Botoblog retoma publicações sobre meio ambiente depois de um período sem atividades

Meio ambiente

 

Redação

Thaynara Fernandes

 

Após dois anos e meio sem produção, a página do Botoblog retomou as publicações no mês de junho. O projeto é realizado por docente e estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário do Araguaia (UFMT/CUA), e tem como objetivo a cobertura sobre o meio ambiente. 

“O Botoblog produz pautas verdes. Pautas sobre meio ambiente e sustentabilidade dentro do vale do Araguaia. Buscamos incentivar e fomentar uma prática jornalística com a consciência ambiental, elevando a educação ambiental e a importância do meio ambiente para a sociedade”, afirma a coordenadora do projeto, Jociene Ferreira.

 

Botoblog retoma suas atividades com publicações de reportagem sobre questões ambientais – imagem: arquivo Focaia

Com publicações às terças e quintas-feiras, o grupo de trabalho tem a participação de alunos graduandos do curso de Jornalismo da universidade mato-grossense, que desenvolvem atividades práticas no processo acadêmico de formação profissional. Neste período de distanciamento social, as reuniões e coberturas noticiosas são realizadas remotamente por meio de Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs).

“Eu acho importante essa discussão na academia [pautas ambientais] e para a sociedade em si. Diante disso resolvi retomar o projeto e fazer com que ele ficasse com uma cara nova. Criamos a conta no Instagram, estamos envolvendo alunos de diversos períodos, e também trabalhamos essa questão da educação ambiental, do educar conscientemente para um meio ambiente mais sustentável”, conta Ferreira.

Retomar as publicações do projeto de maneira remota não foi um desafio para a coordenadora. Segundo ela, o trabalho online não é um problema, visto que todos estão adaptados a este modelo de atividades. A equipe se reúne através de plataformas virtuais e discute a atividade de cada membro. Ao término da reunião, cada um sabe a sua pauta, a foto que poderá acompanhar o seu texto, quais fontes serão entrevistadas e quando o conteúdo vai ser publicado.

Depois da paralisação das atividades, o projeto está ativo há quase dois meses, e tende a contribuir para a informação da comunidade acadêmica e população da região do Araguaia, ressaltando os fundamentos do Jornalismo Ambiental, permitindo espaço de fala nas reportagens para toda a população.

“Nosso foco é a conscientização e educação ambiental de quem produz matérias e de quem as consome, os leitores. Queremos fomentar as vozes cidadãs. Tornar fontes mais próximas, a pluralidade de vozes. A oportunidade de ouvir os menos favorecidos, os que não conseguem espaço numa grande mídia”, informa a coordenadora.

“Queremos também que a população conheça um pouco mais sobre o lugar que vivem. Um ambiente tão rico em fauna e flora, que muitas vezes é explorado inconscientemente sem a devida preocupação”, avalia.


Para falar sobre o projeto Botoblog e meio ambiente, a Agência Focaia realiza entrevista com a jornalista, professora e pesquisadora da UFMT Jociene Ferreira. Segue abaixo.

Agência Focaia: A degradação do meio ambiente, com tanto destaque na mídia, parece não sensibilizar a população. Podemos atribuir a isso a falta de conhecimento da sociedade sobre o assunto? Como você avalia?

Jociene Ferreira: O assunto meio ambiente, degradação, desenvolvimento sustentável, ele é pouco divulgado e pouco conhecido pela população. Nós temos uma cultura capitalista do desenvolvimento econômico desenfreado e foi nas últimas décadas que começou a se pensar em políticas ecológicas, de um ambiente mais sustentável, de uma forma mais branda de se desenvolver. Por exemplo, o norte americano, as pessoas da Europa têm outros pensamentos, são mais preocupados com o meio ambiente, então não sei se é falta de conhecimento do povo brasileiro, ou se está mais ligado à cultura mesmo.

Por estar numa região em que a preservação do meio ambiente é um assunto sensível, qual a sua avaliação sobre o papel da universidade para tratar da questão? Mereceria mais discussões acadêmicas através de diálogos com as comunidades?

