Presidente da ADUFMT diz que a universidade, com aulas presenciais, já não teria recursos para ensino, pesquisa e extensão
Eleições
Redação
Fernanda Moraes
Luara Romão
O atual presidente da Associação de Docentes da Universidade Federal de
Mato Grosso, no seu terceiro mandato, Reginaldo Araújo, conversa com a Agência
Focaia sobre o processo de eleitoral para a ADUFMAT.
O processo eleitoral ocorreu entre os dias 29 de maio a 29 de junho, com
duas chapas concorrentes. A votação foi realizada nos dias 30 de junho e 1º de
julho, com participação dos docentes dos campi da UFMT.
A chapa vencedora com 313 votos, "Dom Pedro Casaldáliga," é
composta pelos professores Reginaldo Araújo presidente, Gerdine Ferreira como
vice-presidente, Magno Silvestri diretor secretário, Márcia Leopoldina 2ª
diretora secretária, Marlene Menezes diretora para assuntos de aposentadoria e
seguridade social, Maria Luzinete diretora tesoureira, Leonardo Moreira diretor
de comunicação e Loanda Maria diretora de assuntos socioculturais, venceu o
pleito.
No mesmo período foi realizada, com chapa única, a eleição para a
diretoria de subseção sindical Araguaia, da UFMT/CUA. Os membros de
"Resistir e Esperançar" foram eleitos, com 37 votos para dois anos de
mandato, pelos docentes do campus.
A chapa é composta por Graziele Borges coordenadora geral, Paula Pereira
coordenadora adjunta, Ayane de Souza coordenadora secretária, Magno Silvestri,
2° coordenador secretário, Ana Paula Sacco coordenadora tesoureira, Robson da
Silva 2° coordenador tesoureiro e Gilson Moraes coordenador de comunicação.
Em entrevista a seguir, o presidente da ADUFMAT, Reginaldo Araújo, tomou
posse do cargo no dia 9 de julho e seguirá seu mandato por dois anos
(2021-2023), em entrevista faz um balanço do processo das eleições sindicais,
realizada em tempo de pandemia e campi vazios. Avalia as dificuldades das aulas
remotas, as condições de retorno às aulas presenciais e a situação financeira
das UFMT e universidades públicas brasileiras, com redução de recurso pelo
governo federal.
Presidente eleito da ADUFMT, Reginaldo Araújo, relaciona as principais pautas dos professores e afirma que o retorno das aulas presenciais somente devem ocorrer após todos estarem vacinados - Imagem: Reprodução. |
Focaia - Desde 2020 a Universidade tem se adaptado ao modo remoto para realização de suas atividades, diante deste cenário como foi o processo para montar a chapa para esta eleição da ADUFMAT?
Reginaldo
Araújo -
A caminhada para a gente dar
conta de formar a chapa de alguma forma foi mais difícil, porque no momento que
está todo mundo fazendo atividades via tecnologia, via online o não diálogo
cotidiano dentro da universidade certamente nos dificultou, mas a gente tem
durante o processo de caminhada no movimento docente essas dificuldades.
Eu já tive oportunidade de ser
duas vezes dirigente da ADUFMAT, 2015 a 2017, depois de 2017 a 2019 e de alguma
forma faz com que a gente tenha um diálogo próximo com alguns professores e
professoras, e foi a partir disso que montamos a nossa chapa. Durante o
processo de campanha não foi um processo fácil porque nós temos um histórico,
uma cultura que é de buscar construir compromissos no olho no olho, dialogando,
ouvindo as pessoas ao mesmo tempo colhendo aquilo que a gente considera
importante para melhorar nosso sindicato; e isso ficou muito mais difícil nesse
processo eleitoral, contudo, fizemos debates, rodas de conversa, reuniões com
proposições e conseguimos elaborar um bom programa de mandato da nossa
avaliação que inclusive nos proporcionou a ter uma votação, na nossa opinião,
expressiva. Assemelha-se inclusive a votação presencial nossa chapa teve 313
votos o que demonstra uma presença na nossa opinião importante no processo da
eleição.
2. Após a vitória, haverá alguma mudança na Adufmat? O que poderia
mudar?
