Em meio à pandemia, professores e alunos avaliam o ensino adotado pela Universidade Federal de Mato Grosso em 2020
Educação
Júlia Viana
Thaynara Fernandes
O ano de 2020
foi marcado por pandemia histórica de coronavírus, com reflexo em todos os
setores do país, com grande impacto na saúde e na economia. Na educação a suspensão
das atividades se tornou necessária, com o aumento das infecções da população.
Escolas e universidades tiveram que de se adaptar às ferramentas tecnológicas de
comunicação para atividades acadêmicas, em substituição às aulas presenciais,
inicialmente no improviso e na tentativa de acertos em meios aos erros
inevitáveis.
Na
Universidade Federal de Mato Grosso, desde o começo de março, professores e
estudantes trabalham com o ensino remoto, com avaliação sobre os resultados das
aulas flexibilizadas, com distanciamento entre professores e estudantes na realização de atividades a distância. Para docentes e alunos entrevistados este foi um ano de aprendizado neste tempo de pandemia, com mais acertos do que erros.
As plataformas utilizadas pelos professores foram o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), Youtube, Google Meets, entre outros recursos de comunicação virtual. Nessa adaptação, o professor de enfermagem do campus Araguaia Elias Rocha avalia que docentes e estudantes tiveram muitas dificuldades para executarem as atividades.
“Todos com
muitas dúvidas e incertezas, além do medo de adoecerem e por estar tão próximo
de um vírus desconhecido e temeroso”, avalia. O maior empecilho segundo o
professor, foi o acesso à internet e conexões, quanto “à falta de habilidade e
destreza para lidar com as tecnologias até então desconhecidas”.
O docente
afirma também que “faltou responsabilidade dos estudantes com as disciplinas
flexibilizadas. O fato de os alunos poderem cancelar [a matrícula
nos conteúdos disciplinares] a qualquer momento, isso deixou a responsabilidade a desejar”, reclama.
O método
adotado pela universidade mato-grossense na flexibilização do ensino faculta os
estudantes a cancelar matrícula nas disciplinas da graduação a qualquer momento,
sem prejuízo para o tempo de integralização do curso que é de quatro a cinco
anos, em conformidade com política pedagógica de cada curso.
Neste período de pandemia o Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (Consepe) ganhou protagonismo na tomada de decisões quanto às normatizações das atividades pedagógicas, formado por representantes de todos os segmentos da UFMT.
O
professor Elias, assim como o corpo docente, está sempre com atenção às decisões
da instância acadêmica e aguardando resultado de decisões e entendimentos sobre o retorno às
aulas. Como deliberou o Consepe, os professores da universidade devem ofertar
todas as disciplinas para o primeiro semestre letivo referente a 2020, no primeiro semestre do ano
de 2021.
Como decidido,
ainda no semestre próximo as aulas serão ofertadas somente remota, a distância, mantendo
as dificuldades de quem trabalha com aulas em laboratórios, como é o caso de Elias
Rocha. Como afirma, trabalhando com disciplinas que têm componentes teóricos e
práticos, e aguarda com expectativas a possibilidade de levar os estudantes
para o hospital.
“O curso de
enfermagem lida diretamente na linha de frente [com atividades práticas] e isso
impossibilitou a execução das atividades”, restando, portanto, como acrescenta, a vacinação
em massa contra o novo coronavírus, para então haver retorno à normalidade, o que no
Brasil também vem gerando dúvidas quanto às decisões do governo, que ainda não
apresentou planos para a imunização da população brasileira.
Desafios
O professor do
curso de Jornalismo da UFMT, Gilson Costta analisa que o cenário é de desafio
para os professores que pensaram na melhor forma de retornar o ensino, de modo
mais eficiente dentro do contexto da pandemia e, mesmo assim, fica a dúvida em
relação ao aproveitamento da qualidade do ensino neste período letivo
flexibilizado.
“Tivemos que reaprender a didática do trabalho
e também os alunos”. Como destaca, na universidade há acadêmicos sem
acesso ao ensino a distância, em condições ideais para participação do ensino
remoto, da forma que foi adotado com aulas, em tempo real com presença do docente e outras gravadas. Apesar
do empenho dos professores, segundo ele ocorreram limitações para o aprendizado
de diferentes formas.
Entre as
principais dificuldades apontadas pelo professor está a busca de uma didática que
fosse mais bem apropriada para o ensino remoto e a interação com os alunos.
Em momentos das aulas os alunos ficavam muito silenciados, gerando dúvida sobre
a interação com o conteúdo apresentado. Como afirma, a busca foi de tirar o
máximo da tecnologia da informação, “construir uma didática mesmo com as
limitações impostas desse modelo remoto”.
Com a decisão
do Consepe, de aulas somente flexibilizadas, a grande expectativa é a de que a
partir do segundo semestre de 2021 nas universidades seja possível a oferta de
disciplinas com atividades em laboratório, presenciais. Segundo o
professor “é fundamental dar continuidade a esse aprendizado”, avaliando que as
atividades práticas neste formato são as mais prejudicadas.
O estudante do
curso de matemática Cássio Soares avalia que o ano de 2020 foi um ano perdido
para alguns alunos da graduação, que não tiveram condições de acompanhar o
ensino remoto devido à falta de acesso à internet. Suas expectativas são de
voltar às aulas presenciais, de ter contato com os professores e colegas de
sala em breve.
A estudante de
geografia e vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Luana
Galdino, avalia, por sua vez, que não foi um ano perdido, “foi conduzido e
pensado de uma maneira nova para a sociedade como um todo. Vale destacar que
muito se foi feito nesse período de distanciamento”. A sua expectativa
para 2021 é de concluir todas as disciplinas e colar grau na graduação.
A estudante
Adelany Ribeiro, que ingressou na universidade no cenário de pandemia, afirma
que não teve que lidar com o ambiente institucional no campus, e não participou de aulas
remotas ou flexibilizadas. “Porém, houve muita expectativa e preocupação,
inicialmente, de como seria caso tivesse que iniciar o curso presencialmente ou
de outras formas alternativas num cenário de medo e incertezas”.
Ribeiro entende
que não foi um ano totalmente perdido para a educação, “uma vez que permitiu
que todos avaliassem novas possibilidades, se adaptassem à nova realidade, e
com certeza houve algo de positivo mesmo que mínimo progresso”.
Como destaca a estudante de Jornalismo, as expectativas para o ano letivo de 2021 são de que as pessoas comecem a ser imunizadas o mais rápido possível para que tudo volte ao normal.