Candidata à reitoria, Marluce Souza, afirma que a UFMT precisa encontrar solução para falta de recursos e a gestão multicampi
Eleições UFMT
Jhenniffer Muniz
Na contagem regressiva para as
eleições da reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), marcadas
para o dia 6 do próximo mês, quatro candidatos trabalham em suas respectivas
campanhas na busca de convencimento do eleitor para suas propostas.
Neste momento, em meio a um cenário
de desafios e oportunidades para a universidade pública, os candidatos à
reitoria da universidade mato-grossense trabalham na exposição de suas visões,
propostas e planos de ação a para comunidade acadêmica da instituição, cujo
mandato é de quatro anos.
Neste cenário, a Agência Focaia realiza entrevistas com os quatro candidatos no sentido de ampliar o espaço de conhecimento do público sobre as respectivas propostas dos proponentes à reitoria da UFMT, com seus quatro Campi.
Com este objetivo a reportagem enviou solicitações de entrevistas a todos os candidatos por e-mail, além da busca de contato pela rede social e presencialmente. As publicações serão
realizadas na sequência e conformidade com o retorno da entrevista pelos postulantes ao cargo
de reitor.
A seguir destacamos na primeira entrevista a conversa com a Professora Marluce Aparecida Souza e Silva, que tem como vice Silvano Macedo Galvão, candidatos pela Chapa 1: “UFMT que queremos”.
Marluce Souza que é graduada em Serviço Social e em Direito, ambas pela Universidade Federal de Uberlândia, realizou mestrado em Política Social e doutorado em Política Social pela Universidade de Brasília.
Na universidade mato-grossense é professora do departamento de Serviço Social, esteve à frente diversas funções administrativas e atualmente ocupa o cargo de diretora do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), Campus Cuiabá.
Marluce Souza e Silvano Galvão, candidatos ao
cargo de reitor e vice, respectivamente, em debate realizado na UFMT, Araguaia – imagem Jhenniffer Muniz. |
Como candidato/a às eleições para a reitoria da UFMT, diante dos desafios da administração da universidade pública, quais as suas principais propostas de gestão para os próximos quatro anos?
Elencamos aqui 10 prioridades: Socorrer imediatamente os espaços físicos das salas de aula e laboratórios, garantido segurança e condições de trabalho para os docentes e técnicos administrativos, ao mesmo tempo em que se garante o ensino de qualidade em condições adequadas, tomando providências em relação à estrutura predial, à instalação elétrica, ao serviço de internet, às condições de climatização e segurança no campus.
Iniciar um trabalho institucional e político para garantir maiores recursos orçamentários para a Universidade Federal de Mato Grosso. Redimensionar o quadro de docentes e técnicos administrativos em todos os Campi da UFMT.
Implementar a Política de Segurança
nos Campi, conforme aprovada em abril de 2023, no Consuni [Conselho
Universitário], aumentando o quadro de vigias, incluindo nele profissionais do
sexo feminino para estarem posicionados próximo aos banheiros femininos;
aumentar o contingente de vigias nos horários noturnos e finais de aula,
especialmente nos arredores dos estacionamentos e paradas de ônibus; melhorar a
iluminação em pontos estratégicos e instalar um aplicativo de socorro imediato.
Estimular a criação de cursos de Pós-graduação nos Campi do Araguaia e Sinop. Analisar as demandas e ampliar as vagas para docentes e servidores/as técnicos/as nos campi de Sinop, Araguaia e Várzea Grande.
Criar campanhas e equipe especializada para combater o assédio e todas as formas de violência instalada entre os servidores e estudantes no interior da UFMT. Analisar e dar transparência aos encaminhamentos de conclusão do campus de Várzea Grande.
Definir juntamente com todos os
sujeitos responsáveis, a migração do Hospital Universitário Júlio Miller
(Cuiabá) para as novas instalações.
