Codex Seraphinianus, o livro que ninguém pode ler (mas você pode tentar)


por Laila Razzo
O livro foi publicado, você pode adquiri-lo, não é um segredo da biblioteca do Vaticano e não é o Manuscrito Voynich, e não, também não dá pra ler, mas não há qualquer impedimento em tentar entendê-lo. Não precisa ser nenhum criptógrafo pra tirar algum leite dessa pedra, prometo.
 Escrito em um alfabeto inventado de uma língua que não existe, o Codex Seraphinianus nos dá mais que isso: quase 400 páginas com ilustrações de fazer o olho ser arremessado do buraco ocular e, sinceramente, surgir uma ruguinha de riso no canto da boca. Trata-se de um livro de estrutura enciclopédica sobre um mundo imaginário, repleto de esquisitices, elaborado por Luigi Serafini (1949), designer, arquiteto e artista italiano.
 Dividido em onze capítulos, Codex Seraphinianus detalha, em desenhos feitos à mão com lápis de (muitas) cor(es), as características de seres surreais, a natureza e os objetos (ou bugingangas) que os circundam. História, biologia, sexualidade, vestimenta, arquitetura, maquinários e, inclusive, o que se pode concluir como aspectos químicos e físicos das coisas, são demonstrados com peculiar exatidão de material científico, em uma estética que remete a Hieronymus Bosch e um pouco do absurdo dadaísta.
 A enciclopédia foi desenvolvida ao longo de trinta meses, entre os anos de 1976 e 1978, sendo publicada pela primeira vez em 1981. Luigi Serafini passou décadas em silêncio a respeito do conteúdo indecifrável, e por décadas linguistas tentaram sem sucesso. Apenas o sistema de numeração das páginas foi decodificado como de base 21. Se o nosso é decimal (0123456789), o dele seria um sistema vigésimo-unário, e nesta palavra antes da vírgula neologizei, pois o sistema numérico de base 21 não parece ter sido utilizado antes de Serafini por qualquer cultura. Nada mais coerente então. Mais.