Primeiro medalhista brasileiro em Paris, judoca Willian Lima diz que o maior desafio foi lutar contra o corpo e a pressão mental

Esporte 

Vitor Fernandes 

 

Após um mês do fim dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, a Agência de Jornalismo Focaia entrevista Willian Lima, que foi o primeiro atleta a conquistar uma medalha para a delegação Brasileira nesta edição dos jogos. A conversa com o atleta foi realizada por meio de aplicativo da internet.


Nas Olimpíadas realizadas na França, o Brasil ficou com a 20ª posição, com três medalhas de ouro, sete prata e dez bronze. Numa comparação com os resultados obtidos nas disputas de 2020, em Tóquio, os atletas brasileiros em Paris perderam 8 posições. No Japão eles conseguiram alcançar a 12ª colocação no ranking mundial.


O judoca natural de Mogi das Cruzes, São Paulo, de 24 anos, atuou bem nas disputas e conquistou a medalha de prata até 66kg, masculino, e bronze na conquista inédita para o país, na disputa por equipes mistas. O desafio de Lima pode estar relacionado com a determinação de muitos brasileiros, que participaram das Olimpíadas em Paris, defendo o país nos jogos.

 

Judoca olímpico, Willian Lima, com a medalha de Prata nas Olimpíadas de Paris 2024 

- imagem Wander Roberto/COB/Reprodução.


 

Qual foi a sensação de conquistar a sua primeira medalha olímpica e de ser o primeiro atleta a conquistar uma medalha para o Brasil nesta edição em Paris?

 

A sensação foi como se eu estivesse vivendo um sonho que eu persegui durante anos, mas que, quando finalmente se realiza, é até difícil de acreditar. Senti uma felicidade imensa, um alívio por saber que todo o trabalho duro valeu a pena, e uma gratidão profunda por todas as pessoas que estiveram comigo nessa jornada. Ser o primeiro a trazer uma medalha para o Brasil em Paris só fez tudo ser ainda mais emocionante. Ser fora da curva é fazer algo a mais, algo que vai além do esperado, e eu sempre acreditei que a recompensa vem para quem trabalha com essa intensidade. Cada lágrima, cada sacrifício, me forjaram para esse momento.


Esperava sair com alguma medalha da competição ? 


Eu sempre entro acreditando que uma medalha é possível, mas nada é garantido no judô. O que me trouxe aqui foi acreditar no meu trabalho e fazer o extra todos os dias. Eu sabia que, mesmo sem uma receita certa, se eu desse tudo de mim, algo bom poderia acontecer. E quando essa medalha veio, foi a prova de que, quando você faz mais do que o comum, você se torna alguém fora da curva.

 

Como foi também participar da conquista inédita do judô por equipe ?

A conquista por equipe foi ainda mais especial porque, ao lado dos meus companheiros, mostramos que juntos somos mais fortes. Essa vitória inédita não veio por acaso, veio do esforço coletivo de fazer mais, de ser mais, e de acreditar que o trabalho duro sempre traz resultados.

 

Qual foi o maior desafio que teve que enfrentar nestas olimpíadas ? 


O maior desafio dessas Olimpíadas foi lutar contra o meu próprio corpo e a pressão mental constante. Eu estava competindo com o tendão supraespinhal descolado do osso, algo que me causava dor o tempo inteiro. Tive que aprender a lutar com dor, a aceitar que o meu corpo estava no limite, mas que minha mente tinha que ser ainda mais forte. E não é só a dor física – a pressão mental é enorme. Você sente o peso das expectativas, as cobranças que vêm de todos os lados, e muitas vezes você percebe que pessoas viram as costas pra você. São sacrifícios imensos: não estar com a família, não ver os amigos, mesmo quando tudo o que você mais quer é um abraço, uma palavra de apoio. Ser um atleta de alto rendimento exige isso, que a gente leve tanto a mente quanto o físico ao limite. Isso me forjou. Não tem receita mágica para suportar isso. É como eu disse: o que deu certo pra mim pode não ser o mesmo para outra pessoa, mas uma coisa é certa – o trabalho duro, a capacidade de suportar a dor e de continuar quando tudo parece contra você, isso é o que faz a diferença.

 

Sabendo da sua ligação com o esporte desde muito novo, qual o ensinamento que você aprendeu desde cedo e o acompanha nas competições até hoje? 


Desde criança, aprendi que a disciplina e a persistência são fundamentais. Meu mestre me ensinou que o caminho não tem atalhos, e que, para ser alguém fora da curva, você precisa estar disposto a fazer o que a maioria não faz. O que me trouxe até aqui foi essa mentalidade de dar o algo a mais, de fazer o que muitos evitam, de trabalhar duro mesmo quando ninguém está vendo. Isso é o que me mantém firme em cada competição, e é um ensinamento que carrego comigo desde pequeno. Não tem receita mágica, mas o esforço sempre será recompensado.

 

Emocionou o país inteiro com a sua declaração após a conquista da medalha de prata, citando que havia prometido para seu filho Dom. Qual é o recado que você quer deixar para o Dom do futuro ? 


Para o Dom do futuro, eu quero dizer: filho, o caminho não é fácil, e não existe uma fórmula mágica para o sucesso. O que deu certo para mim pode não ser o mesmo para você, mas uma coisa eu te garanto: o trabalho duro, a dedicação e o amor pelo que você faz são sempre recompensados. Eu prometi essa medalha para você porque queria que você soubesse que, quando a gente coloca o coração em algo, a gente pode superar qualquer obstáculo. Sempre faça mais, sempre vá além, e você vai conquistar coisas incríveis. Eu te amo, e vou estar sempre do seu lado.

 

Qual o recado que você quer deixar para os futuros judocas ?


O trabalho duro, a vontade de fazer mais, é o que vai te levar além. Se você quer ser fora da curva, se quer se destacar, esteja disposto a fazer algo a mais do que a maioria. O tatame ensina muito sobre a vida, sobre resiliência, sobre levantar após cada queda. Então, mantenham a fé, sigam em frente, e nunca parem de acreditar no poder do esforço e da dedicação.