Depois da repercussão do novo visual, Talles Magno fala sobre a sua representação na comunidade negra do futebol

Esporte 


Vitor Fernandes

Raissa Ali  

 

Os cabelos trançados do atleta Talles Magno do Sport Clube Corinthians Paulista repercutiram nas mídias digitais. Ele apareceu pela primeira vez com o novo visual em um jogo da série A do campeonato brasileiro, quando o seu time jogou contra o Internacional.

 

O estilo dos cabelos masculinos trançados tem se fortalecido nos últimos anos graças a personalidades de influência internacionais, como o rapper Travis Scott. Recentemente no Brasil mais figuras públicas têm aderido ao visual, geralmente ligado a cultura do rap, trap e funk brasileiro.

 


Talles Magno usa tranças no jogo entre Corinthians e Internacional na 7ª rodada do 

campeonato brasileiro - imagem C2 Sports.



Jessy Albuquerque, trancista há mais de três anos em Barra do Garças (MT), constata que houve aumento da procura por tranças masculinas nos últimos dois anos. Segundo ela, a procura está ligada a um processo de valorização do estilo e que “aumentou muito por conta disso, pela beleza realmente ser vista”.

 

A relação dos cabelos dos jogadores negros vem sendo repercutido entre os torcedores e amadores do esporte, onde é possível enxergar demonstração de carinho e de identificação através das redes sociais. 

 

André Martinhão, estudante de Educação Física na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), torcedor do time alvinegro paulista, diz se inspirar em atletas do seu time do coração para aceitar e se enxergar na cultura capilar da comunidade negra. 

 

“Enxergar nos outros lugares essa oportunidade, essa visão de o cara assumir o cabelo dele, da hora, vou fazer também. Acho que o futebol mostra essa abertura, essa oportunidade de valorizar as suas características” 

 

Entrevista - Talles Magno fala sobre o novo estilo e a sua condição de representação da negritude no esporte

 

Agência Focaia conversou com o atacante do Corinthians, Talles Magno Bacelar Martins por meio das redes sociais. O atleta falou da sua experiência enquanto um jogador negro no futebol nacional, e da sua visão enquanto influenciador para a nova geração.  

 

Qual a sua relação com os cabelos afros, ressaltando as tranças, e desde quando faz?

 

Eu faço as tranças já há bastante tempo. Eu amo coisas de moda, estilos, sempre tive cabelo grande. E querendo ou não, às vezes você quer dar uma mudada, e eu não vou cortar, eu não cortaria o meu cabelo pra mudar. Então, acho que as tranças é algo que se aproxima mais do meu gosto pessoal. Eu me sinto mais estiloso, com algumas roupas, e consigo dar uma mudada.

 

Eu faço trança desde 2022. E eu só costumava fazer em férias, porque eu não gosto de aparecer de trança na televisão, no treino ou em jogos. A primeira vez que eu joguei de trança na minha vida foi agora. Eu acho que é porque eu sou bem focado, preciso pensar somente no futebol, e às vezes quando eu estou de trança eu acho que eu trago uma pressão a mais pra mim. Mas eu me sinto muito bem. Resumindo, eu acho que a minha relação com as tranças é para ficar mais estiloso e dar uma mudada.

 

Quanto as tranças e os diversos estilos de cabelo afro, como por exemplo os Black Power, o representa enquanto jogador negro no futebol?

 

Representa muito, com certeza. Hoje muitas pessoas que sofrem racismo podem olhar para mim como um jogador profissional de nome, que graças a Deus eu criei um nome no mundo do futebol. Olhar para mim e ter uma referência de cabelo, de cor, de estilos afro-americanos. Então eu acho que as pessoas da minha cor e as pessoas que estão crescendo hoje no mundo do futebol, começando agora, que se envergonham da sua própria cor, eu estou aqui para ser uma pessoa que influencia e luta pelas nossas cores, dizendo que nós somos diferentes.

 

Se sentiu alguma vez discriminado por utilizar as tranças no seu local de trabalho?

 

Eu nunca me senti discriminado no local de trabalho pelas tranças, eu sempre tive a personalidade de usar, e ultimamente, bastante gente está elogiando minhas tranças, estão falando que estão ficando bem legais, que é para eu fazer mais vezes.

 

Mas, já sim, já brincaram comigo, mas eles sabem que de estilo, roupa, e ser diferente no estilo, é comigo mesmo. Aonde eu chego, eu sou diferente. Então, eu acho que com estilo, com roupa, muitos jogadores no meu local de trabalho ou no meu dia a dia me elogiam, dizem que eu sou o melhor do time nesse quesito. Eu gosto de variar os estilos, é algo que faz parte da minha personalidade.

 

Além de ser uma forma que eu vejo também de continuar incentivando muitas pessoas a serem diferentes, porque muita gente se inspira na gente e elogia a nossa forma de cabelo, nossa forma de se arrumar, as tranças. Ultimamente está sendo bem legal usar trança, porque tem bastante gente elogiando, bastante gente curtindo, mas nunca irei ultrapassar o futebol, isso nunca vai me atrapalhar.

 

Você acha que figuras como você ou o Memphis, tem influenciado a escolha de novas formas de usar o cabelo afro dentro do mundo do esporte?

 

Com certeza, acho que o Memphis tem muito mais influência que eu, por ele ser quem ele é. E além dele ter essa influência, ele tem muita influência dentro de campo. Eu mudo muito o meu estilo, eu me arrumo muito bem, gosto de estar muito estiloso, diferente e com o Memphis não é muito diferente. 

 

Ele usa faixa, muda cabelo, usa munhequeira no braço, tem tatuagens leva o estilo dele fora de campo para dentro de campo. Eu já sou mais fora de campo, gosto de me arrumar se eu tiver que ir à esquina, na igreja, e até para ficar em casa. E com certeza o Memphis e eu somos muito influencers no estilo.