Há propostas específicas da
candidata para o Campus Araguaia quanto a investimentos nas suas duas unidades?
O orçamento da UFMT tem sido realizado
a partir de critérios estabelecidos pela Matriz OCD, que apresenta exigências
definidas pela União. Contudo, necessário se faz analisar tais critérios e
empenhar esforços para garantir maiores investimentos, principalmente para as
universidades multicampi, que exigem prestação de serviços iguais e de
qualidade à toda a comunidade universitária.
No Araguaia, em suas duas unidades,
vamos realizar um levantamento e definir no coletivo, quais ações serão
realizadas com prioridade e, levaremos ao Consuni e Consepe [Conselho de
Ensino, Pesquisa e Extensão] um estudo para ser contemplado na primeira peça
orçamentária a ser elaborada por nós.
Portanto, apesar de sabermos que
existem prédios inacabados; serviços reduzidos, climatização inadequada,
redução de quadro docentes e técnicos, as prioridades serão apontadas pelos
Colegiados do Araguaia.
Quanto ao orçamento apertado da
UFMT, assim como as demais universidades públicas brasileiras, como pretende
buscar recursos no sentido de realizar melhorias na instituição?
O orçamento da Universidade Federal
de Mato Grosso apresenta sérias ambiguidades. Por exemplo: A Despesa autorizada
com recursos do Tesouro, no ano de 2023, somou a importância de R$ 885.465.252,
da qual o montante de R$ 766.610.286 é destinado a atender despesas com
Pessoal. Restando, portanto, a soma de R$ 104.931.720 para atender à manutenção
dos Campi (bolsas, diárias, passagens, materiais de consumo, serviços, etc.) e
Benefícios ao Trabalhador (assistência médica, assistência pré-escolar, auxílio
alimentação, auxílio moradia e auxílio transporte), e, finalmente, R$
13.923.246 para Investimentos.
Este montante de recursos é pouco para atender as demandas e necessidades dos Campi, mas ele precisa ser melhor administrado. Desta forma, nossa proposta de trabalho prevê a organização de cooperativas de trabalhadores/as para a realização de serviços de limpeza, segurança e preparação de alimentos no RU. Isto a UFMT sabe fazer e organizar.
Vamos reduzir custos, mas vamos também estabelecer parcerias institucionais
fortes para garantir emendas parlamentares, convênios e relações efetivas e
transparentes com a sociedade civil organizada para garantir o financiamento
das atividades realizadas pela UFMT.
A universidade tem muito serviço a
realizar e pode estar entre as melhores universidades do país. Dinheiro do
fundo público, seja pelo orçamento da União ou por Emendas Parlamentares serão
sempre necessários e bem-vindos. Quem defende a educação pública de qualidade,
trabalhará conosco e nos fortalecerá nesta empreitada.
Como avalia o futuro da UFMT diante
dos desafios da educação pública brasileira, quanto à inovação e
desenvolvimento na pesquisa e na extensão?
A relação entre universidade e a
sociedade civil em geral é essencial para o desenvolvimento da inovação
permanente no País. A UFMT desenvolve projetos de pesquisa e de extensão de
alto grau de inovação. Ocorre, no entanto, que isso não tem sido apresentado a
todos os setores sociais com a presteza e a agilidade necessária.
Por isso, o objetivo da Chapa 1,
neste quesito, é organizar, divulgar e promover as descobertas inovadoras,
tanto da tecnologia quanto da extensão, e dar visibilidade e valor ao que
sabemos produzir.
A primeira providência é criar um
programa de auxílio a pesquisa de docentes recém ingressantes na UFMT. (Enxoval
UFMT). Tal iniciativa tem como objetivo contribuir para o engajamento do(a)
docente em pesquisa e fortalecer a pesquisa na UFMT. Vamos estimular e apoiar
os pesquisadores para submissão de Bolsa Produtividade à Pesquisa. Ofertar
formas de apoio com a finalidade de orientar sobre os critérios de avaliação e
elaboração de projetos para concorrer às Chamadas do CNPq para Bolsista
Produtividade na Pesquisa, tendo como objetivo principal ampliar o número de
Bolsistas PQ.