Eu acho que não só em Barra do Garças, ou no Araguaia a questão é sensível. Tratar sobre meio ambiente no Brasil é uma questão sensível, e é o papel da universidade. Nós já avançamos muito. Hoje temos congressos sobre meio ambiente, e temos congressos inclusive na área da comunicação, congressos nacionais e internacionais sobre o Jornalismo Ambiental, então eu acho que há muito diálogo sim.

Tratar sobre o meio ambiente é um trabalho de formiguinha, é algo que você vai plantando. A parceria com as escolas, o papel da educação ambiental, é fundamental nesse sentido. Estamos fazendo a nossa parte que é divulgar, é conversar, é tratar do assunto, é trazer o assunto à tona, isso é muito importante e é o caminho.

Faltam profissionais capacitados para a cobertura do Jornalismo Ambiental? Como avalia o Jornalismo Ambiental no Brasil?

O Jornalismo Ambiental no Brasil é muito novo. Ele surgiu com a Conferência Rio-92, quando os jornalistas foram ao Rio de Janeiro cobrir o evento, e muitos nem sabiam como tratar o assunto. De lá para cá muitos estudos têm avançado nessa área. A professora Ilza Girardi, por exemplo, do Rio Grande do Sul, é líder de grupo de pesquisa sobre o assunto. O pessoal do Mato Grosso do Sul também tem desenvolvido projetos importantes. Recentemente, eu participei de um evento e conheci grupos de pesquisas do Norte e Nordeste que trata do meio ambiente, da Amazônia.

Eu acho que o Jornalismo Ambiental é uma especialidade muito nova do Jornalismo. A grande mídia ainda tem visto Jornalismo Ambiental apenas pelos desastres, só quando cai uma barragem, quando pega fogo, e infelizmente não se tem esse papel de conscientização.  Esse papel de prevenção, ainda não tem espaço na grande mídia, por questões econômicas, culturais e tudo mais. Mas ainda assim, eu acho que ele tem avançado muito.

Hoje podemos ver os verdadeiros jornalistas ambientais trabalhando praticamente em veículos alternativos, mas academicamente temos tido grande avanços nessa linha, nessa temática e isso nos conforta. Um pouco do que a gente discute na academia já é reflexo da prática, estamos caminhando.

Politicamente, qual o papel das lideranças políticas na preservação ambiental brasileira? Estão empenhados em discutir e buscar solução para a devastação ambiental, como ocorre hoje, como visto pelos jornais?

Essas questões políticas são muito sensíveis e acho que varia muito de governo para governo. Recentemente tivemos escândalos do ministro do Meio Ambiente e toda uma discussão em torno disso, então em relação a países de primeiro mundo, nós estamos muito atrasados nas políticas de preservação.

Não acho que o atual governo esteja tão preocupado em soluções para devastação ambiental. Já tivemos governos anteriores com políticas melhores, mas, enfim, essa questão da preservação ambiental não é só política. A política é importante, mas ela ultrapassa isso.  É uma questão de conscientização e educação da própria população em si. O problema está no meu quintal, está no meu vizinho que coloca fogo no terreno dele para limpar e não pagar uma pessoa. A gente tem que resolver o micro, essa minha concepção, para pensar no outro. Há muito que se avançar ainda.

Diante do cenário atual, como a Sra. imagina a situação do meio ambiente futuramente? A Amazônia e o Cerrado existirão para as futuras gerações?

Eu prefiro ser uma pessoa otimista. Nós temos que acreditar que as coisas estão caminhando, estão progredindo, por mais que a gente tenha problemas gigantes de desmatamento na Amazônia e no cerrado. Hoje, eu acho que eles são totalmente diferentes, por exemplo, se a gente pegar dos anos 80 que não tinha fiscalização, não tinha nada, era muito maior, então eu acredito que é um trabalho de formiguinha, mas que a gente está conseguindo avançar em relação a tudo.

Temos que ser otimistas de que essa nova geração está tendo aula de educação ambiental, está sabendo a importância do meio ambiente, e eles serão os futuros líderes do país. Eles estarão inseridos em governos, em políticas públicas, então eu prefiro ter uma visão otimista.