‘Setembro Amarelo’ indicando preocupação quanto ao suicídio, a UFMT/CUA mantém ações voltadas para saúde mental dos acadêmicos, em tempo de pandemia
Saúde Mental
Agência Focaia
Reportagem
Júlia Viana
O mês de setembro ganha importância no calendário nacional, com ampla campanha, com destaque na cor amarela, contra o suicídio. Diante da preocupação com a quantidade de mortes que atinge os brasileiros em todas as regiões, que se tornou problema de atenção pública no Brasil, a UFMT Araguaia realiza ações voltadas para a saúde mental dos estudantes, agravada por estes tempos de pandemia, com isolamento social. Entre as ações estão atendimentos à comunidade acadêmica do campus.
O suicídio, de acordo com o Ministério da Saúde, está entre as dez primeiras causas de morte no mundo e é a segunda principal
causa entre pessoas de 15 a 29 anos. Cerca de 2.200 pessoas morrem por suicídio
por dia no mundo, mais de 800.000 por ano em todo o planeta. Somente no Brasil,
são 12 mil casos por ano, 32 pessoas morrem em decorrência de suicídio por dia.
No Brasil, os homens são os mais afetados pelo suicídio, especialmente aqueles com 70 e mais anos de idade, por outro lado, as tentativas de suicídio são 2,2 vezes mais frequentes entre mulheres comparado aos homens. Além disso, para cada suicídio há, em média, 5 ou 6 pessoas próximas do falecido que sofrem consequências emocionais, sociais e econômicas.
O suicídio tem sido considerado um grave problema
de saúde pública. Está relacionado a autoagressões que envolve ideação,
ameaças, tentativas e atos suicidas. Este ato, apresenta-se como um de seus
desfechos, o mais grave, o mais crítico e o mais identificado pelos serviços de
saúde. Embora, estima-se que para cada suicídio consumado existem
aproximadamente 20 tentativas de suicídio, destas de cada 3 tentativas, apenas
uma procura os serviços de saúde, tornando os casos subnotificados, conforme
informações do Ministério da Saúde.
Conforme analisa a professora e enfermeira Alisséia Lemes, o suicídio é um ato
intencional de tirar a própria vida, sendo considerado um fenômeno complexo e
multifatorial. Não existe uma única causa ou única razão, sendo decorrente de
vários fatores, tais como biológicos, genéticos, psicológicos, sociais,
culturais e ambientais.
Existem sinais de
alerta geralmente associados ao risco
de suicídio, como desesperança, desamparo e desespero, diz Lemes. “Os comportamentos de risco estão
relacionados a pouca rede de suporte social, uso de drogas, irritabilidade,
tristeza intensa ou apatia, sentimento de inutilidade, culpa e desvalorização,
automutilação, fala repetida de morte, envolvimento com jogos suicidas na internet,
crise existencial, vontade repentina de resolver pendências” acrescenta.
“A prevenção do suicídio abrange desde a oferta das
condições mais adequadas para o atendimento e tratamento efetivo das pessoas em
sofrimento psíquico até o controle ambiental dos fatores de risco” descreve a professora.
Como avalia, são elementos considerados essenciais para ações de
prevenção do suicídio: o aumento da sensibilidade para percepção da presença do
risco e a divulgação de informações apropriadas. Algumas medidas para prevenção
são criar e manter laços afetivos e relações satisfatórias, cultivar emoções
positivas, ter atividades de relaxamentos e lazer, buscar acreditar em algo que
lhe traga esperança, manter a autoestima elevada.
Preocupados com o quadro de suicídio, a UFMT/CUA se movimenta para
reduzir os índices, com trabalho apresentado pelo Serviço de Psicologia na promoção de saúde mental entre os
universitários. A instituição mantém o programa “Cuidadosamente” com encontros
semanais que trabalha o autoconhecimento, autonomia e auto-cuidado.
Conforme a psicóloga Daiane, “o cuidado com a saúde mental ocorre
também por meio de acolhimentos psicológicos individuais, que são realizados a
partir de demandas espontâneas ou encaminhamento de coordenações de curso. Além
disso, palestras são realizadas a partir de solicitações dos diversos setores
da instituição”.
Neste período de pandemia, as atividades na UFMT, Araguaia, são
realizadas por teletrabalho, com atendimentos realizados de maneira online, com
agendamento por meio de formulário repassados às coordenações de cursos de graduações
e enviados para o e-mail servpsico.cua@gmail.com.
De acordo a psicóloga do campus Daiane Sales, suicídios são evitáveis,
mas é uma questão multifatorial que exige esforços integrados de diversos
setores da sociedade, como a educação, saúde, mídia, política. Somente uma
abordagem não conseguiria dar conta dessa questão tão complexa, avalia.
“A redução dos suicídios e tentativas de suicídios envolve atuação em
diversas vertentes, como retirada do acesso aos meios utilizados, informação
pela mídia de forma responsável e qualificada, criação de políticas voltadas
para questões associadas ao suicídio, como abuso de álcool, cuidados com
pessoas com transtornos mentais nos seus diferentes níveis, qualificação de
profissionais para gerenciar os comportamentos suicidas e acompanhar pessoas
que já tentaram.”
