Durante a COP30 em Belém lideranças indígenas se reúnem na ‘Cúpula dos povos’ para discussões de temas sensíveis às comunidades

Meio Ambiente

Francisco Lucidio 

 

O Brasil sediará a partir da próxima semana, durante 22 dias, da 30ª Conferência das nações unidas sobre mudanças do clima ou conferência das partes (COP30). O evento que nesta edição ocorre em Belém (PA), com início nesta segunda (10) e encerramento no dia 21 deste mês, reúne anualmente líderes mundiais, cientistas, ONGs e representantes da sociedade civil, para discutir meios de combater as mudanças climáticas.  


No entanto, entre hoje (6) e amanhã (7) é realizado na cidade paraense o encontro internacional com participação de chefes de Estado e de Governo, ministros e dirigentes de organizações internacionais para discutir os principais desafios e compromissos no enfrentamento da mudança do clima.  


 

Cidade de Belém (PA) sede da COP3 com participação de lideranças mundiais que participam da conferência sobre o clima. A primeira edição realizada na região amazônica - imagem Rafa Neddermeyer/COP30 Amazônia/PR.


 

Paralelamente à COP da ONU ocorre também a cúpula dos povos, que busca maior protagonismo das comunidades indígenas, quilombolas e da sociedade civil para garantir os melhores resultados para crise climática e ambiental, além do que é discutido na reunião oficial das nações unidas.

 

No Brasil é a primeira edição que ocorre na região da floresta amazônica, com previsão para haver a maior participação indígena da história das COPs. De acordo com a ministra dos povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara, para o site da COP30 cerca de três mil membros de povos originários de todo mundo devem estar presentes nos debates, abordando discussões como proteção de florestas tropicais, financiamento climático e demarcação de terras.

 

Cúpula dos povos

 

A primeira cúpula dos povos ocorre durante a edição da COP de 2012 no Rio de Janeiro, a Rio+20 e se consolida em 2023 durante a edição nos Emirados Árabes em Dubai, quando o presidente Lula recebeu da delegação brasileira a carta da construção da cúpula dos povos.

 

Segundo Árae Cupim, integrante da comissão política da cúpula, em entrevista para o site Radis, a cúpula “é sim um espaço de resistência, mas também de proposições. Uma resposta à exclusão sistemática das populações mais afetadas pelas mudanças climáticas.”

 

Como destaca, a Cúpula dos povos se torna estratégica com vistas às discussões sobre o meio ambiente, diante do fato de que as negociações em âmbito geral devem estar mais voltadas para “viabilizar o mercado de carbono do que em escutar os verdadeiros afetados pela crise climática”

 

O povo Xavante, grupo originário da região centro-oeste do Brasil, principalmente o Estado do Mato Grosso, também estará presente no Evento.

 

O assessor do presidente do Condisi Xavante (Conselho Distrital de Saúde Indígena) e estudante da UFMT Araguaia, Lucio Xavante, avalia que a COP30 será uma oportunidade de falar sobre o território indígena brasileiro. “Mesmo o território indígena sendo ameaçado, a gente continua nessa luta para proteção da nossa floresta,” afirma.

 

A participação indígena do estado de Mato Grosso na conferência, como explica Lucio é organizada com as bases políticas da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e a Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (FEPOIMT). De acordo com ele estarão presentes 25 representantes do povo Xavante. 

 

Questões indígenas

 

Entre os temas a serem abordados pela comunidade Xavante na Cúpula está a construção da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO). Um projeto realizado em parceria entre a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) com a China, que deverá se tornar parte de um corredor bioceânico. O projeto tem o objetivo de criar uma rota para escoar a produção agrícola e mineral do Brasil, conectando os oceanos Atlântico e Pacífico.

 

De acordo com Lucio “o FICO vai cortar um território Xavante, entre o Município de Água Boa, Canarana e Nova Nazaré. A preocupação da comunidade indígena é que a obra resultar em forte impacto na região, “porque ali ainda tem a riqueza da flora e fauna.”

 

Outro tema de importância é o de demarcação de terras, em especial a considerada “aldeia mãe” do povo Xavante, Sõrepré, localizada cerca de 15 quilômetros ao norte do limite da Terra Indígena Pimentel Barbosa, na região nordeste de Mato Grosso, próximo à Serra do Roncador, local de importância histórica e simbólica que é alvo de disputas entre comunidade indígena e fazendeiros.

 

Quanto as expectativas para a COP30 e a cúpula Lúcio avalia que a participação xavante será um marco histórico. “A expectativa é que os líderes mundiais irão conseguir ver que realmente o povo Xavante está nesse perigo de ameaça no seu território, e, não só território, mas envolve a saúde. O agronegócio está usando o agrotóxico mais potente [o que resulta para as comunidades em] um risco de vida”.

 

A Cúpula dos povos, realizado em paralelo com a COP30, que ocorre em Belém na próxima semana, objetiva permitir às populações indígenas discussão de temas ambientais com impacto nas comunidades – imagem reprodução.