No mês da Liberdade de Imprensa entra em pauta a negociação do Jornalismo com as big techs

Comunicação


Evellyn Giovanna

 

A Liberdade de Imprensa é um assunto complexo, que envolve interesses de empresas de comunicação, do mundo político e esteve sempre em debate no campo intelectual nas universidades públicas brasileiras. O dia de comemoração da data é 7 de julho, criando ambiente para evidenciar a importância da informação jornalística acessível à toda sociedade e denunciar os problemas enfrentados pelos jornalistas nos países democráticos. No Brasil é um direito assegurado no artigo 5º da Constituição Federal de 1988.  


O debate sobre o assunto traz reflexões entre os acadêmicos, principalmente dos cursos de comunicação. Neste momento, inclusive, um dos pontos em debate é o Projeto de Lei sobre as Big Techs, numa referência às grandes empresas de tecnologias (Google, Facebook, Apple, Amazon, Microsoft) que desenvolvem aplicativos de comunicação para as redes sociais, disponibilizando gratuitamente na esfera digital matérias jornalísticas e, por vezes, permitindo a veiculação das chamadas Fake News.

Como consequência, o monopólio dessas empresas refletem diretamente na profissão dos jornalistas, nas produções de informação com novas linguagens e no debate em torno do negócio, envolvendo as empresas tradicionais de informação que se veem obrigadas a enxugar seus quadros de profissionais, com vista à concorrência pelos leitores.  

A concentração de poder das big techs consegue atingir grandes massas em escala global, o que não é uma novidade num universo das redes digitais, com amplo apelo para acessos a diversos aplicativos, incluindo publicidades de lojas comerciais, o chamado e-commerce. Logo, a disseminação de notícias por essas plataformas gera discussão e preocupação para as empresas, na perspectiva do negócio, e jornalistas, que se sentem obrigados a buscar se adaptar à linguagem frenética da internet, tempo e estruturas da comunicação online em rede de computadores. 

A problematização disso acontece também pelo fato dessas grandes empresas terem muita influência na propagação e criação de notícias falsas, as chamadas Fake News com amplo reflexos na política e sistema social. O modelo de negócio das big techs é a curtida, quanto maior o número de “likes” melhor para o internauta na relação com suas tribos.  

O que motiva a adesão às redes sociais, o seu conteúdo, que movimenta um expansivo mercado e seguidores das diversas publicações realizadas em milhares a cada segundo? “O que é mórbido, mentiroso e sensacionalista têm mais adesão do público,” explica o professor de jornalismo na Universidade Federal de Mato Grosso Campus Universitário Araguaia Edson Spenthof.  

Estudantes do curso de jornalismo da UFMT, Campus Araguaia, em atividades acadêmicas no laboratório de produções audiovisuais. Imagem: Ana Livia Resende



Quanto ao negócio, envolvendo significativa crise das tradicionais empresas jornalísticas na concorrência com informações na rede de computadores, cujas atividades noticiosas abastecem o conteúdo das grandes empresas de tecnologia digital, o discente defende a ideia de que as big techs devem realizar pagamentos pelas produções noticiosas produzidas em outros lugares, pela imprensa e pelos jornalistas, ação esta que já vem sendo feita em outros países como, por exemplo, os Estados Unidos.

   

Qualidade das notícias   


A liberdade de imprensa garante ao cidadão o acesso a informações, fundamental para a manutenção da democracia, uma ferramenta que possibilita o combate à corrupção, contribuindo na construção de uma sociedade livre e justa.

  

Mas para a garantia deste direito é importante para a qualificação dos profissionais que produzem conteúdos noticiosos.  No Brasil, hoje para ser jornalista não é exigido a competência do diploma para exercício profissional. Neste momento segue discussões no Congresso Nacional para reverter essa situação.

  

Por isso a Câmara analisa a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 206/12, no Senado Federal de autoria do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). A PEC restabelece a obrigatoriedade do diploma em Jornalismo para exercer a profissão. Sua aprovação é uma resposta à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 17 de junho de 2009, quanto retirou a exigência da graduação para a atividade profissional.


A jornalista Fernanda Moraes em entrevista à Agência Focaia diz que a PEC pode assustar muitas pessoas, mas são aquelas que não entendem ou não valorizam o jornalismo real e íntegro. “A internet se tornou um país sem leis e, como uma das principais ferramentas de comunicação, muitos se aproveitam do meio para fazer dinheiro e gerar desinformação.


O professor Spenthof destaca que o jornalista não deve expressar opinião ou se privilegiar da mídia, seu dever é apenas propagar informação o que não interfere na liberdade de expressão dos cidadãos. “Jornalista é uma profissão que se dedica a propagar notícias com veracidade, essa inserção é importante."