Após quase 600 anos de história, o que pensam estudantes e jornalistas sobre a profissão na atualidade?

História 

Laís Soares

No último dia 7 de abril foi comemorado o Dia do Jornalista, visando homenagear os profissionais da imprensa que produzem informações sobre os acontecimentos sociais para formação da opinião pública. Uma profissão que tem história e essencial o funcionamento das engrenagens das sociedades, merecendo mais importância no processo de globalização.


No entanto, para descrever a importância do jornalista dos dias atuais, é importante voltar no tempo e entender como a imprensa começou a se formar no país, criando ambiente para o trabalho de milhares jornalistas e produção incontável de notícias.


Ainda no Brasil Império, com a chegada da Corte em 1808, a imprensa começou a ser desenvolvida. O primeiro doutor em jornalismo no Brasil, José Marques de Melo, em seu livro "Jornalismo Brasileiro", publicado em 2003, descreve que o primeiro jornal independente foi o Correio Braziliense, de Hipólito José da Costa.

Segundo Melo, o jornal era editado na Inglaterra e chegava ao Brasil através de navios ingleses, circulou entre 1808 e 1822. O veículo, no entanto, tinha ideias liberais e, por fazer críticas contra a Corte do Rio de Janeiro, a circulação foi proibida no reino. Ainda assim, não deixou de ter seus fiéis leitores.


Jornal Correio Braziliense, edição de junho de 1811 - imagem Gazeta do Povo


Já o primeiro jornal oficial, impresso no Brasil, foi a Gazeta do Rio de Janeiro, fundado em 10 de setembro de 1808. Portanto, o primeiro Jornal da corte portuguesa, enquanto sediada no Rio de Janeiro.

Como a história se mistura com o jornalismo é necessária compreender que liberdade e censura nunca deixaram de ser um assunto necessário e na ordem do dia que se arrasta até a atualidade. A começar nos primeiros jornais brasileiros, que se estende na Era Vargas (1930-1945), quando foi oficialmente implementado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão responsável por regular as notícias que seriam passadas à população.


A censura continuou no período militar (1964-1985), mais precisamente a partir de 13 de dezembro de 1968, com o decreto do Ato Institucional 5. Momento em que começa o período mais rígido para o Brasil, quanto a liberdade de imprensa historicamente impedida, com censura dos meios de comunicação, como forma controlar a veiculação de notícias sobre os acontecimentos, principalmente evitando denúncias e debates no campo da política.


As categorias de defesa da liberdade de informação e comunicação, como efeito das políticas autoritárias, fazem surgir e desenvolvem mecanismos na defesa da imprensa. Assim, com um corte no tempo, de acordo com o 2º Relatório de Desempenho da Lei de Acesso a Informações Públicas, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), publicado no ano de 2011, “a implementação da Lei de Acesso à Informação se difundiu, e sua utilidade para o trabalho da imprensa já é aproveitado nas redações do país". 


Hoje, embora os desafios ainda sejam grandes, o jornalista continua a exercer papel importante para a sociedade, permitindo a participação social para acesso às informações sobre os acontecimentos. Na atualidade, para um mundo globalizado com base na democrática da informação não seria possível sem ter os jornalistas como principais agentes. A apuração mediante a complexidade dos fatos sociais sempre serão necessários para se pensar na igualdade e justiça.  


Jornalista se preparando para uma entrevista - imagem Sebrae


Para análise da importância da profissão e do jornalista Agência Focaia realiza entrevista com o professor de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso, Jorge Arlan de Oliveira Pereira e com os alunos da graduação da instituição federal mato-grossense, Campus Araguaia, Marcelo Borges e Gustavo Lima.


Na primeira entrevista, Arlan, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, destaca a importância do futuro da profissão e a ética dos jornalistas.


Agência Focaia - O jornalismo tem muito o que comemorar diante das críticas e momentos de crise dos jornais tradicionais?


Jorge Arlan - Tem o que comemorar, mas também tem muito a lamentar. Pode comemorar a importância do jornalismo que se reafirmou diante de um quadro tão deprimente da realidade brasileira em que muitos assuntos vieram à tona, comprometendo a democracia, como tivemos o 8 de janeiro, uma tentativa de golpe no Brasil e o papel da imprensa foi muito importante. O jornalismo, ao denunciar aquele quadro e não admitir que aquilo pudesse acontecer em uma sociedade democrática,  tanto as mídias tradicionais como as novas mídias na internet e canais alternativos, fizeram uma ampla cobertura apontando a gravidade daquela situação e o quanto ela feria o processo democrático no Brasil. Isto demonstra que o jornalismo é muito importante para uma vida democrática, não dá para pensar em uma sociedade que queira se organizar, avançar e se desenvolver, sem que a imprensa seja livre mas responsável. Temos o que comemorar, se não fosse o jornalismo, essas coisas teriam sido bem piores, porém, temos também situações a lamentar. Dentro do próprio jornalismo existem trabalhos que não são tão adequados, são prejudiciais porque desinformam a população devido aos interesses econômicos e interesses políticos a ponto de comprometer o relato dos fatos, o conhecimento da realidade. Digo isso principalmente quando se trata de questões econômicas no Brasil, a grande imprensa brasileira que tem uma linha liberal, no ponto de vista econômico, mas diria que em boa parte é neoliberal, essa que prega um capitalismo extremado em que o capital se coloca muito à frente do trabalho, do emprego, dos direitos dos trabalhadores, essa parte da imprensa é desastrosa na forma de cobertura porque parece que não existe outra forma de economia se não está ditada pelo mercado. 


