'Precisamos ter um projeto de universidade, reconstruir diálogo com a sociedade', diz candidato à reitoria da UFMT, Marcus Cruz

Eleições UFMT 

Jhenniffer Muniz

 

A comunidade acadêmica da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), nesta quarta-feira (6), poderá definir o nome do próximo reitor ou reitora da instituição, em eleições com participação dos professores, servidores técnicos e estudantes. Portanto, o tempo para a decisão do voto está no limite para os eleitores indecisos, ou mesmo aqueles que não têm convicção segura da escolha, tornando necessária a busca de mais informações.

 

Neste sentido, a Agência Focaia, realiza a quarta e última entrevista dos candidatos à reitoria da UFMT, de modo a ampliar o conhecimento do eleitor sobre propostas e posições políticas dos candidatos, que estarão à frente da instituição pública de ensino nos próximos quatro anos.

 

Nesta entrevista o professor Marcus Silva da Cruz destaca o cenário político e administrativo da UFMT, com críticas à atual administração, para quem “é notório para toda a comunidade acadêmica que, após 8 anos de gestão da atual reitoria, a UFMT não tem um projeto de universidade”. 


Cruz afirma, “que é preciso, de forma inadiável, fazer o debate para a construção de um projeto para UFMT”, o que passa por diálogo com a sociedade, na busca de entender a vocação da universidade mato-grossense, de modo a adequar as atividades de ensino às demandas sociais. Defende a efetividade do projeto multicampi, porque segundo ele, “a UFMT se denomina como uma universidade multicampi, mas infelizmente na prática isso não é uma realidade”. 


Cruz disputa o cargo de reitor, ao lado da professora Lisiane Pereira de Jesus, como vice, pela Chapa 3, que tem como lema “Novos Rumos”.


Marcus Cruz é graduado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestre e doutorado em História Social também pela UFRJ; foi Presidente da Associação Brasileira de Estudos Medievais, e na UFMT é professor associado, vinculado ao departamento de história, Campus Cuiabá.




Marcus Cruz ao lado de Lisiane de Jesus, candidatos pela Chapa 3, durante debate entre os candidatos 

à reitoria da UFMT, no Campus Araguaia, unidade II – imagem Jhenniffer Muniz.



Como candidato às eleições para a reitoria da UFMT, diante dos desafios da administração da universidade pública, quais as suas principais propostas de gestão para os próximos quatro anos?


É notório para toda a comunidade acadêmica que, após 8 anos de gestão da atual reitoria, a UFMT não tem um projeto de universidade. A inercia e a inépcia da administração superior não promoveu o necessário debate acerca do futuro da universidade.

 

É preciso, de forma inadiável, fazer o debate para a construção de um projeto para UFMT. Precisamos discutir que universidade poderemos ser. Em quais áreas do conhecimento podemos nos tornar referência nacional e internacionalmente. Além disso, é preciso enfrentar problemas que se arrastam há anos em nossa universidade como a revisão do estatuto e a elaboração de um regimento geral.

 

Por isso nossa proposta de gestão possui como eixos centrais a retomado do diálogo qualificado tanto com a comunidade acadêmica quanto com a sociedade; o respeito e a valorização das pessoas que estão na universidade humanizando as nossas relações; e a sustentabilidade uma vez que a universidade precisa estar na vanguarda do processo de transformação ecológica.

 

Em suma, precisamos ter um projeto de universidade, essa é a nossa principal proposta: construir junto com a comunidade acadêmica da UFMT um projeto de universidade que garanta a relevância da UFMT para a sociedade mato-grossense e brasileira, e um lugar de destaque e excelência entre as universidades latino-americanas.

 

Há propostas específicas do candidato/a para o Campus Araguaia quanto, a investimentos nas suas duas unidades?

 

A Chapa 3 é a única chapa que fez um caderno de proposta para cada um dos campi da UFMT. Temos uma preocupação muito grande com os campi fora da sede. É preciso que a UFMT seja verdadeiramente uma universidade multicampi.

 

Especificamente para o campus do Araguaia com suas duas unidades Pontal e Barra. Em termos de investimento é preciso melhorar a acessibilidade nas duas unidades, assim como dotar o campus de uma pista de atletismo e uma sala de ginástica. Além é claro de realizar a manutenção preventiva dos espaços físicos.

 

Quanto ao orçamento apertado da UFMT, assim como as universidades públicas brasileiras, como pretende buscar recursos no sentido de realizar melhorias na instituição?

 

A UFMT precisa reconstruir seu diálogo com a sociedade. Nos últimos anos perdermos muito desta interlocução. O próximo reitor deverá necessariamente implementar uma política intensa e efetiva de diálogo com a sociedade para mostrar a inegável e grandiosa contribuição da UFMT para a população mato-grossense.

