Entrevista - Assédio continua um problema persistente nos Campi universitários e preocupa a comunidade acadêmica
Violência
Jhenniffer Muniz
As universidades brasileiras despertaram atenção para o assédio sexual e moral por ter se tornado uma realidade que se apresenta silenciosa, afetando estudantes, professores e servidores técnicos. Criando um ambiente de medo e constrangimento que podem comprometer a saúde mental e o desempenho acadêmico dos envolvidos.
Por esta razão, nos últimos anos, algumas universidades têm implementado políticas mais rígidas e programas de conscientização para combater o assédio nos Campi universitários. A criação de comissões de ética, canais de denúncia anônima e campanhas de sensibilização são algumas das estratégias adotadas.
Na UFMT, ao longo dos últimos anos, vem sendo realizadas palestras e debates. sobre a temática. A Gerência de Capacitação e Qualificação da instituição realizou em setembro do ano passado live sobre o "Combate ao Assédio". No mês de julho passado promoveu palestra com destaque para: Assédio Moral e Sexual no ambiente acadêmico.
A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat), na sequência das atividades sobre a temática, realizou em setembro debate: "Vamos conversar? Assédio na UFMT."
A psicóloga Heloisa Lima de Carvalho, da Universidade Federal de Mato Grosso, campus Araguaia, concedeu entrevista à Agência Focaia e argumenta sobre os problemas do assédio nos espaços acadêmicos da universidade mato-grossense.
Psicóloga Heloísa Lima em entrevista avalia as consequências do "assédio" na
universidade
- imagem Claúdio Nunes/Focaia. |
Quais são as principais
barreiras que impedem os estudantes de denunciar casos de assédio e como a
universidade pode ajudar a superá-las?
Geralmente os casos de assédio
no âmbito da UFMT não são denunciados por razões multifatoriais, no caso
específico do discente é por medo, retaliação, constrangimento, principalmente
se a ofensa partir de docente. O papel da Universidade é de informar, conscientizar
e desenvolver ações de prevenção e uma cultura de respeito, capacitando os
servidores e gestores para promoção dos direitos humanos, reforçando os valores
de dignidade e igualdade entre as pessoas.
Como a universidade lida com
as denúncias de assédio? Existe um protocolo específico a ser seguido?
A Universidade tem tratado as
denúncias através dos Processos Disciplinares, onde é formada uma Comissão para
cuidar dos casos específicos, onde as partes são escutadas e, assim, punidas
com as sanções disciplinares cabíveis mediante provas documentais e testemunhas
oculares dos fatos. Ainda não existe um protocolo específico, mas as denúncias
são recebidas pela Ouvidoria/Fala.BR, como também pelo Ministério Público.
Atualmente contamos com a Comissão de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio e
Violência Sexual (CPEAVS) que está desenvolvendo ações voltadas para o
encaminhamento das denúncias recebidas, também fazendo um trabalho informativo
e educativo. É importante denunciar através da Comissão que dará todas as
informações cabíveis, os e-mails disponibilizados são: cpeavs.reitoria@ufmt.br
e naoaoassedio@ufmt.br.
Que tipo de apoio psicológico
a universidade oferece para as vítimas de assédio, e como esses serviços podem
ser acessados pelos estudantes?
Quanto ao apoio psicológico, a
Universidade não oferta psicoterapia, mas temos o Projeto de Acolhimento e
Orientação Psicológica que acolhe oferecendo a escuta empática e compreensiva,
mediante sigilo profissional. Fazemos os encaminhamentos que se fizerem
necessários, dentre eles, orientar fazer a denúncia, quando não realizada,
informando os meios e direcionando para buscar tratamento na Psicoterapia como
alternativa primordial. No caso específico de violência sexual incentivamos
procurar a Delegacia da Mulher, dando todo o suporte necessário, uma vez que a
mesma oferece o serviço de Psicologia para esses casos específicos.
De que forma a universidade
pode promover uma cultura de respeito e conscientização para prevenir o assédio
no ambiente acadêmico?
A Universidade já vem nesse processo de promover a conscientização sobre o assédio através de debates, palestras, lives informativas e rodas de conversas, inclusive promovidas pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), trazendo profissionais de outras instituições para o debate. Acredito que cabe a promoção de uma campanha que envolva o respeito para adoção de ações de enfrentamento de violência, assédio e discriminação. Objetivando reforçar a cultura de respeito na comunidade acadêmica, criar ações de sensibilização para as práticas respeitosas e protocolo de denúncia e orientação.