Comportamento
Agência Focaia
Reportagem
Trycia Silva
A gravidez durante a passagem pela universidade
ainda na graduação, uma questão pouco discutida pelos universitários, mas que
acaba ocorrendo por vezes, de maneira involuntária com algumas jovens
estudantes. Mesmo sem dados disponibilizados pela instituição pública,
comprovando o número das mamães que conciliam sala de aula e gravidez, o FOCAIA
entrevistou estudantes e egressas de seus respectivos cursos acadêmicos da UFMT
Araguaia, as quais conviveram com esta realidade.
A estudante entrou
para a turma de Biomedicina, na UFMT, CUA em 2011, e desistiu do curso no
segundo semestre por conta da gravidez inesperada. Katiely Souza
afirma que no começo a gestação não atrapalhou seu rendimento acadêmico,
mas precisou deixar a sala de aula. Souza enfatiza que até já pensou em
retornar as atividades na universidade, contudo não conseguiu conciliar
trabalho e estudos.
Apesar de Souza
ter largado os estudos por conta de sua gravidez, ela acha que é possível
conciliar maternidade e graduação sem que um atrapalhe o outro. "Eu sempre
vi outras mães estudantes e inclusive tenho duas colegas que engravidou. Elas
são da mesma turma que eu, e se formaram. Acho que tem a ver com força de
vontade", observa.
Kenia Tays Saraiva
é da turma de 2010 de Farmácia, na UFMT, Campus Araguaia, e concluiu o curso em
2016. Ela engravidou quando estava no 4°ano, com 23 anos, e já havia concluído
o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Como reconhece, sua gravidez não
interferiu na questão acadêmica, pois foi uma gestação tranquila e quando
estava perto de concluir o curso.
Saraiva engravidou
no início de 2015 e acabou se deparando, no começo de março, com uma greve que
durou 5 meses na UFMT. Com o retorno das atividades na universidade, ela já
estava no estágio final da gravidez. "Estava fazendo estágio e uma outra
matéria, não tive dificuldade porque minha gestação foi muito tranquila",
menciona.
Para ela existe
uma forma de adequar estudos e maternidade. "Contudo querendo ou não
compromete os estudos, ainda mais no caso do curso integral, porque o bebê
requer tempo e atenção", analisa.
Ela diz para
outras jovens que passam pela mesma situação para não desistirem do curso. E
comenta sobre a importância dos amigos na sala. "Eles ajudam bastante,
passando o conteúdo e estudando junto para as provas", conclui.
Nem sempre é fácil
Bianca Santos
atualmente estudante de Jornalismo na UFMT, CUA afirma que houve dificuldades
para conciliar gestação e aulas por causa dos enjoos frequentes no início da
gravidez, que ocorreu quando cursava o quarto semestre do curso, em 2017.
Ela conta que não
desistiu do curso e tem projetos de vida que quer atingir, agora com mais
determinação do que antes, pensando no filho. "Quero dar um futuro melhor
para ele e com estudos tudo melhora", declara.
Para Santos sua
maior dificuldade para conciliar gravidez e sala de aula é estudar, pois não
tem muito tempo para tantas atividades passadas pelos professores, além
das rotinas de provas e trabalhos em grupo com os colegas, além de muitas
leituras que exige esforço. "A maternidade durante a graduação é
complicada. Sempre um vai atrapalhar o outro", afirma.
A experiência da
gravidez na universidade faz parte também da vida dos docentes, como é o caso
de Patrícia Kolling, professora do curso de jornalismo na UFMT, Campus
Araguaia. Como avalia, trabalhou somente até o quarto mês de gestação, depois
se afastou até o bebê nascer. Usufruiu de licença a maternidade por seis meses
e depois emendou as férias, que veio logo na sequência ao término do benefício.
Passado este período, Kolling voltou a trabalhar somente quando sua
filha tinha quase oito meses.
Direitos da
gestante
A estudante
grávida tem o direito ao afastamento durante sua gestação, que é a atividade
domiciliar, quando a estudante realiza atividades acadêmicas em casa, sem perda
do semestre letivo. Por intermédio de um colega seu representante tem contato
com material ministrado pelo professor em sala de aula, necessário para obter
condições para participar das avaliações.
Kolling entende
que esse direito da estudante é imprescindível para a futura mamãe.
Considerando sua experiência, enfatiza que em alguns momentos valeria mais a
pena trancar algumas disciplinas, parar um semestre, para se dedicar ao bebê.
Pensando no aproveitamento que ela terá nos estudos depois, em condições para
se dedicar aos estudos. Principalmente em disciplinas práticas, avalia a
professora, quando exige mais esforço físico para sua realização, como fazer
reportagens, ficar muitas horas em um laboratório.
“Eu acho que isso
é uma dificuldade para a estudante. Pela experiência que eu tive dos primeiros
meses com o bebê. É difícil conseguir conciliar o trabalho intelectual e cuidar
de uma criança, principalmente se a estudante não tem alguém que a auxilie”,
analisa.
A professora
aconselha, “Quem quer realmente o curso deve continuar, nem que faça menos
disciplinas, que demore mais a se formar”, declara.
Kolling comenta
que as universidades deveriam ter um berçário ou uma creche, um
espaço que deve ser reivindicado pelos estudantes nas políticas da instituição.
Algo que pode ser começado a trabalhar no campus para estruturar. Como observa,
isso porque, as tradicionais creches não recebem crianças no período noturno,
e, muitas vezes, é neste horário que as estudantes grávidas estão em sala de
aula para alguns cursos universitários na UFMT Araguaia.
“A instituição
deveria oferecer um suporte para cuidar dessas crianças. Oferecer uma creche
inclusive no período noturno para que as mães pudessem deixar os seus bebês.
Como a universidade não tem esse suporte a estudante acaba tendo que levar a
criança para a sala de aula”, avalia.
A professora
acrescenta ainda que “a turma e o professor acolhe e auxilia, mas é difícil se
dedicar a uma aula e a um bebê ao mesmo tempo sem perder um pouquinho, nesse
sentido, de aprendizado. É diferente você estar ali só prestando atenção na
aula e estar cuidando de um bebê”, destaca.
Kolling acrescenta
que a gravidez não é uma dificuldade, pois se ela é normal a mãe consegue
frequentar as aulas normalmente. O que dificulta é depois que o bebê nasce,
quando ele exige tempo e muita dedicação.