 

A partir do reestabelecimento destas conexões, o próximo passo é buscar parceria e convênios por meio de projetos institucionais com os diferentes setores da sociedade. Neste sentido, nossa gestão será atuante na busca de recursos junto aos parlamentares federais, estaduais e municipais, junto aos fundos nacionais e internacionais, como também nos ministérios e secretárias estaduais e municipais, sem esquecer o potencial de parceria com a iniciativa privada.

 

Por intermédio do diálogo e da interlocução, demonstrando o trabalho e a contribuição da UFMT, que vamos conseguir melhorar e expandir a captação de recursos para a nossa universidade.

 

Como avalia o futuro da UFMT diante dos desafios da educação pública brasileiras, quanto à inovação e desenvolvimento na pesquisa extensão?

 

O futuro da UFMT, no que concerne aos desafios da educação pública brasileira, a inovação e ao desenvolvimento da pesquisa e extensão, vai depender fundamentalmente da capacidade da nossa comunidade acadêmica de discutir e construir um projeto de Universidade. Neste processo a reitoria é essencial para liderar, promover e apoiar essa discussão.

 

Precisamos debater e definir, a partir das vocações e necessidades da sociedade mato-grossense, os campos e áreas em que a UFMT será referência, em termos de excelência, tanto nacional e internacionalmente; tanto que tange ao ensino, a pesquisa e a extensão.

 

A UFMT tem um compromisso inabalável e inexorável com o povo de Mato Grosso no sentido de contribuir para a melhoria da vida dessas pessoas.




Lisiane de Jesus conversa com a comunidade acadêmica ao lado de Cruz durante o 2º debate entre os 

candidatos à reitoria da UFMT, no Campus Araguaia, unidade II – imagem Jhenniffer Muniz.



A universidade pública brasileira reconhece que há evasão nos cursos de graduação nos últimos anos, na UFMT em especial a desistência de graduandos é considerada alta. Caso seja eleito, quais medidas devem ser tomadas a curto prazo?

 

O problema da evasão é por definição complexo, uma vez que os fatores causadores do abandono, da desistência da realização do sonho de uma formação universitária é múltiplo e na maioria das vezes se articulam entre si.

 

Para enfrentar uma questão desta gravidade é preciso uma política que contemple e coordene diversas e diferentes ações. A Comissão Própria de Avaliação e a Pró-Reitoria de Planejamento possuem um conjunto de dados que fazem um diagnóstico da situação que serve de ponto inicial para a atuação da gestão.

 

Neste sentido, precisamos estabelecer uma estratégia mais efetiva de acolhimento acadêmico e humano aos novos estudantes, bem como ampliar e aperfeiçoar os instrumentos de permanência destes discentes. É preciso também adequar os horários de oferecimento dos cursos para compatibilizarem-se com a realidade de um corpo discente formado por pessoas que precisam trabalhar para garantir seu sustento.

 

É necessário também desenvolver novas metodologias de ensino, além de oferecer melhores condições estruturais nas salas de aula e nos laboratórios, sem esquecer da necessidade de termos acessibilidade em todo o campus.

 

Finalmente é preciso incentivarmos as possibilidades de convivência e sociabilidade com espaço adequados para a interação da comunidade acadêmica.

 

Quais as principais propostas apresentadas para os Campi da UFMT, que geralmente manifestam descontentamento com o distanciamento da sede administrativa da universidade?

     

A UFMT se denomina como uma universidade multicampi, mas infelizmente na prática isso não é uma realidade, por isso, é necessário e urgente efetivar a condição de multicampi da UFMT. Neste sentido, a Chapa 3 propõe e se compromete em primeiro lugar a dar autonomia administrativa e financeira aos campi.

 

Os recursos previstos no orçamento para os campi fora da sede; os recursos captados pelos campi fora da sede; os recursos economizados pelos campi fora da sede serão utilizados nos próprios campi. Além disso, teremos uma presença mais efetiva da reitoria e do pró-reitorado nos campi para dialogar com a comunidade, prestar contas e colocar a reitoria à disposição dos campi para o fortalecimento do diálogo da UFMT com a sociedade.

 

Nos Campi Araguaia e Sinop há discussão da comunidade sobre emancipação da UFMT, criando universidades independentes, qual a sua posição sobre o assunto? O senhor é favorável?

 

O processo de emancipação de um campus demanda uma discussão profunda e intensa por toda a comunidade acadêmica. Nosso compromisso é promover esse debate e principalmente apoiar a decisão que a comunidade do campus tomar. Não cabe a reitoria tomar essa decisão acerca da emancipação de um campus, mas sim apoiar de forma efetiva aquilo que a comunidade do campus decidir.