Professores da UFMT destacam o momento difícil da educação brasileira; e os índices de evasão nas universidades preocupam



Educação 


Agência Focaia
Reportagem
Luara Romão 


A desvalorização do professor nos últimos anos vem sendo uma discussão não somente dentro das instituições de ensino, como também um assunto discutido na sociedade diante da importância da formação das pessoas para as atividades profissionais, com ascensão social e desenvolvimento da nação que depende da formação de conhecimento, inclusive para a produção industrial.

Além da falta de atenção para os prédios escolares, infraestrutura, o que pesa para a classe docente também são os salários pagos, com valores abaixo de profissionais que exigem menos qualificação e dedicação à atividade produtiva. Um professor da escola do ensino fundamental e médio, muitas vezes, precisa ocupar dois cargos em turnos diferentes, com 20 horas cada para obter renda satisfatória, em todos os municípios brasileiros.

Campus Universitário do Araguaia (CUA), unidade de Barra do Garças – Imagem: 
arquivo Focaia

As novas tecnologias em sala de aula se tornaram também uma discussão que divide opiniões, considerando a promoção de democracia, porém com estudantes que passam mais tempo diante da rede de computadores do que em atividades escolares ou mesmo com a família. Afinal, qual conclusão se pode chegar dos tempos da internet para a educação?

Para entender o que os professores pensam sobre a política educacional no Brasil, problemas e dificuldades encontradas no dia a dia da atividade, os reflexos da inserção das novas tecnologias em sala de aula, a Agência Focaia decidiu entrevistar alguns profissionais da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Araguaia, para compreender a realidade do ensino brasileiro.

O professor de geografia da UFMT Araguaia, Victor Santos, diz que a escolha da profissão vem da aptidão de cada pessoa. “Desde o ensino básico eu já tinha vontade de ser professor, essa vontade de ensinar, de ver alguém aprendendo alguma coisa, acho que vem muito da minha personalidade. A carreira de professor acaba condizendo com isso, de você ensinar alguém, transformar alguém, eu vejo a carreira como professor muito de transformação”.

Para a professora de química da universidade mato-grossense, Graziele Borges, há 10 anos na docência, diz que cursou o bacharelado e licenciatura, mas optou pela sala de aula. “O meu foco era bacharelado até iniciar as disciplinas de licenciatura, o que só acontecia mais para o final do curso. Quando iniciei as disciplinas da área de licenciatura percebi que eu queria era dar aula, me identifiquei muito”.

No entanto, como destaca o professor de Geografia a realidade nem sempre acompanha o prazer da atividade. “Deixa-me muito triste de estar pegando uma época como essa, numa época da não valorização, e outro movimento que a gente vê é o da privatização da educação”, fazendo referência a política do governo de implantação do projeto Future-se, que tem como objetivo aproximar a educação pública da iniciativa privada.

Nesta política o governo se exime de investimento na formação inicial, na formação continuada dos professores. Segundo ele “são momentos obscuros que a educação vive que a ciência vive e são movimentos da história que infelizmente fazem parte, a gente tem que analisar um verdadeiro pêndulo, de vezes retrocessos, de vezes ganhos dentro desse processo não só da educação”.

Graziele Borges lamenta a situação por que passa a área da educação, como afirma não está nada animadora, a semelhança do descaso com o serviço público, apesar da arrecadação significativa de impostos pelo governo e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que diz respeito a produção de bens e serviços do país durante um ano.

Ela ressalta como a cada ano há um aumento de cortes desses recursos, ou seja, os docentes estão trabalhando sobre condições muitos ruins de investimentos.

O PIB brasileiro de acordo com o jornal folha de S. Paulo “o acumulado dos últimos 12 meses encerrados em junho mostra crescimento de 1%". Com projeções de alta para o segundo e terceiro semestre de 2019, se comparado com períodos anteriores. No ano passado o PIB do país totalizou 6,8 trilhões de Reais.

De acordo com matéria publicada pelo o site Uol, “o investimento em educação no Brasil caiu 56% nos últimos quatro anos. Entre 2014 e 2018, diminuiu de R$ 11,3 bilhões para R$ 4,9 bilhões. A projeção da Lei Orçamentária deste ano é que o valor seja ainda menor e fique em R$ 4,2 bilhões”. Para este ano, na região do Araguaia, professores e estudantes promoveram manifestações, contra cortes de gastos na pasta de 30% pelo governo federal, que depois voltou atrás .

