Professores da UFMT se reúnem para avaliar proposta do governo; representante sindical diz que há ‘disposição da base para a luta’
Greve
Raissa Ali
O impasse na negociação entre governo e professores das universidades federais pode ter um desfecho nas próximas semanas, a depender das reuniões a serem realizadas pela categoria. Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a Adufmat, associação dos docentes da instituição mato-grossense, fez convocação para esta sexta-feira (21) para "avaliação da negociação com o governo".
A reunião dos professores é para avaliação da greve quanto às reivindicações da categoria e propostas do governo, sinalizando abertura para um acordo e indicação para os próximos mobilizações, inclusive o fim das paralisações das universidades. A greve nas universidades públicas chega a mais de três meses sem a definição de uma proposta consensual, apesar de várias reuniões entre MGI (Ministério da Gestão e Inovação), sindicatos das categorias docentes e servidores técnicos.
No meio
deste tempo o MGI, no dia 27 de maio, entendeu ter decidido por um acordo com a categoria assinado com o Proifes (Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de
Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e
Tecnológico), mas que rapidamente foi contestado pelo Andes (sindicato nacional dos docentes
das instituições de ensino superior) na justiça.
De lá para
cá, na sexta-feira (14), ocorreu a segunda reunião com o MGI (Ministério da
Gestão e Inovação do Serviço Público), mas sem que a categoria de professores
das universidades federais chegasse a um consenso sobre as propostas com o
governo, mantendo assim, o impasse e as instituições com atividades acadêmicas
paralisadas.
Para o
entendimento deste processo de negociação entre governo e categorias em greve,
a Agência Focaia conversou com José Domingues de Godoi
Filho, (dirigente sindical, representante da seção sindical da UFMT no
Conselho nacional de greve), atualmente
professor na Universidade Federal do Mato Grosso, graduado em Geologia pela
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Em
entrevista concedida na quinta-feira (13), um dia antes da reunião entre
sindicatos e governo, Domingues reclama que “o atual governo não está cumprindo
as promessas de campanha, que fez em relação à educação e com os servidores
públicos federais da educação, que o apoiaram em sua campanha à presidência.”
Como define
o momento da greve das universidades federais?
A greve
está forte e há disposição da base para a luta, especialmente depois das
declarações indevidas e truculentas da presidência da república na audiência
com as reitorias. Some-se as inverdades pronunciadas pelo Ministro da Educação
sobre o processo de negociação que não ocorreu efetivamente e nos levou a greve
da educação federal.
Está
faltando diálogo entre as representações sindicais, há um conflito entre os
sindicatos ou as disputas é parte do jogo político?
Não há
falta de diálogo entre o ANDES-SN, FASUBRA E SINASEFE, nem falta de articulação
para as atividades. O corpo estranho – PROIFES - foi criado pelo governo Lula
1, que, desde então, o tem utilizado para simular negociações que não existem e
impor suas propostas. Não é a primeira vez que isso ocorre. Trata-se de uma
entidade cartorial, pelega, a serviço dos interesses do governo, que não possui
legitimidade, nem representatividade, para participar da negociação com o
Governo Federal.
Pelo fato
de o presidente Lula ter como base política os movimentos sociais, qual a
análise faz do cenário político que resulta na dificuldade de manter diálogo
com o governo, o qual endurece nas mesas de negociação?
São
lamentáveis as posições do presidente Lula e as declarações públicas que fez na
audiência que teve com as reitorias. O atual governo não está cumprindo as
promessas de campanha, que fez em relação à educação e com os servidores
públicos federais da educação, que o apoiaram em sua campanha à presidência.
Confirma o
que se verificou em 2003, isto é, o governo petista e seus asseclas
sindicalistas não respeitam e desconsideram os servidores públicos como
trabalhadores.
O governo
como um todo está atendendo as demandas das transnacionais, do capital
financeiro e de setores conservadores. Os compromissos com a educação e com os
respectivos trabalhadores estão muito aquém das expectativas.