Vamos criar no site da PROPeq o
Observatório de Pesquisa da UFMT que terá o multipropósito de: divulgar o que
fazemos e prospectar o que temos no Estado, no País e no exterior, que seja de
interesse para nossas pesquisas ou para a sociedade. O observatório conterá um
repositório com artigos de eventos, de periódicos, capítulos de livros e livros
completos dos pesquisadores da UFMT resultantes de projetos de pesquisa
cadastrados na Propeq. Conterá também uma área para divulgar imagens, vídeos e
publicações sobre resultados de pesquisas de cada área do conhecimento.
Vamos criar uma mídia digital da
Propeq e estreitar os laços com a imprensa local em parceria com a SECOMM.
Precisamos estimular a busca por projetos de pesquisas financiados com
parcerias internacionais e estreitar as relações com as agências de fomento com
os demais setores a fim de efetivar parcerias para a realização da pesquisa em
diferentes áreas.
Vamos incentivar a participação dos
pesquisadores da UFMT em parcerias nacionais e internacionais, atendendo as
chamadas publicadas pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) uma empresa
pública vinculada ao Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI). Buscar
apoio junto à EMBRAP II.
Promoveremos Eventos Internacionais
em conjunto com a PROPG, em áreas a serem previamente definidas e que abram
novas perspectivas de pesquisa de fronteira para a UFMT. Vamos estabelecer
ações de extensão com instituições da América Latina e dos BRICS e jamais
descuidar do PIBIC e VIC, principalmente para os calouros, a quem deveremos
oferecer palestras de alunos e professores que foram premiados com o prêmio
Severino Meirelles, para terem conhecimento das possibilidades de atuação na
iniciação cientifica.
A Extensão Universitária vai
desempenhar um papel importante na promoção da responsabilidade social da
universidade e no fortalecimento de suas relações com a comunidade. Nesse
sentido, é necessário garantir o processo interdisciplinar, educativo, cultural,
científico e político que promova a interação transformadora entre a UFMT e
outros setores da sociedade, mediados por estudantes orientados por um ou mais
professores, dentro do princípio constitucional da indissociabilidade com o
ensino e a pesquisa.
Em especial, neste momento, quando
10% das atividades de extensão devem estar inclusas e contempladas nos Projetos
de Curso (PC) é que a Universidade está desafiada a atuar com respeito ao tripé
ensino, pesquisa e extensão. No entanto, boa parte da comunidade universitária
não conhece a natureza da “curricularização” da extensão, e, portanto, é
preciso ampliar a compreensão do que seja a Extensão em nossa Universidade. É
nisto que vamos imediatamente trabalhar.
A universidade pública brasileira
reconhece que há evasão nos cursos de graduação nos últimos anos, na UFMT em
especial a desistência de graduandos é considerada alta. Caso seja eleito,
quais medidas devem ser tomadas a curto prazo?
A UFMT possui hoje um quadro de
docentes altamente qualificados, oferece 88 cursos de graduação com quase 14
mil estudantes matriculados. Temos 63 cursos de pós-graduação com quase 2 mil
mestrandos e doutorandos. Contudo apresenta um índice elevado de desistência.
As ações de combate à evasão devem ser organizadas e implementadas tendo em vista que 85% de nossos estudantes concluíram o ensino médio em escolas públicas, portanto, são estudantes/trabalhadores/as ou filhos de trabalhadores/as. Precisamos ter em mente que 37% destes estudantes recebem renda per capta inferior de 1,5 salário-mínimo e que muitos estão deixando a universidade para se inserirem no mercado de trabalho como forma de garantir proventos financeiros para si e para as suas famílias.
