, mestrado e doutorado.

O Professor Odorico Ferreira Cardoso Neto docente do Campus Universitário do Araguaia do curso de Letras, em entrevista à Agência Focaia, afirmou que o tempo não para e o Campus Araguaia deve continuar  “criando, se recriando, se refazendo, se reconstruindo o tempo todo, até porque precisamos caminhar com a modernidade, contemporaneidade, sem perder as raízes do nosso passado.”


 

Entrada do Campus da UFMT Araguaia, que completou 40 anos em novembro do ano passado - imagem Cristiano Sousa


Focaia - Quais foram os principais desafios do Campus Universitário da UFMT do Araguaia neste 40 anos?

Prof. Odorico Ferreira Cardoso Neto -  O campus no antigo município de Torixoréu, depois Pontal do Araguaia, foi criado em 1981, antes nós funcionávamos em todos os lugares da cidade, nas escolas públicas estaduais, especialmente na Escola Francisco Dourado e funcionou também na Escola São João Batista, só em 1989 que foi construída a sede em Pontal do Araguaia, hoje sendo a Unidade I. Fui aluno do curso de Letras da 1ª turma que se formou em 1992, então durante oito anos a faculdade perambulou pelas escolas públicas estaduais, só em 1989, a instituição teve seu prédio próprio. Decorre-se muitos anos, até 2008, ano em que começa a ocorrer a construção da Unidade II, em Barra do Garças, também vivi essa situação, sendo um dos primeiros professores a ocupar a nova unidade. Uma questão em comum, tanto em 1989 como em 2008, não tínhamos asfalto nas unidades, na época de chuva, fazia poeira, uma situação quase que lamentável, muitas vezes, e isso causava muitas dificuldades. Luz era bastante difícil, as quedas de energia eram constantes, muitas vezes você era obrigado a estudar com lampião, fazer provas, então é uma história de resiliência, tanto na organização do campus de Pontal, em 1989, como no campus de Barra do Garças em 2008, eu vivi essas questões, é importante ressaltar isso. Então, Barra do Garças, ganhou muito com a construção do campus, vamos lembrar que, o nosso campus existe há 40 anos, só tínhamos os cursos de Letras, Matemática e o curso de Biologia, que na verdade era um curso de Ciências, que depois passou a chamar-se Biologia. Precisamos lembrar que tínhamos quatro cursos e foram criados outros doze, passamos a ter dezesseis, além da criação de cursos de pós graduação, e, isso mostra a pujança de um campus, que em 1995/1996, tinha cerca de 400 a 500 alunos, e hoje ele tem 3.000 alunos. Esse desenvolvimento se dá especialmente a partir de 2008, quando nós temos a oportunidade de criar o campus II, aqui na cidade de Barra do Garças. Dentro deste contexto, com a criação do Reuni que é programa de apoio ao plano de reestruturação e expansão das universidades federais, deu um grande crescimento na criação de cursos, universidades, campi, em todo o país, o nosso acontece especialmente em 2008/2009, quando se adquiriu a área onde nós funcionamos, uma área com 62 hectares, que estava na justiça por problemas de dívidas trabalhistas, então o governo fez um encontro de contas, essa área passou a ser ocupada pela universidade, havia construções internas que foram reorganizadas e reestruturadas para servir a universidade, além de muitas construções e investimentos. Daí a Unidade II, passou a se organizar da seguinte maneira, temos uma Pró-Reitoria, temos uma coordenação de pesquisa, coordenação de graduação e extensão, três institutos que funcionam aqui, o Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), o Instituto de Ciências Exatas e da Terra (ICET) e o Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), que atendem tanto a Unidade I como a Unidade II. Antes da adesão ao REUNI, nós contávamos com o curso de licenciatura em letras, ciências biológicas, matemática, física, química, informática e o curso de bacharelado em farmácia, com a construção da unidade II foram criados os cursos de licenciatura em educação física, licenciatura e bacharelado em geografia, bacharelado em comunicação social - jornalismo, direito, enfermagem, engenharia civil, engenharia de alimentos, ciência da computação, agronomia e biomedicina, junto com isso, vieram vários programas de formação. Em relação as matrículas foram crescentes, passamos de 1.626 matrículas em 2013, chegamos a 2.513 matriculas em 2018 e chegamos à quase 3.000 matrículas em 2019, mas com a pandemia, sofremos alguns problemas, mas atualmente no campus, temos 63 técnicos administrativos, 44 docentes efetivos e atuantes no ICHS, 57 no ICBS e 61 ICET, 09 docentes substitutos. No nosso campus 90 doutores, 57 mestres e temos ainda, no ICHS 23 docentes com titulação de doutorado e 25 com titulação de mestre, praticamente igualamos a formação entre doutores e mestres. Então, tudo que aconteceu, em Torixoréu que virou Pontal do Araguaia, a construção da unidade I, em 1989, o começo da construção, da unidade II em Barra do Garças em 2008, fez com que nos tornássemos referência no vale do Araguaia, um polo educacional.

Há em tramitação no senado federal, projeto de Lei do senador Carlos Fávaro (PSD/MT), para emancipação do Campus Universitário do Araguaia em Universidade Federal do Araguaia (UFAR). Como avalia o projeto?

Essa é uma situação que precisamos saber se vale ou não a pena, a comunidade precisa ser consultada, nós já vivenciamos essa ideia em vários momentos, há 10 anos, eu era vereador e tive a oportunidade de ir a uma reunião no MEC para tratar da possibilidade de termos um campus, como o de Rondonópolis hoje, próprio. Uma universidade pública federal do Araguaia, como hoje temos, a Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), nós temos que saber se temos condições de avançar nesse sentido, quais são as condições? Quais os recursos que vamos ter à disposição? Se isso, vai trazer mais benefícios ou malefícios? Então essa discussão, tem que ser feita com a comunidade, não basta que alguém queira que isso aconteça, para simplesmente colocar o nome na história como aquele que patrocinou o processo, a comunidade precisa participar efetivamente disso, saber quais são as reais possibilidades, as reais consequências e como a gente pode fazer com que isso aconteça de fato e de direito, é importante, nós já tivemos situações como essa, em 2010, em 2011 e estamos vivenciando novamente, mas tudo precisa, ser muito bem conversado, medido, analisado e que essa decisão não seja, do político A, B ou C, seja da comunidade, que saiba porque está escolhendo o que está escolhendo, o que significa isso do ponto de vista geopolítico? O que significa isso do ponto de vista do desenvolvimento da região e da própria universidade, com quais recursos, quais condições, quais possibilidades. Então é preciso planejar, analisar, estruturar e reestruturar que a gente não caia no conto do vigário que nos sejamos maduros o suficiente para tomar nossas próprias decisões, partindo do espaço onde nós estamos e não que alguém chegue a nós e diga que isso vai ser bom ou ruim, nós temos que avaliar se será ou não.