Quanto às
mudanças na direção do sindicato cada diretoria tem um perfil, cumpre um papel,
e nós temos desafios que, na nossa opinião, são fundamentais, por exemplo,
assumimos o sindicato em um dos momentos da conjuntura mais difícil da
história, talvez do nosso sindicato, que tem 42 anos, então é um momento
histórico difícil; e um dos principais desafios é fazer com que esse sindicato
esteja mais próximo dos seus sindicalizados.
Nós temos a consciência de que
parte dos professores da UFMT não conseguem perceber a importância do seu
sindicato, esses professores provavelmente não percebem que se hoje eles têm
uma carreira com dedicação exclusiva foi graças a luta do sindicato, se eles
tem uma carreira que tem minimamente uma aposentadoria digna é porque tem o
sindicato, se eles uma carreira que conseguiu garantir na Constituição isonomia
salarial é porque tem o sindicato, se eles conseguiram ter capacitação é
obrigação do Estado garantir essa capacitação com a licença para fazer
mestrado doutorado ou pós-doutorado.
É porque o sindicato lutou pelas
próprias condições de trabalho, ainda que não sejam as mais perfeitas, mas se
compararmos, por exemplo, a carreira docente no Brasil, com um dos países da
américa latina, nós vamos ver que as condições dos brasileiros são muito
melhores e isso é resultado de lutas do sindicato
Talvez um dos maiores desafios do
sindicato é estar mais sintonizado com os nossos professores, com os nossos
sindicalizados e não sindicalizados, no sentido de fazer que ele perceba a
importância do seu sindicato. Talvez, será um dos grandes desafios dessa
diretoria, fazer essa aproximação.
3. O processo de vacinação continua lento no estado, desse modo há ainda
alguma possibilidade de retorno presencial para 2022?
Para 2022 sim, porque agora nós
temos a seguinte situação, estou otimista que até mais ou menos no mês de
novembro ou dezembro nós vamos conseguir vacinar pelo menos 80% a 90% da
população. Em alguns estados inclusive estão alcançando 95% ou mais, a partir
disso começamos a criar as condições para o retorno presencial, então acredito
que no início do ano que vem a gente comece a discutir esse retorno.
Agora nós temos a clareza, qualquer movimentação para o retorno presencial só
deve ocorrer depois que as pessoas estiveram imunizadas, ou seja, depois de ter
completado as duas doses da vacina ou a vacina de dose única que garante a eles
a imunização completa.
4. Há uma pressão política com relação ao retorno presencial, qual a
postura do sindicato mediante a isso?
Sim, há uma pressão política por
parte do governador, do Ministro da Educação, Ministro da Saúde e do Congresso
Nacional. Agora, ao mesmo tempo que esses sujeitos fazem essa movimentação não
são os mesmos sujeitos que não garantem salas de aula com espaço suficiente:
ventilação, álcool gel para todos e máscara. A UFMT, por exemplo,
recentemente na sua instância superior, o CONSEPE recusou-se a garantir
Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para a comunidade, na medida em que
esses estivessem em ambientes que colocassem em risco os estudantes,
professores e técnicos. Ou seja, permite que se faça atividades dentro da
universidade, dentro de uma pandemia, mas a universidade lava suas mãos na hora
de garantir os equipamentos de proteção individual. Essa é uma postura que na
nossa opinião é lamentável, então há uma pressão sim para esse retorno; e como
disse anteriormente, esse retorno só deve ser possível a partir do momento que
todos estiverem imunizados.
5. Como o senhor avalia o efeito desta pressão de retorno às aulas sobre
os professores?
Para os
professores é muito ruim esse tipo de pressão porque sugere inclusive que os
professores não querem trabalhar, e os professores não querem algo que não
condiz com a história dos professores da universidade. Nós temos um histórico
inclusive de muitos professores entrarem finais de semana e feriados
trabalhando pela manhã, tarde e noite. Quase todos nós temos jornada acima de
40 horas, é só olhar a PIA [Planejamento
Individual de Atividades] dos
professores. Então, essa pressão é ruim porque acaba parte da sociedade fazendo
sugestões de que os professores não querem trabalhar.
6. Como avalia o processo de adaptação das aulas para o ensino online?
O
processo de adaptação para o ensino online foi muito difícil e acredito que
continua sendo, primeiro que temos que levar em consideração que a universidade
simplesmente mostrou-se sem nenhum compromisso.
O que é ou não compromisso?