Fica evidente que a universidade precisa ser diferente e pensar em
alternativas que permitam que os nossos estudantes possam permanecer da UFMT,
mesmo estando no mercado de trabalho. Precisamos pensar em aumentar o número de
cursos noturnos; em horários alternativos para as atividades presenciais;
elaborar um plano de estudo diferenciado para as populações indígenas; devemos
ampliar e garantir benefícios e bolsas de estudo; garantir alimentação e
acolhimento com acompanhamento de equipe especializada para o atendimento das
inúmeras necessidades apresentadas por esta parcela da comunidade acadêmica.
Tais medidas são importantes para combater a evasão.
Quais as principais propostas
apresentadas para os Campi da UFMT, que geralmente manifestam descontentamento
com o distanciamento da sede administrativa da universidade?
O modelo multicampi, instituído
como política de Estado a partir de 1995, tem em sua essência o acolhimento das
particularidades da região onde encontram-se inseridos, que no caso da UFMT,
atende a uma enorme diversidade regional, que contribui efetivamente para o
desenvolvimento da região por meio da formação pessoal, ética e compromissada,
construindo conhecimento, proporcionando crescimento e promovendo as
transformações sociais.
Nessa perspectiva tivemos a criação
do Campus Universitário do Araguaia – CUA, através da Resolução CD 13/1981,
constituído como polo da UFMT, ministrando cursos em diversas áreas do
conhecimento e atendendo a uma diversidade de atividades.
A partir desta compreensão propomos que a UFMT, em atenção às queixas que registramos, aprofunde as relações com o Campus do Araguaia e adote algumas medidas prioritárias, tais como: Rever o processo de distribuição orçamentária de recursos para o Araguaia e demais campus e nunca decidir e finalizar a peça orçamentária anual sem ouvir os representantes docentes, técnicos e discentes dos referidos Campi.
Analisar as demandas e ampliar as vagas para docentes e servidores/as técnicos/as em toda a UFMT. Incentivar a implementação de programas de pós-graduação no Araguaia e Sinop, para que docentes retornem de seus doutorados e tenham atividades de pesquisa e de ensino também na pós-graduação.
Analisar junto com os docentes o
formato de pós-graduação mais adequado para a multicampia (acadêmico,
profissional, presencial e em rede).
Garantir os serviços e equipamentos
sociais existentes em Cuiabá, nos demais Campi (PROGEP, CASS, PRAE) implantar
em cada Campus uma Secretaria de Comunicação e estabelecer a presença física e
constante da Reitoria, Vice-Reitoria e Pró-reitorias em todas os Campi.
Constituir uma Assessoria de Comunicação nos Campi do Araguaia e de Sinop. Respeitar as decisões colegiadas aprovadas nos Campi do Araguaia, Sinop e Várzea Grande.
Estabelecer relações institucionais
fortes entre a UFMT e os governos municipais onde estão localizados os Campi do
Araguaia e Sinop, no sentindo de garantir transporte para os estudantes,
atividades culturais, segurança pública e serviços de creche e saúde para as
mães estudantes.
Reativar as Cantinas que foram
fechadas, visto ser uma necessidade da Comunidade Acadêmica de terem
alimentação adequada, como também de convivência.
Realizar uma campanha de aproximação
da UFMT/Araguaia com a comunidade de Barra do Garças e do Pontal do Araguaia,
visto que a própria sociedade desconhece a presença da Universidade nos
municípios.
Nos Campi Araguaia e Sinop há
discussão da comunidade sobre emancipação da UFMT, criando universidades
independentes, qual a sua posição sobre o assunto? A Senhora é favorável?
A emancipação do Campus do Araguaia e de Sinop deve ser uma decisão da Comunidade Universitária do Araguaia e de Sinop. Nossa posição é a de participar efetivamente do debate, orientando e buscando os caminhos para viabilizar a decisão colegiada que vier a ser deliberada.