Satisfatório ou insatisfatório o ensino a distância na UFMT Araguaia, após um ano de aulas por TICs?

Aulas a distância

 

Reportagem

Evellyn Giovanna

 

Após um ano de ensino remoto, os estudantes da Universidade Federal do Mato Grosso fazem avaliação dos resultados dos métodos de ensino, deste período de distanciamento social  - Imagem: reprodução

 

Na minha primeira matéria para a página do Focaia foi feito um desafio, apurar a satisfação e insatisfação da comunidade acadêmica sobre as aulas remotas, em tempo de pandemia. Apesar da dúvida decidi aceitar a missão e passei a pensar na pauta. Como sou uma estudante caloura do curso de Jornalismo, convivendo com as aulas remotas, fui buscar a ajuda dos colegas, realizando entrevistas com os estudantes também do primeiro ano e professores do curso de Jornalismo.

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Fato é que o ensino superior em tempos de pandemia alterou o processo educacional em todo mundo .  Os sistemas educacionais foram afetados e em mais de 150 países, provocando o fechamento generalizado de instituições de ensino, como escolas, faculdades e universidades(UNESCO 2020a). Na universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Campus Universitário do Araguaia (CUA), a decisão e organização da estrutura universitária para aulas remotas exigiu discussão, com participação da comunidade acadêmica, resultando ainda em muitas dúvidas sobre a eficiência e qualidade das aulas a distância.

Com a necessidade do afastamento social para evitar a ampliação do contágio, no começo do ano passado, o setor educacional  precisou buscar adequações ao novo tempo, para reduzir os danos pedagógicos e riscos à saúde. 

Após a realização de dois semestres, então, é preciso analisar a situação atual, e se deve ser vista de forma negativa ou positiva. A mudança no formato de aprendizagem dos estudantes e ensino nestes tempos realizado pelos professores conseguiram manter os estudantes em contato com educação de qualidade ou o resultado é pouco satisfatório.

Sobre a questão, a partir do impacto da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), o professor do curso de Jornalismo Jorge Arlan de Oliveira Pereira diz que a universidade não se preparou para a situação e procurou dar as respostas com o “bonde andando,” e, com isso, cometeu erros e acertos; e ainda continua tentando combater a situação buscando as melhores soluções.

Na visão do aluno do primeiro semestre do curso de jornalismo Roberto Cosme, um dos pontos negativos foi a “demora da instituição na tomada de decisão em iniciar as aulas”. Os estudantes que entrariam no primeiro semestre letivo, já com aulas remotas, foram prejudicados, ficando sem atividades pedagógicas, mesmo a distância, com entrada na sala virtual somente, em muitos cursos de graduação, um ano depois.

Para Arlan, no entanto, observando num contexto amplo das atividades pedagógicas, a espera foi posição correta da instituição de modo geral fazendo pesquisas, recorrendo à discussão com participação de todos os segmentos da universidade e, assim, iniciarem as aulas, a princípio no período de 2020/1.

Lembrando que os projetos de pesquisa e extensão não foram interrompidos no período, com atividades remotas e aulas a distância , conforme decisão dos colegiados dos cursos. Porém, em segundo momento, no semestre letivo 2020/2 passou a haver oferta regular e obrigatória das disciplinas. Segundo ele neste momento “pesou mais, houve maior carga horária remota, também havia possibilidade da reprovação, afetando o ambiente [educacional], percebendo o cansaço físico dos estudantes e o emocional”, destaca o professor.

Para o estudante calouro do curso de Jornalismo Gustavo Muria, “o grau de atenção e de empatia com o professor na sala é imensamente superior, há dificuldade para fazer anotações e interagir. O aproveitamento foi apenas o indispensável,” avalia.

Como as aulas são remotas, com uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), segundo Arlan, devido o curso não ser pensado de forma presencial, traz limitação aos professores e estudantes. 

“A universidade é lugar de encontro de pessoas de conhecimentos, de eventos, de projetos, de pesquisa de extensão, e também lugar de reuniões, debates, movimentação política, movimentos estudantis, relações de amizade. Tudo isso requer a presença física, que é fundamental”.

O estudante de Jornalismo Melquisedec Oliveira, ao ser questionado sobre as aulas remotas, tem a mesma percepção do professor. De acordo com o discente, há a falta de um “comprometimento na interação social,” como diz as aulas remotas não conseguem substituir as presenciais, observando o ambiente de relacionamentos dentro do campus universitário.

 

Pós-pandemia

Em relação as mudanças que podem ocorrer ao final da pandemia, após essa breve experiência com as TICs,  se haverá mudanças na educação superior, com emprego das tecnologias, após experiências adquiridas pela comunidade acadêmica, Jorge Arlan avalia que o curso presencial em si é muito mais proveitoso, mas é possível que sejam feitas ações virtuais nas metodologias após esse período.

“Podemos usar isso [TICs] em reuniões colegiadas, orientações de TCC [Trabalho de Conclusão de Curso], em projetos de pesquisa ou de extensão, em ciclo de estudos e continuar com as mesas virtuais, o que gera possibilidades interessantes,” destaca sinalizando alternativas para a educação após seu retorno às atividades presenciais nos campi da UFMT. 

Apesar das dificuldades com o aproveitamento dos conteúdos ministrados por parte dos estudantes, as aulas a distância também resultam em pontos positivos, como destaca Melquisedec. Segundo ele, as atividades pedagógicas virtuais trazem à tona a comodidade de se assistir às aulas de casa, evitando assim os transtornos e incômodos do trânsito e do transporte.

Gustavo Muria avalia que tudo isso mostra a cara do novo e da cultura da convergência levada à prática, “permite mais mobilidade e adaptação,” sugerindo que as novas tecnologias terão influência na educação daqui para frente. 

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Como pudemos apurar, depois das entrevistas, aulas presenciais são esperadas com expectativa pelos estudantes e professores da UFMT, com o fim esperado do período de pandemia da Covid -19, após vacinação, mas o ensino deverá relacionar novas e velhas formas de aprender em sala de aula, como avaliam docentes e discentes, cabendo reflexões dos novos métodos de aprendizagem. Um assunto a ser analisado por pesquisadores e estudantes na própria universidade, que passa a fazer parte, ela mesma, da pesquisa.

* Com edição - Luara Romão