Cultura
Agência Focaia
Reportagem
Jessé Santos
O coletivo CorAge surgiu em novembro
de 2015, na UFMT, Campus Araguaia, pela vontade dos estudantes em conversar
sobre temas relacionados à negritude, como a baixo percentual de negros nas
universidades; a baixa representatividade dos negros na sociedade e o genocídio
da população negra no Brasil. O grupo, que ainda está em desenvolvimento,
começou suas atividades com seis membros e hoje conta com cerca de 25 pessoas.
Fotos: arquivo do coletivo CorAge.
Palestra ministrada por Leandro Nery,
apoiador do CorAge,
na Escola Estadual Heronides Araújo.
Ao longo do ano, o CorAge
realizou intervenções artísticas e rodas de conversa em escolas do município de
Barra do Garças, além de reuniões na UFMT, onde os membros trocavam
experiências e discutiam sobre temas de interesse da população negra. O
militante negro e estudante de Biomedicina pela UFMT, Dener Araújo, explica que
o coletivo surgiu com o objetivo de proporcionar liberdade aos estudantes
negros de se reconhecerem como tal: “A maioria das pessoas que estão no
coletivo começaram agora a se identificar como negras”, afirma o
acadêmico.
Araújo também conta que o
processo de desconstrução e conscientização na universidade, assim como na
sociedade como um todo, é muito difícil, pois “numa sociedade racista, não é
fácil encontrar lugar para falar sobre racismo sem ser taxado de vitimista”,
disse o militante.
Membros do CorAge na apresentação do
coletivo durante a
Semana do Calouro 2016, na UFMT.
A abertura do espaço para o
debate sobre desigualdade racial atraiu, aos poucos, mais estudantes e o
movimento começou a ganhar força. A curiosidade e a vontade de descobrir a
negritude estimulou a expansão do coletivo e deu visibilidade para a luta contra
o racismo camuflado na sociedade. “Sempre fui curiosa, mas uma série de coisas
me fez querer estar mais por dentro dessas discussões sociais”, disse a
militante negra e acadêmica do curso de Direito, Juliana Morais.
A estudante ainda menciona a importância
de contextualizar o debate na realidade de Barra do Garças, considerando que o
combate à desigualdade racial possui características próprias na cidade: “aqui
na barra eu não conseguia visualizar, por exemplo, as peculiaridades
do racismo”, explicou Morais.
Consciência Negra
Com o objetivo de despertar a
reflexão sobre o genocídio da população negra no Brasil, os universitários da
UFMT, Campus Araguaia, membros do coletivo CorAge, promoveram no último dia 18,
uma intervenção artística na entrada do restaurante da universidade; remontando
uma cena de crime com faixas de contenção, desenhos com contornos do corpo
humano no chão e cartazes de protestos contra as mortes dos negros brasileiros.
Membro do coletivo CorAge, Dener Araújo,
durante intervenção artística na
semana da Consciência Negra.
Os alunos se mobilizaram na data
pela proximidade do Dia da Consciência Negra, no dia 20 de novembro, que este
ano ocorreu em um domingo. O ato teve origem na necessidade do coletivo em
fomentar o debate sobre racismo estrutural e genocídio da população negra no
Brasil, retratados na intervenção como um crime social. Além disso, a
intervenção artística contou com a gravação de um vídeo, onde os estudantes
negros relatam suas histórias e compartilham experiências sobre militância,
racismo e ativismo dentro da universidade.
Desigualdade Racial
Cerca de 53% da população
brasileira é negra, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
(IBGE), pois são considerados como negras as pessoas que se identificam como
pretas ou pardas. As estimativas do IBGE apontam, no entanto, que para cada
pessoa branca analfabeta no país, existem quatro negros analfabetos e do total
de pessoas em extrema pobreza no Brasil, 76% são negras.
Segundo o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA), para cada 10 pessoas mortas em operações policiais
no Brasil, sete são negras. Os dados do relatório final da CPI “assassinato de
jovens” apontam, também, que a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no
Brasil e a população carcerária brasileira é composta aproximadamente por 75%
de negros. Além disso, a maioria da população negra não possui acesso à
internet e à determinados eletrodomésticos e aparelhos eletrônicos, como
máquina de lavar ou micro-ondas.
Os negros também são maioria no
quesito de dependência exclusiva do Sistema Único de Saúde (SUS) e ocupam o topo
do ranking de mortes no país, de acordo com o relatório de discriminação racial
feito pela Organização das Naçoes Unidas (ONU), em 2014.