Política
Jhenniffer Muniz
Pâmela Santana
Embora as mulheres representem 53% do eleitorado de Barra do Garças, a última vereadora eleita foi Maria do Mercado, em 2012. Após mais de dez anos sem representação feminina, a cidade elegeu duas novas representantes para a Câmara Municipal esse ano. A partir de janeiro do ano que vem, entre os 15 vereadores eleitos estarão Bianca Freitas e Maria Silvania, ambas do MDB, com 758 e 771 votos, respectivamente.
As vereadoras conquistaram 12,8% dos votos, em uma eleição que teve 166 candidatos, com participação de 56 mulheres. Silvana é esposa e Freitas é nora do vice-prefeito reeleito Severino Souza dos Santos (MDB), que assume a prefeitura do município com Adilson Gonçalves de Macedo (UB) para os próximos quatro anos.
Bianca, de 24 anos e natural
de Vila Rica (MT), é a mais jovem mulher a ser eleita para a Câmara Municipal.
Com formação em direito, ela destaca os desafios que enfrenta devido à sua
idade, mas acredita que sua competência e dedicação foram reconhecidas pelos
eleitores.
Prédio da Câmara Municipal de Barra do Garças criada há 75 anos, cujo histórico das eleições parlamentares para a Cas é majoritariamente masculino - Imagem: Pamela
Santana. |
"Acredito que é muito
mais difícil provar competência quando se é jovem, principalmente porque
vivemos em uma sociedade em que as pessoas acreditam que idade é sinônimo de
capacidade. Apesar de ser, hoje, a mulher mais jovem eleita vereadora na história
de Barra do Garças, acredito que fui eleita porque os cidadãos barra-garcenses
viram em mim competência, coragem e vontade de trabalhar por eles,
representando-os na Câmara.” disse Freitas.
Maria Silvania, de 42 anos, é
professora e já atuou na política local. Sua experiência inclui um período na
Câmara em 2021, como suplente no legislativo municipal, mas
agora ela assume a cadeira de forma definitiva.
De acordo com o Tribunal
Regional Eleitoral de Mato Grosso, cerca de 20% das vagas para vereadores no
estado serão ocupadas por mulheres, somando 277 cadeiras.
Mulheres nas eleições.
A participação das mulheres
brasileiras nas eleições vem crescendo, mas a passos lentos. Os dados da
plataforma de estatísticas eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
mostram que a proporção de candidatas mulheres aos cargos de prefeito, vice-prefeito
e vereador cresceu neste ano, na comparação com 2020.
No entanto, ainda está muito
longe da paridade de gênero. Nestas eleições municipais, as mulheres são 15%
das candidaturas a prefeito, e em todo o país, 23% das candidaturas a vice e
35% das candidaturas à representação no legislativo municipal. Os números são
indicativos da distância entre a representação política das mulheres em relação
aos homens no Brasil.
Apesar de os partidos serem
obrigados a destinar 30% dos recursos do fundo eleitoral para candidaturas de
mulheres, o aumento na proporção de candidatas não tem se refletido no aumento
da porcentagem de mulheres eleitas. Tanto é que, em 2020, as mulheres foram
16,1% do total de vereadores eleitos no Brasil e 12,1% do total de prefeitos
eleitos.
Política da representação feminina
O Professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Luís Antonio
Bitante Fernandes, sociólogo e pesquisador sobre Gênero, Identidade e
Sexualidade, coloca em dúvida se a eleição de uma mulher significa
representatividade da categoria.
“Nesse contexto atual de
polarização entre esquerda e direita, a pauta de costumes ganhou um peso
enorme. A defesa dessa pauta faz com que as mulheres percam representatividade.
Veja, nos últimos anos a taxa de feminicídio vem numa curva crescente e a pauta
do combate à violência contra mulheres ainda é secundária no campo político. Um
grande número de mulheres do congresso ainda trabalha a questão do aborto como
uma pauta de costume e não de saúde pública ou de direito ao corpo.”
Fernandes avalia que a redução
da distância da representação política das mulheres em relação aos homens passa por mudanças
da estrutura institucionais brasileiras. A simples conscientização do voto com vistas à igualdade gênero na representação política não seria o suficiente, avalia o sociólogo.
“Seria um primeiro passo. Outra forma seria a sociedade debater de forma aberta as questões que dizem respeito às mulheres. Sem generalizarmos a ideia de sociedade civil, percebemos que alguns setores atuam para um debate que vislumbre um agir político feminino mais efetivo. Só a sociedade civil não é suficiente, instituições educativas, jurídicas, religiosas, entre outras também devem se envolver no diálogo de uma forma mais plural.”