A professora da UFMT acrescenta que "o mesmo acontece no cenário da pesquisa. Lembrando que o professor de uma universidade pública, além de lecionar, realiza pesquisas [a maior parte das pesquisas do Brasil são produzidas nas universidades públicas], trabalha com a comunidade através de projetos de extensão e ainda realiza cargos administrativos, comissões, bancas, pós-graduação”.

Biblioteca do campus de Barra do Garças – Arquivo Focaia

Diante da crise brasileira anunciada pelo governo federal, que se estende para estados e municípios, a professora destaca que ela e muitos colegas precisam investir dinheiro próprio para a realização de pesquisas para atingir objetivos acadêmicos. Ainda assim, relata, nos últimos meses, em especial, a imagem de professores universitários tem sido atacada.

Ao contrário do informado à população por fontes do governo, de que os salários para os docentes são altos, que onera os cofres do governo, Borges diz que "ser uma professora universitária com dedicação exclusiva de 40 horas significa em outros termos, abrir mão de ter qualquer outro negócio, emprego. Ou seja, é abrir mão de ser uma pessoa rica."

Desde 2013 o plano de carreira tem sofrido muitas perdas, ou seja, os novos professores estão perdendo direitos conquistados. "Não é um cenário bom para educação. A eminência de uma privatização me deixa preocupada, especialmente, porque para se ter a adesão da população leiga, é necessário atacar a imagem e o funcionamento das universidades e é o que temos visto”, declara a professora da UFMT Araguaia.

Educação e tecnologia

Por outro lado, nos últimos anos a tecnologia vem abrangendo um grande espaço em todos os aspectos e na educação não é diferente. Atualmente a internet é um meio bastante utilizado para facilitar à vida dos estudantes, também tornar mais prática as aulas ministradas pelos professores.

No ensino superior e demais níveis escolares a internet vem ganhando cada vez mais espaço e atenção pelo seu papel fundamental de facilitar o acesso dos estudantes a materiais. Segundo Borges "não tenho problemas com o uso das tecnologias em sala de aula, como por exemplo, o uso de celulares. Acho muito interessante o uso de grupos de WhatsApp das disciplinas. Aproxima o professor dos alunos, às vezes disponibilizo artigos no grupo e na sala os alunos leem os artigos no celular".

Como analisa, a rede de computadores promove a democracia do conhecimento, e deveria ser oportunizada a todos, sabendo apenas compreender onde pesquisar e saber diferenciar os conhecimentos relevantes.

"Mas, com relação ao acesso à produção do conhecimento científico eu acho muito mais acessível. Em termos culturais a internet também oferece muitas oportunidades".

Santos tem visão diferente, como observa a tecnologia é positiva na sala de aula, permitindo integração ao conhecimentos nas escolas e espaços escolares. Porém adverte, “é claro que como é uma coisa muito recente no comportamento humano ainda não sabemos lidar com essas tecnologias, nós ainda não temos uma educação tecnológica”.

Evasão universitária

O Ministério da Educação divulgou em outubro a quantidade de evasão de estudantes do ensino público universitário no passado, quando 15% de estudantes deixaram de retornar aos cursos depois da matrícula, considerando, de acordo com o site “Poder 360” melhor desempenho dos últimos 5 anos.

No entanto, os índices fora da média devem assustar os educadores. conforme o site “O cálculo do MEC leva em conta os matriculados em 2018 em comparação com os de 2017". No Sul, a UNIPAMPA (Universidade Federal dos Pampas) no ranqueamento chega a 34,9% de desistência de estudantes ao longo do ano, em 1º lugar.  

No Centro-oeste, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), ganha destaque ao aparecer com 21,1% de evasão, em 13º lugar. A  Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), logo na sequência tem 20,9% de estudantes que não retornaram à sala de aula em 2018, em 14º. Já a  Universidade de Brasília (UnB) assume a posição de 30º lugar, com evasão 16,3% e Universidade Federal de Goiás (UFG) três pontos acima, com 15,8% de evasão, está no 33º lugar. Ambas atingem posições intermediárias, mas também nada confortáveis, conforme censo universitário.

No geral os cursos de matemática chegam à 61,7% de evasão, no topo da lista seguido pelo Filosofia e Ciências Sociais, com 50% e 45,1% respectivamente. 

O curso de Geografia do professor Victor Santos aparece em 8ª posição, com maior índice de 28,2% de evasão e a Química em 11ª, com 25% de estudantes que deixaram o curso no período de um ano, da pesquisadora e professora Graziele Borges.