Entrevista - Orquestra Sinfônica da UFMT completa 45 anos e o seu maestro 27 na regência, com apresentações pelo estado

Música

Maria Eduarda Bonfim 

 

A Orquestra da Universidade Federal de Mato Grosso é um patrimônio histórico do Estado, com projeto desenvolvido nas gestões dos reitores Gabriel Novis Neves e Benedito Pedro Dorileo, que vai construindo sua história do Estado, como participações em eventos importantes de Mato Grosso. Atividade que tem também o objetivo de permitir o conhecimento da população sobre a música clássica brasileira, no incentivo e formação para a musicalidade. 


A Orquestra completou em setembro 45 anos de existência, com apresentação de concertos em praça pública, possibilitando a população o contato com o universo da música clássica, mas também das melodias populares regionais e nacionais. Por vezes, o repertório se estende para trilhas sonoras de filmes clássicos internacionais, como é o caso do projeto "Trilhas de Cinema".


Ao longo desses anos a Orquestra Sinfônica realizou concertos no Teatro Universitário, da própria UFMT na capital, além de estar percorrendo o Estado com apresentações em várias cidades, por vezes com participação de reconhecidos nomes da música brasileira. 


Em setembro, a Orquestra da UFMT esteve na Barra do Garças em evento realizado pela prefeitura, na abertura das festividades do aniversário do município. Nesta oportunidade, a Agência de Jornalismo Focaia conversou com o maestro Fabricio Carvalho, com o objetivo de compreender os 45 anos de trajetória da Orquesta e conhecer a atividade do maestro que está à frente do grupo há 27 anos. 



Fabricio de Carvalho em apresentação da Orquestra Sinfônica da UFMT - imagem Rede 

Social/Reprodução.



Como você escolhe o repertório para uma temporada ou para um concerto específico?

 

A curadoria do repertório para uma temporada ou um concerto específico é uma arte que equilibra gosto pessoal, demandas do público e tendências atuais. Para o espetáculo “Trilhas de Cinema” na apresentação em Barra do Garças em setembro deste ano, por exemplo, combinamos minhas preferências, o que o público gosta e os pedidos que recebemos nas redes sociais. Este espetáculo, que é renovado anualmente, mantém clássicos como "ET" e adiciona novidades para surpreender a plateia.

 

Como você interpreta e traz sua visão pessoal para uma peça já muito conhecida do repertório clássico?

A interpretação de uma peça clássica não é estática; ela evolui com o tempo e a experiência. A interpretação é um processo contínuo de amadurecimento musical e pessoal espetáculo. Todo maestro deve reavaliar sua interpretação conforme sua maturidade musical, a interpretação deve refletir a evolução do artista.


Qual é a importância da comunicação não-verbal entre o maestro e os músicos durante uma performance?


A comunicação entre o maestro e os músicos vai além das palavras, sendo predominantemente não-verbal. É um diálogo emotivo, que pode ser percebido através da postura, do olhar e da intensidade da batuta, a compreensão mútua e a experiência são fundamentais.

 

Sobre a relação com o público, você sente que há maior receptividade quando o público, principalmente, quando estão assistindo a apresentação da orquestra pela primeira vez?

 

Todos são receptivos, mas o impacto é maior para aqueles que assistem pela primeira vez; cada concerto é uma oportunidade para renovar o público e as expectativas.


Como você avalia o futuro da música clássica e das orquestras sinfônicas? Quais são os desafios e oportunidades?


As orquestras, assim como todo o âmbito e o aspecto artístico, estão se renovando. Com advento das redes sociais, a gente precisa utilizar isso ao nosso favor, precisamos tocar um repertório pra qual a gente foi pensado, é preciso tocar coisas alternativas também. Eu sou muito desse ponto de vista, acho que uma orquestra pública da universidade, ela tem que tocar música boa. Precisa também estar em eterna evolução, conectada com o que o público precisa e necessita ouvir, não abrindo mão das suas convicções de formação, Bach, Beethoven, Mozart, Brahms, mas tocar coisas de qualidade que possam trazer um público novo.


Como a orquestra está ligada a uma universidade, portanto, está ligada à educação, o trabalho também visa a formação de novas gerações de maestros e músicos?


UFMT deve ser sempre um espaço de pesquisa, inovação e entregar os resultados para a comunidade. Meus pais me incentivaram, eu venho de uma casa que consumia muita cultura. Meu pai era engenheiro, trabalhava muito, mas também tocava violão, cantava. Minha mãe era professora da rede pública, mas trabalhava com artes manuais, sempre tive contato com muita leitura, muitos livros, muitos gibis, muitos instrumentos em casa. Orquestra Sinfônica UFMT é uma grande realização na minha vida, é uma das grandes paixões que eu tenho. “Olha, eu vejo que a docência, o ensino, é um legado de amor. Ninguém faz um trabalho de ensinar o outro, ou pelo menos de mostrar o caminho, se não tiver muito amor pela causa. Um concerto quando eu converso com o público, quando eu falo um pouquinho sobre o repertório, eu tô fazendo uma conversa fluida, com intuito de ensinar, tem que ser uma aula, então assim, muito amor no coração, muito conhecimento do que tá falando, não inventar moda e conversar com muita sinceridade, porque faz parte da vida, certamente algumas pessoas vão sair daqui hoje muito melhores do que vieram, porque tiveram a chance e a possibilidade de conhecer um pouco mais sobre história da música, sobre história do compositor, a história do filme, a história da cidade, a história da universidade, uma noite como essa [ se referindo à apresentação em Barra do Garças] é muito especial, não só em termos artísticos, mas em termos de humanidade também. 

 

Como anunciou o seu afastamento da Orquestra Sinfônica para os próximos quatros anos devido a realização de doutorado, nesta trajetória artística musical, como gostaria que fosse lembrado no futuro? Qual legado você deseja deixar para a música clássica?


Olha eu sempre fiz as coisas com muita dedicação e eu não digo nem que eu tenha um emprego, eu tenho um trabalho que me faz um homem muito feliz, muito realizado. Não espero deixar nenhum legado, espero deixar um bom exemplo de quem se dedicou muito pela Orquestra Sinfônica, pela cultura do estado e pela Universidade Federal, pela cidade de Barra do Garças, sempre que eu puder vir aqui, virei. Tenho grandes amigos aqui, acho uma cidade progressista, importante em Mato Grosso. Então mais que um legado eu quero deixar um bom exemplo, acho que eu sou um bom músico e um bom cidadão que trabalha naquilo que gosta, naquilo que ama, naquilo que faz bem. Então que seja um bom exemplo para todo mundo possa se inspirar.