Segundo a Organização Mundial de Saúde, os suicídios estão, em sua
maioria, relacionados a distúrbios mentais, particularmente, a depressão e
abuso de álcool. Porém muito comum casos de suicídios ou tentativas de
forma impulsiva, em momentos de crises, incapacidade de lidar com situações
estressantes relacionadas a questões financeiras, fim de relacionamentos,
pressões no trabalho ou faculdade, dores e doenças crônicas e situações de
violência.
Psicóloga da UFMT/CUA, Daiane afirma que o senso de isolamento,
facilitado atualmente pelo cenário que vivenciamos com a pandemia, podem fortalecer os
comportamentos suicidas - estudos no mundo estão sendo feitos nessa
perspectiva.
Projeto voltado para saúde mental da UFMT/CUA
Na UFMT Araguaia, criado em 2013, o projeto de pesquisa e extensão em Saúde Mental, que ao longo desses anos já atendeu 11 mil pessoas, está sob a coordenação da professora do curso de enfermagem, Alisséia Guimarães Lemes , e foi criado em frente as necessidades de expansão do cuidado em saúde mental muito além do campo prático dos serviços onde são realizadas as práticas de saúde mental, voltada apenas aos alunos de enfermagem.
De acordo com Alisséia, sua criação possibilitou
ampliar as ações nessa área de cuidado no que diz respeito a prevenção,
promoção e reabilitação da saúde mental da comunidade, além da possibilidade de
novas inserção de acadêmicos de diferentes cursos, docentes da universidade e
ainda de colaboradores membros externos a universidade.
A coordenadora conta que ações do trabalho completam
sete anos de existência atingindo 11 mil pessoas nos municípios de Barra do
Garças-MT, Pontal do Araguaia-MT e Aragarças-GO. A atividade acadêmica já realizou atendimentos em feiras, praças e ruas, universidade,
escolas públicas e profissionalizantes, serviços de segurança pública,
empresas, lar de idosos, serviços de saúde (CAPS, UBS, UPA, Pronto Socorro) e
comunidades terapêuticas.
“Durante esse período, houve a colaboração de
304 membros, entre acadêmicos de diversos cursos e docentes da UFMT/CUA,
acadêmicos e docentes de outras IES e colaboradores externos a UFMT, ambos
certificados pela UFMT/CUA,” afirma a coordenadora.
Especificamente no ano de 2020 em decorrência da pandemia da Covid-19 as ações do projeto estão voltadas a atividades virtuais nas redes sociais do projeto.
Neste mês de setembro, as ações estão direcionadas para a campanha “Setembro Amarelo: Suicídio, Saber, Agir e Prevenir.” Executadas com entrega do Kit da campanha, contendo cartazes, folders, fitas símbolos da campanha e balões amarelos para serem entregues em todas as Estratégia Saúde da Família (ESF)s dos municípios de Aragarças, Barra do Garças e Pontal do Araguaia.
Membros do trabalho de atendimento psicológico, neste mês, realizam colagem de cartazes nos lugares públicos das cidades e realização de Lives, que podem ser acessada pelo canal do YouTube do Projeto, com nova apresentação no próximo dia 30.
“Sabemos que ainda há muito a ser realizado
no que diz respeito a saúde mental, mas com um passo de cada vez, vamos
contribuindo para a melhoria do cuidado nessa área, além de poder contribuir
com o preparo de futuros profissionais (seja sua área de atuação) mais
sensíveis aos aspectos emocionais do ser humano” finaliza Alisséia.
O professor de enfermagem do
campus CUA Elias Rocha que também participa do projeto conta que não realizam
consultas, pois não possuem uma clínica disponível, mas que quando possui
conhecimento de pessoas que estão precisando de atendimento, orienta a procurar
clínica de psicologia, ou o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), e
também psiquiatras se for o caso, não tem limites de consultas por ano nesses
profissionais, cada um deles trabalha com agendamento a ser feito
antecipadamente.
De acordo com o professor,
normalmente os grupos vulneráveis ao suicídio são os jovens de 15 a 29
anos, idosos após a aposentadoria e pessoas que tem doenças crônicas
degenerativas, usuários de drogas. “Não tem uma causa específica, no entanto a
literatura coloca que o pensamento suicida vem no momento de instabilidade,
então pode ser decorrente de traumas que ocorreu na vida desse indivíduo e ele
não está conseguindo elaborar esses traumas passados, pode ser excesso de
trabalho e essa pessoa fica muito estressada e acaba entrando em depressão e
isso pode progredir também para essa causa," afirma Rocha.
O professor alega que ao longo da trajetória já entrevistou várias pessoas tentaram suicídio, e quando questionadas se realmente queriam morrer, a maioria dizia que não, que somente queriam ficar livres daquele mal, por isso, a importância de ajuda profissional e medidas de prevenção contra o suicídio.