Política educacional, com redução de bolsas para projetos acadêmicos, preocupa professores da UFMT Araguaia

Política educacional

Agência Focaia

Reportagem

Luara Romão


Com o contingenciamento de recursos orçamentários das universidades, desde o ano passado as instituições públicas do Brasil sentem reflexos na pesquisa e extensão. No atual cenário, alterações na política de planejamento da educação superior pública, para o seu funcionamento, parecem inevitáveis. A redução de bolsas para projetos importantes elevam preocupação dos professores quanto aos resultados dos trabalhos desenvolvidos por anos de atividades, como avaliam.

Neste sentido, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) para neste ano disponibilizou cinquenta bolsas, distribuídas entre os seus campi, repassadas aos projeto acadêmicos, coordenados pelos professores da instituição, sendo que cada um deles passa a ser responsável pela indicação dos estudantes beneficiados, os quais recebem ajuda institucional de R$ 400,00 mensal.

Seguindo o critério da quantidade de alunos matriculados no ano 2020, o campus de Cuiabá obteve a liberação de 32 bolsas para os seus projetos de extensão, enquanto Sinop recebeu 8, Araguaia 7 e Várzea Grande 3.

A extensão universitária diz respeito às atividades com de projetos com participação social, na relação universidade e comunidade regional. Para este ano, o investimento disponibilizado pela universidade mato-grossense para esta modalidade foi de R$ 160.000,00. O campus do Araguaia terá a sua disposição R$ 22.400,00, com 13,72% dos recursos, distribuído por um período de seis meses aos estudantes contemplados.

O campus da capital foi o que recebeu o maior volume, 65,28% do montante de verbas para a atividade acadêmica, R$102.400,00. Para os campi de Sinop restaram 15,31% e Várzea Grande 5,69%.



Campus Universitário do Araguaia, da Universidade Federal de Mato Grosso, tem redução no
número de bolsas para projetos acadêmicos para 2020 - Imagem: arquivo Focaia.



Os projetos de pesquisa e extensão para serem contemplados com bolsas são submetidos a um cadastro e avaliação a partir de alguns critérios: quanto à natureza acadêmica, público envolvido, a relação da extensão social com a comunidade e a clareza na exposição dos objetivos.
                                                                      
Dentre as formas de estudo que compõem a Universidade, os projetos de pesquisa e extensão ganham importância na base de formação teórica e prática do estudante, preparando os graduando para o campo da pesquisa e profissional, para as diversas áreas que compõem a universidade pública brasileira.

A professora do curso de Biomedicina Luana dos Anjos Ramos, que desenvolve o projeto há três anos no Campus Araguaia
analisa que os projetos de extensão e pesquisa podem ocorrer sem as bolsas, “a gente pode ter alunos de forma voluntária, mas elas são importantes para ter um maior comprometimento dos alunos”.

Para as atividades dentro e fora do campus, os estudantes integrantes da extensão precisam se deslocar e ter disponibilidade de tempo, tornando o auxílio financeiro institucional necessário e um incentivo às atividades.

Como avalia Ramos, “começa a funcionar com o comprometimento de trabalho. Eles têm horários a cumprir, tarefas, relatórios a serem apresentados e metas a serem alcançadas. Isso já é um início para que o aluno possa ter contato com esse universo”.

Sem incentivo

O professor do curso de Letras, Odorico Neto diz que as bolsas para os estudantes ligados a projetos “são essenciais para que possa se ter minimamente um pesquisador acadêmico, que possa se dedicar integralmente às proposições”.

Com experiência nas atividades de pesquisa e extensão, Neto, avalia que é necessário pensar no tempo de dedicação dos estudantes ao desenvolver o trabalho acadêmico. Assegura que “a pesquisa exige estudos, muitas leituras, se é pesquisa de campo, a elaboração de questionários, análise de dados”.

Diante do momento de redução de verbas para a atividade de pesquisa e extensão nas universidades públicas, demonstra preocupação de como deverá se comportar ao distribuir tarefas aos estudantes nas atividades. Como destaca, as atividades sem bolsistas ficam numa situação complicada, mais difíceis.  “Os projetos que eu desenvolvo tem bolsistas voluntários em todos eles, mas a forma como eu posso pedir um pouco mais de esforço muda”.

Para o futuro, o professor diz acreditar que é preciso pensar em alterações na política educacional, que está sendo praticada no atual governo. Para isso, como afirma, é preciso “mudar as pessoas que estão à frente do poder executivo, à frente do ministério da educação para que a gente tenha um novo cenário.”

Segundo ele, os recursos reclamados pelos professores objetivam a garantia da realização de pesquisas e a qualidade da universidade pública.

“Nós teremos algumas dificuldades, a crise coloca essa situação para gente e na atual circunstância mais ainda. Vamos lembrar que as ciências humanas estão excluídas de qualquer possibilidade de avanço em termos de bolsa de pesquisa, por ordem do senhor ministro [Abraham Weintraub], e por total demérito as ciências humanas da parte do senhor presidente da república [Jair Bolsonaro]”.

Mesmo diante das críticas e pessimismos, o professor ressalta que, apesar da crise e a política de governo para a educação, os estudantes já demonstraram determinação de continuar a trabalhar, ajudando os professores, os pesquisadores.

“Há acadêmicos que têm a ciência embutida na alma, no corpo, no espírito, na personalidade”. Acrescenta ainda que, “mesmo sem recurso nenhum, é possível fazer ciência. Acredito muito nessa possibilidade, mas que existem reflexos.”

Projetos Araguaia

No Campus Universitário do Araguaia (CUA), dentre os dezesseis projetos que concorreram ao auxílio institucional, sete apenas foram contemplados. No final, após a Câmara de Extensão, responsável pela seleção dos trabalhos contemplados, refazer as contas dos valores liberados para a UFMT e com o adiamento do início das atividades presenciais, concluiu que poderia acrescentar a concessão para mais dois projetos classificados com bolsas de extensão, chegando a nove para o ano de 2020.

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