Centenário da Semana de Arte Moderna é destaque em evento cultural realizado em Barra do Garças

Cultura

Claudio Nunes

 

Não passou despercebido o centenário da semana de arte moderna na região do Araguaia. A comemoração ocorreu na cidade de Barra do Garças (MT), no centro cultural Valdon Varjão, no Porto do Baé, na última semana do mês de fevereiro, com exibição de documentários, apresentações culturais e palestras sobre o evento que marcou o rompimento da arte brasileira com a referência Europeia, que é discutida ainda hoje, questionada e destacada dentro e fora das universidades.

De acordo com o secretário de cultura do município, Alessandro Matos, o objetivo do evento foi de “relembrar esse fato histórico tão importante e ao mesmo tempo enaltecer o legado que esse grupo de artistas brasileiros promoveram ao chamar atenção com sua arte no início do século XX”. O secretário avalia a importância do evento realizado há 100 anos ao relembrar que “os artistas se posicionaram a favor da valorização de uma arte genuinamente brasileira, que se apartou da influência europeia”.

 

Para o Secretário municipal de cultura, Alessandro Matos, a comemoração do centenário da Arte Moderna em Barra do Garças teve como objetivo chamar a atenção da população para o período de ruptura da influência europeia da arte brasileira - imagem Redes Social.


Em Barra do Garças, em comemoração à data, afirma que “o desempenho do evento foi muito bom, pois participaram do evento pessoas de diversas representações da cidade, dentre eles acadêmicos e estudantes do ensino médio”, destaca.

Matos também enfatiza que o público reagiu muito bem por conta da dinâmica do evento que focou em deixar os dias mais animados e menos “arrastados”, mantendo assim a atenção do público.

A secretaria que está finalizando seu planejamento de 2022 e promete, conforme o secretário, cerca de 20 eventos culturais para o ano, com divulgação de calendário para breve.

Histórico

A semana de arte moderna ocorreu em 1922, dentro do Teatro Municipal da cidade de São Paulo (SP). De acordo com Rodrigo Retka, bacharel em artes plásticas pela UFPR, em entrevista concedida ao canal de arte Vivieuvi, “a escolha do lugar do evento não foi uma coincidência, já que o Teatro Municipal de São Paulo era o reduto dessa arte tradicional e conservadora e os modernistas queriam romper com esse passado”.

A intenção de se criar um movimento artístico genuinamente brasileiro veio de uma insatisfação com o padrão eurocêntrico que definia o que era arte. A criação do novo era arriscado e não teve ótima recepção, mas se engana quem acha que os artistas envolvidos ficavam tristes com isso. As vaias que ocorreram durante as apresentações demonstraram o sucesso de um evento que foi pensado para provocar e ser o mais transgressor possível.

A Agência Focaia conversou sobre o assunto também com Alessandra Navarro, do curso de letras da UFMT, campus Araguaia.

 

Professora da UFMT Araguaia, Alessandra Navarro, destaca a importância do centenário da Semana da Arte Moderna que rompeu com a reprodução cultural brasileira com a Europa - Imagem: Rede Social.


A professora declara ter admiração pelo trabalho dos artistas e escritores modernistas e busca sempre “partilhar com seus alunos essa experiência estética e vanguardista da arte” tendo consciência da importância de se entender o passado para esquecer os erros de determinada época.

Destaca que a importância dos estudos sobre a semana de arte moderna em sua formação, como revela, resultou em contribuição no que diz respeito a autonomia permitida pelo evento, o que possibilitou de “libertar a arte das obrigações de seguir o estatuto de formas e de bom gosto vigente até as primeiras décadas do século XX”.

Navarro avalia que é importante evento com a temática no município, que “reúne alunos de vários cursos e diferentes interesses acadêmicos movidos pelo amor e a curiosidade em relação a arte”.

“podemos pensar no desenvolvimento de um pensamento cultural brasileiro presente na literatura das décadas seguintes a semana, que visa dar visibilidade às produções culturais fora do padrão eurocêntrico que regia o estatuto das formas, do bom gosto e da definição daquilo que é arte,” descreve a professora.

Apesar da importância do movimento até os dias de hoje, não se pode dizer que o rompimento com uma arte conservadora que dita o que é arte foi completo, na música por exemplo ainda temos gêneros marginalizados como o Funk e o Rap, assim como era o Samba no período desse fato histórico.

Navarro acrescenta que “é uma excelente reflexão que deve ser constantemente pensada. Ainda existe um sistema de valoração do que é arte ou deixa de ser e continuam a avançar junto com as discussões.”

Eventos como esse transmitem conhecimento, cultivam o senso crítico entre os telespectadores, que a partir de suas diferentes perspectivas vão avaliar o fato histórico e comparar com o tempo atual, surgindo questionamentos que movem a humanidade para busca de mais conhecimento.