O futuro depende da inteligência artificial?

Imagem reprodução – criação sdecoret / Shutterstock



Tecnologias

Filipe Damacena

A discussão sobre as tecnologias não chega a ser uma novidade, com pontos de vistas positivos e negativos quanto ao objetivo de as máquinas permitirem o desenvolvimento humano de maneira eficiente e democrática. Neste  momento, na política e campo da pesquisa ocorre debate em torno dos avanços de tecnologias de informação que podem resultar em riscos à sociedade. 

No centro das preocupações entre especialistas estão as conhecidas Inteligência Artificial (IA), máquinas que são capazes de reproduzir as funções profissionais e substituir o trabalho humano.

Nos últimos meses as grandes empresas de tecnologia passaram a disponibilizar acesso a algumas ferramentas consideradas avançadas para interação humana, que permitem realizar pesquisas e elaborar textos a partir de dados encontrados nos arquivos da internet, em poucos segundos, a distância do teclado do computador. 

O ChatGPT é uma dessas ferramentas, desenvolvida pela Open AI, com financiamento da empresa de tecnologia Microsoft, ambas dos Estados Unidos, que em parceria realizam trabalho de pesquisa e liberação do  dispositivo tecnológico que estão ao alcance da população mundial. No mesmo instante outra gigante, a também americana Google, lança a sua ferramenta de AI, o ChatBard, capaz de responder perguntas de internautas, que se relacionam a diversas áreas, seja política, cultural e econômica.

Ao analisar os impactos que essas tecnologias podem causar na comunicação é possível observar benefícios em termos de eficiência na busca de dados, mas também apresenta desafios para o cotidiano social, quanto à transparência, confiança, ética e privacidade. 

O professor da Universidade de Mato Grosso (UFMT), Robson da Silva Lopes, que é mestre em ciências da computação na área de inteligência artificial, aponta que o problema reside na maneira como a ferramenta é utilizada no processo de criação do conteúdo, aumentando a preocupação em apurar e garantir uma base factual segura para o público. Deste modo, é compreendido que a tecnologia não tem total capacidade de substituir a função humana, considerando que existem margens para erro e é necessário uma verificação dos dados gerados pela máquina.

Se não bastasse a mudança nas comunicações, os governos mundiais estão preocupados quanto ao mau uso da ferramenta para projeções de armas inteligentes, capazes de determinar alvos a longa distância, tornando o planeta mais perigoso para se viver. 

Desta forma, os países do primeiro mundo que já usam a tecnologia, temem que nações radicais possam revolucionar suas armas em desenvolvimento, criando um mundo mais perigoso. A batalha para conhecimento e aperfeiçoamento da IA passa a ser uma realidade, com ampla discussão em torno dos princípios da democracia, relações culturais e política.

Neste sentido, uma carta aberta foi publicada no dia 22 de março de 2023, assinada por milhares de personalidades e pesquisadores que sensibilizados pelo impacto destas tecnologias pedem a interrupção das pesquisas relacionadas à inteligência artificial (IA) por um período de seis meses. 

A motivação apresentada seria a dúvida em relação ao futuro da sociedade; e se há ambiente para tecnologias mais avançadas que as já existentes, em processo de transformação sem a devida atenção quanto aos seus efeitos sociais. Em questão, a dificuldade do campo científico de acompanhar o ritmo das transformações destas tecnologias no que diz respeito aos impactos.

No centro destas discussões está a capacidade da tecnologia criar novos espaços de realidade, considerando a possibilidade de gerar informações falsas para os usuários ou mesmo privilegiar informações que atendem segmentos políticos e sociais. As chamadas Fake News já são conhecidas dos brasileiros, principalmente em período eleitoral. 

Afinal, a IA se torna um recurso para a busca de informação e formação de conhecimento, com reflexo no espaço social, como consequências de narrativas para o senso comum. Desta forma, os pesquisadores exigem que o procedimento das pesquisas inteligentes e seu sistema seja de entendimento da comunidade científica, de modo que tenham condições de avaliar medidas de controle das novas tecnologias de inteligência artificial. 

Trabalho neste sentido já teve início nos Estados Unidos, envolvendo governo e as grandes empresas, sem chegar a uma solução quanto às medidas necessárias que atendam a comunidade de pesquisadores e ao mesmo tempo os interesses das chamadas big techs, como Google e Microsoft. Portanto, uma área sensível que envolve bilhões em recursos, poder político e econômico.

Capacidade das máquinas

A inteligência artificial é um programa que utiliza os dados já obtidos para resolver problemas futuros, se baseando em probabilidades. Sendo assim, determinadas funções sociais podem ser realizadas pela máquina.


O cientista norte americano Ben Goertzel, renomado no campo da robótica afirmou, em uma entrevista no mês de maio para a Agence France-Presse (AFP), que nos próximos anos a inteligência artificial poderá substituir "até 80%" dos empregos e isso, segundo ele "é algo bom". Afirmação que é contestada por Lopes, para quem existem pontos positivos e negativos para o desenvolvimento de uma tecnologia tão avançada quanto o ChatGPT.


O docente lembra que a IA já está presente no cotidiano, como no conhecido piloto automático em veículos de transporte ou nas redes sociais, com os conhecidos algoritmos responsáveis por ditar o conteúdo, que mais se adequa aos interesses do usuário.

Lopes destaca a importância de compreender o que a máquina inteligente está fazendo para conseguir alcançar o objetivo desejado, e aproveitar o máximo das capacidades da ferramenta, sem prejudicar o conhecimento. No campo da educação, os professores podem usar a tecnologia artificial para auxiliar na preparação de aula, sugerir tarefas e avaliações. Estudantes têm disponível IA que auxilia a pensar o processo de autoaprendizagem, possibilitando atividades com colaboração e níveis de complexidade maiores.


Neste momento, os maiores problemas em discussão sobre o ChatGPT, principalmente, é a confiabilidade do conteúdo produzido, considerando que os dados podem ser tendenciosos em conformidade com as propostas dos programadores do sistema. Além disso, utilizar em determinados campos de estudo pode resultar em problemas com plágio, na avaliação que as informações disponíveis no banco de dados da máquina possuem origens humanas. 


Robson Lopes reitera que, com vista ao avanço da inteligência artificial, é necessário considerar todas as possibilidades, avaliando as melhores maneiras de contornar os problemas e tornar o processo mais benéfico para os usuários.


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* O texto desta reportagem passou por alterações, após a publicação. O ChatGPT não é de propriedade da Microsoft, como descrito, mas desenvolvido pela Open AI, com financiamento da empresa de Bill Gates, que disponibiliza a ferramenta no seu sistema operacional..