Entrevista - jornalista Marcos Valentim avalia participação de profissionais negros na cobertura das Olimpíadas de Paris

Olimpíadas  

Vitor Fernandes 


A Agência de Jornalismo Focaia conversou com o jornalista Marcos Luca Valentim, que trabalha no Grupo Globo como comentarista, e participou na cobertura das olimpíadas nas modalidades de lutas. O jornalista também atua como Líder do Grupo étnico - racial da Globo.

 

Valentim ganha espaço no jornalismo esportivo na empresa da família Marinho, que ao longo do tempo subiu os degraus da carreira, começando como estagiário, participou de sites como voluntário, como no AfroReggae, até chegar à revista Tatame, especializada em lutas, quando surgiu oportunidade para cobrir eventos de lutas esportivas. 

 

Na Globo, o jornalista recebeu o primeiro convite para atuar como colaborador na edição do programa esportivo apresentado aos sábados. Como reconhecimento de seu trabalho, o departamento esportivo da empresa o convidou para a cobertura dos jogos olímpicos de 2016 no Rio, pelo canal Combate. 




Marcos Luca Valentim, jornalista esportivo do

Grupo Globo - Imagem Rede Social/ Reprodução.



A entrevista para a Agência Focaia ocorreu de forma remota pela internet, após a liberação da Rede Globo para que o jornalista participasse de discussão em torno da comunicação de profissionais negros, durante os jogos olímpicos em Paris na França, assunto que acompanhamos, e na oportunidade conversamos com o jornalista. Segue a entrevista.


Como representante dos profissionais negros da comunicação, considerando o número relevante de profissionais nas coberturas, há reconhecimento da igualdade racial no esporte brasileiro?

 

Bom, nem Olimpíada, nem nenhum evento tem ainda um número que seja de equidade, né? Um número pra mim correto de profissionais negros na cobertura, se a gente é maioria no país, a gente tem que ser maioria [ter mais espaço] espaço. Nesses lugares que a gente queira estar e ter a capacidade de estar. Mas eu acho que tem um avanço muito grande na mídia brasileira, um avanço que vem duma demanda social. As pessoas cobrando e a mídia entendendo também seu papel como produtora de imaginário coletivo, produtora de ideias, de mensagens pra colocar esses profissionais negros também dentro no seio da discussão, na teia da tomada de decisão. Mas eu acho que evoluímos, evoluímos, a gente vê rostos negros hoje em Paris, fazendo a cobertura da Olimpíada, ou seja, demonstrando excelência no que fazem, que Olimpíada é suprassumo do esporte mundial, mas tem muito a ser feito ainda como em todas as áreas, não só na comunicação, todas as áreas do país ainda há muito a ser feito na questão racial.


Você já expressou que se sente realizado em estar na Rede Globo. Na condição de líder do grupo étnico-racial, como avalia a posição de estar abrindo caminho para aqueles que estão chegando?

  

Bom, eu acompanho de perto a chegada de vários profissionais negros aqui, especialmente no esporte que é onde eu fico. E a gente faz um trabalho muito sério, com dados, com informações, com metas, internamente, pra gente ir trabalhando em cima disso, um trabalho que não tem fim. É um trabalho constante, saber que a gente nunca vai ver o resultado final, como eu falei, porque não tem fim, a gente faz parte do processo, a gente é parte do processo. A gente é uma engrenagem pra que isso aconteça, eu acho que esse projeto que estamos fazendo, tentando trazer mais gente pra perto, tentando colocar os negros no processo como um todo. Por trás da notícia também no ar está sendo visto né? Não só jornalismo, não só no esporte, mas também no entretenimento com novelas, a gente teve recentemente em uma novela, com público majoritariamente negro, que quebrou vários recordes de audiência. Então são movimentos internos que a Globo inteligentemente está fazendo. Eu tenho muito orgulho de fazer parte disso. Eu não sou a principal peça, nem nada disso, sou parte, sou um peão aqui tentando trabalhar para que as coisas aconteçam, da forma que a gente, funcionários, empresa, achamos correto.


Por fim, qual é a mensagem que você deixa para a futura geração de jornalistas negros, que sonham em um dia cobrir eventos esportivos grandes como as olimpíadas?

 

A mensagem que eu queria deixar é além desses clichês de ter fé, acreditar, não desistir, etc. e tal, é cercar de boas pessoas, cercar de pessoas que entendam você, de pessoas parecidas com você, pessoas que de fato você confie e que confiem no seu potencial, saibam quem você é. De que você é capaz, quando você tem boas pessoas ao seu redor, você não se deixa sabotar, você não se deixa cair na tentação da desistência. Como a gente sabe, pra gente tudo é mais difícil, e a desistência é um caminho óbvio. Porque nos vencem pelo cansaço de sempre: tentar e não conseguir. Mas [devemos estar] com boas pessoas, com pessoas que entendem você, com pessoas que saibam o que você tá passando, pra quem você não precisa explicar sua existência, seus problemas. Com essas pessoas isso fica muito mais potente, fica muito mais real e é muito mais fácil, fácil não, mas muito menos difícil chegar aonde a gente quer. Então meu conselho seria esse, cerque-se de boas pessoas.