Para o
leitor entender, qual é a proposta do sindicato para o governo? Poderá haver
modificações?
As
reivindicações do ANDES-SN, feitas no início do movimento, se encontram abaixo.
Como em todo processo de negociação efetiva, as partes envolvidas poderão fazer
modificações/concessões. Contudo, precisa ocorrer negociação, o que não
aconteceu até o momento.
Finalmente,
reitero que a deflagração da greve dos trabalhadores da educação federal
ocorreu porque as mesas de negociação, desde o início do atual governo, ou, não
estavam se reunindo, ou, não produziram nenhum resultado frente às
reivindicações do ANDES-SN, FASUBRA e SINASEFE. O governo da “reconstrução” tem
se mostrado pouco interessado e compromissado com a educação federal; ainda
que, durante a campanha eleitoral apresentasse o investimento em educação como
prioridade; sem esquecer que o responsável do MGI [Ministério da Gestão e
Inovação] pela negociação é um ex-dirigente da CUT [José Lopez Feijóo] e o
presidente da república [Luiz Inácio Lula da Silva] é um ex-sindicalista.
É
inaceitável o tratamento que a educação federal tem recebido e muito menos o
índice de 0% para 2024, prejudicando ativos e aposentados, especialmente, se
comparado com os reajustes conferidos à outras categorias, como, por exemplo, a
polícia federal, rodoviária federal e polícia penal que receberam reajustes
que, em alguns casos, chegam a mais de 50%.
Avalio que
só com a força do movimento, a posição do governo poderá ser revertida e
cobrado que sejam cumpridas as promessas de campanha. Que a educação seja
prioridade máxima no orçamento federal e respeitados os direitos de seus
trabalhadores. É, também inaceitável, que sejam priorizados os pressupostos e
definições do “calabouço” do Ministério da Fazenda, que só atende os interesses
do pessoal da “Av. Faria Lima”, que vem exigindo a revogação da obrigatoriedade
de recursos mínimos para educação e saúde.
Proposta do ANDES, reajuste salarial - A categoria docente expressou a demanda de manter a defesa do Índice de 22,71% como horizonte de recomposição nos próximos três anos: 7,06% de reajuste em 2024; 9% de reajuste em janeiro de 2025; 5,16% de reajuste em maio de 2026. Até o ano de 2026, sejam equiparados os benefícios (auxílio alimentação, saúde e creche) entre o(a)s servidore(a)s dos três Poderes da República, garantindo a isonomia.
Recomposição
dos orçamentos - reivindicamos como parâmetro os investimentos de verbas de uso
discricionário de 2016 com as devidas correções inflacionárias, garantindo
investimentos em infraestrutura, permanência estudantil, bolsas de ensino,
pesquisa e extensão e outras condições indispensáveis à qualidade do trabalho e
de estudo.
Carreira - reorganização estrutural; avaliando que a questão de carreira comporta
reflexões e acúmulos de maior fôlego, projetando assim uma agenda de debates mais
extensa sobre a matéria.
Mantemos,
de todo modo, a proposta de reestruturação da carreira a partir dos pontos
unificados com o SINASEFE, pelo que reclamamos estabelecer a pactuação de uma
agenda aprofundada e alongada sobre o tema junto ao Governo Federal, com prazo
de desfecho até 2025, com vistas à promoção de reorganização estrutural dela.
Aposentadoria
- negligenciado(a)s na majoração dos benefícios, apontamos a necessidade de
construir, na mesa de negociação junto ao governo, alternativas para
compensação dos valores do auxílio alimentação do(a)s aposentado(a)s, que
perdem esse valor no ato aposentadoria.
Revogação -
Considerando o conjunto de normativas que trazem prejuízos a toda categoria,
mantemos a exigência da revogação integral e pagamento de perdas retroativas de
afetado(a)s pela IN nº 66/2022; da revogação integral da Portaria nº 983/2020,
do MEC, consequência necessária da já acatada alteração da redação do Decreto
nº 1590/1995.