Agência Focaia - Como avaliar o futuro do jornalismo diante dos novos suportes digitais? 


Jorge Arlan - A internet pode ser um espaço viável para muitos canais novos, alguns com mais estrutura, mas outros um pouco menores, mas que vai criando espaços para os jornalistas. Mesmo nas mais variadas cidades do Brasil é possível ser criado um jornal online, essa é uma tendência. Os suportes digitais parecem ser o grande caminho, aquela imprensa mais tradicional como o jornalismo impresso, está se demonstrando inviável pelos custos e pela nova cultura que as pessoas estão mais online do que era antes. O jornalismo impresso, seja de jornais ou revistas, está desaparecendo, mas por outro lado esses jornais podem vir para a internet. Não digo que todos eles tenham viabilidade, mas parte deles terão lugar com a devida adequação vindo para a internet, aproveitando a ideia da convergência das mídias. Essa composição pode vir para a internet, a nova geração de jornalistas vai ter que saber interpretar esse quadro, tanto da necessidade da competência tecnológica, mas fundamentalmente da sua formação jornalística. 


Agência Focaia - O que o jornalismo precisa ter para ser feito com ética?


Jorge Arlan - Em primeiro lugar, a formação de um estudante de jornalismo deve ser bem-feita. A profissão de jornalista não é uma profissão qualquer, ela tem um grande papel que é prestar um serviço de informação, de esclarecimento e que a sociedade, por consequência, vai compreender melhor uma série de questões e assuntos que são necessários, faz parte de uma realidade e sem isso elas não terão a menor condição de ver com consciência e clareza e participar das transformações do mundo. Esse compromisso com a própria formação na ética seria também desenvolver valores humanos, nós temos no jornalismo uma grande relação com os direitos humanos, com a democracia, isso está implicado na ética. O bom jornalista é aquele que tem sensibilidade para a ideia de justiça e valores que prezam por mais oportunidades, por não haver pessoas discriminadas, preconceito, não incentivar discursos de ódio em uma sociedade. Isso para mim é ética, um valor moral, social e humano para ideia de mais igualdade e oportunidades de que o ser humano esteja em primeiro lugar. O mais importante é termos pessoas que vivam com dignidade e que tenham liberdade e ao mesmo tempo tenham responsabilidade.


Os alunos Marcelo Borges, presidente do Diretório Central dos Estudantes da UFMT e voluntário do projeto de extensão Botoblog do curso de jornalismo e Gustavo Lima, que participa do Núcleo de Produção Digital, também do curso de jornalismo,  avaliam as experiências no curso e sua importância.


Agência Focaia - Para você, qual a importância do jornalismo?


Marcelo Borges - O jornalismo pra mim é muito importante. Não existe democracia sem o jornalismo, não existe sociedade onde todos têm direito a voz se o jornalismo não existir. Não existe nem conexão entre regiões diferentes do Brasil sem o jornalismo. O jornalismo existe para isso, para que as pessoas tenham acesso à informação de qualidade com verdade para que saibam o que está acontecendo em todo o Brasil e em todo o mundo.


Gustavo Lima - O Jornalismo para mim é um dos pilares da sociedade. É indispensável pensar em democracia e democratização dos direitos por meio da verdade, sem pensar em uma ciência que rege isso tudo. A importância do jornalismo é justamente fazer esse balanço das verdades para manter a sociedade informada, e com isso garantir diversos direitos como cidadão.


Agência Focaia - O que um estudante de jornalismo precisa ter? 


Marcelo Borges - O jornalista precisa ter o sonho de ser jornalista para levar informação ao outro. Quando a gente fala de jornalismo, muitas vezes remete aquela imagem jornal, a TV, mas não, quando eu falo de levar informação, falo de diversas formas, seja pelo telejornalismo, radiojornalismo, jornais digitais, revistas, campanhas publicitárias, enfim, é levar a informação além com várias formas. Então para mim, o que a gente precisa ter para cursar jornalismo é esse sonho, essa vontade de querer fazer ainda mais.


Gustavo Lima - O estudante de jornalismo precisa ter amor pelo que faz, precisa ter inspiração e coragem para combater diariamente a desinformação. E precisa saber se reinventar, principalmente nos dias de hoje.


Agência Focaia - Como estudante, o que mais te admira no curso?


Marcelo Borges - O poder que nós temos em nossas mãos como jornalistas, tanto para dar ascensão à vida de uma pessoa quanto para destruir a vida de alguém. A gente precisa entender que o jornalismo é justamente o que conduz tudo, ele influencia muitas pessoas e, com toda certeza, isso é o que mais me admira na nossa profissão. Saber que a gente tem o poder de transformar a vida das pessoas, mas o que me assusta é que às vezes essa transformação é negativa.


Gustavo Lima - Me admira no curso a possibilidade de a comunicação usar de diferentes meios para chegar no mesmo resultado. Eu posso escrever, filmar, fazer roteiro, ser crítico, poeta, enfim, o curso te faz profissional, mas você pode usar sua criatividade para diversificar o mercado e até mesmo inovar, quem sabe.