Quantos computadores, notebooks foram dispensados pela universidade para que
professores pudessem dar as suas aulas online? Sim, porque se eu trabalho na
universidade e passo a ter aulas na minha residência, a universidade tem que
criar as condições, mas, a responsabilidade ficou absolutamente do professor
que passa a ter obrigação de possuir internet de qualidade, de criar um
ambiente dentro da sua casa que seja um ambiente de sala de aula, e, para as
mulheres, por exemplo, isso foi terrível porque têm mulheres com crianças
pequenas.
Nós poderíamos ter tido por parte
da universidade a dispensa de alguns laboratórios, de alguns gabinetes de
professores para que aqueles que não pudessem atuar, no entanto, a UFMT fechou
todas as suas portas e acreditamos que isso pode ser até interessante, porque
de alguma forma economiza os recursos que vem do MEC, recursos esses cada vez menores.
Sabemos que se estivéssemos hoje
frequentando a universidade já havia acabado o recurso para garantir as
atividades de ensino, pesquisa e extensão. Pois, o recurso foi novamente
cortado o que é lamentável, então, o processo de adaptação foi muito difícil.
Eu costumo dizer que a UFMT leva tão a sério o ensino online que inclusive faz
concurso para professores EAD, especificamente para professores que tenham
formação em atividades on-line. De repente, de uma semana para outra, todos nós
tivemos que nos adaptar a trabalhar nesse modelo que é um modelo muito difícil.
É
importante chamar a atenção que o número de estudantes desistentes, número de
estudantes que relatam movimentos, que na nossa opinião são assustadores e
desesperador é muito presente nesse contexto. Como eu tenho uma aproximação
grande com estudante não foi uma nem duas vezes que ouvimos relatos de
estudantes que tiveram que ir para o vizinho, porque lá tem uma internet melhor
e de lá conseguiria ouvir as aulas e assistir as aulas, ou foi para a padaria,
casa do tio, casa do amigo para tentar assistir às aulas porque não tinha
internet.
O próprio
MEC prometeu garantir estrutura para os estudantes e ficou só na promessa, a
tal da distribuição da internet para as universidades ficou só na promessa. A
própria reitoria da UFMT também reproduziu esse discurso e ficou em grande
parte só na promessa.
O que
temos que levar em consideração é que esses estudantes de baixa renda precisam
ter biblioteca, para ter acesso a livros, ter acesso às salas de aulas, que
tenha minimamente condições. Isso sem dizer que o processo de ensino
aprendizado, ele é um processo que é construído historicamente, com metodologia
e não é de um dia para o outro que a gente consegue fazer com que isso seja
reproduzido via online, então, na nossa opinião, alguns estudantes já chamaram
a atenção de várias formas, olha qualidade indo para o ralo, né? E é
lamentável, a gente ver uma universidade como a nossa, com 50 anos de vida abrir
mão da possibilidade de ter ensino de qualidade para se garantir atividades de
forma, na nossa opinião atabalhoada
7. Qual principal pauta dos professores neste momento?
Talvez
hoje o que mais nos preocupa é essa possibilidade de voltar as atividades em
sala de aula sem a imunização ter sido completa, tanto de professores como de
técnicos, como de estudantes. Mas também não deixamos de expressar uma
preocupação enorme com a situação que está dada as condições da universidade,
os cortes de recursos são simplesmente absurdos.
Como eu
já disse antes, se nós estivéssemos tendo atividades normais na universidade,
nós não teríamos recurso para terminar o ano, porque o recurso que foi
disponibilizado para as universidades, esse ano, são absolutamente menores que
aquilo que é necessário, para garantir água, luz, garantir pagamento de
salário, contratos de terceirizados, tudo aquilo que a gente diz que é a vida
da universidade.
As
atividades de ensino, pesquisa, extensão; e isso muito preocupa a todos nós, o
sindicato especialmente, porque nós falamos de condição de trabalho para os
professores e estudantes darem conta daquilo que se propõem.
E eu não
estou nem chamando a atenção, poderia falar do salário de professores que está
congelado há cinco anos e não tem perspectiva de isso mudar, o que é
absolutamente absurdo, na nossa avaliação.
É isso,
mas ao mesmo tempo a gente tem esperanças de que as mobilizações que nós
estamos construindo junto com várias outras categorias para que a gente consiga
garantir dias melhores, não só para nossa universidade, mas também para nossa
população que vive um momento tanto de morte, dor, fome, tudo ao mesmo, vemos
governos inertes a essa situação.