Novas formas de comemorar o Orgulho LGBTQ+ se espalham pelo mundo

Orgulho LGBTQ+

Agência Focaia
Reportagem
Marcos Filho


Símbolo característico do movimento LGBTQ+, criado na década de 1970, pelo artista plástico Gilbert
Baker – Imagem: Tumblr/Reprodução

Em virtude da pandemia de Covid-19, o Brasil que comemora o mês do orgulho Lésbico, Gay, Bissexual, Trans, Queer+ (LGBTQ+) no dia 23 de junho, neste ano optou por demonstrar seu apoio ao movimento por meio das redes sociais, levantando Hashtag “#Pride” em suas principais redes. O evento que é tradicional em diversas capitais do país, as já conhecidas “paradas gays," reuniu todas as siglas da comunidade.

O mês de junho conta com inúmeras festividades, no dia 28 também é lembrada em todo mundo a data oficial do Orgulho LGBTQ+. Esse dia foi escolhido porque marca a revolução de Stonewall em 1969, que deu início ao dia do orgulho. Motivados pela pandemia, diversos países também aderiram às comemorações virtuais, com a promoção de shows nas plataformas digitais.

Esta marca a luta por garantir direitos igualitários a todos, independentemente da orientação sexual, cor, gênero ou qualquer outra forma de discriminação. Várias artistas do meio LGBTQ+ e apoiadores do movimento trabalham em conjunto na busca dessa garantia.  

A acadêmica de Direito da UFMT/CUA, Karenn Ferreira, representante do Coletivo Cores, destaca que “a comunidade reforça a necessidade de direitos iguais, principalmente para afirmar que as pessoas da comunidade existem, como querem ser reconhecidas e, sobretudo, alarmar que elas foram oprimidas ao longo da história da sociedade no passado seguindo até os dias atuais”.

O também acadêmico de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso Campus Araguaia (UFMT/CUA), Luiz Guilherme afirma que “é um momento de grande importância para a visibilidade da comunidade LGBTQ+, considerando a triste realidade da sociedade brasileira quanto aos índices de lgbtfobia que culminam em agressões e mortes. Assim, o mês do orgulho LGBTQ+ representa a necessidade de lutar contra a negativa de direitos básicos perpetuado por um Estado Lgbtfóbico, machista, fundamentalista e negacionista científico”.

Diversos setores do comércio estão aderindo ao mês, criando e vinculando aos seus produtos e audiovisuais as cores das bandeiras do meio LGBTQ+. Essa ação pode ser vista de duas formas distintas: primeiro, o “bom sentindo”, que é apoiar os pequenos grupos, com o intuito de combater o preconceito estrutural. Em contrapartida tem as empresas que só utilizam a data para lucrar mais e mais.

Como pontua o acadêmico Guilherme, “boa parte dessas empresas só lembram da causa LBGTQ+ quando o assunto é lucro, vendas e impacto social. A expressão "pink money" remete a justamente isso. A luta pela visibilidade LGBTQ+ se dá através de várias frentes e de diferentes maneiras. Lembrar dessa luta somente no mês, da visibilidade historicamente construída, é preocupante e estarrecedor”, aponta Luiz Guilherme.

É importante ressaltar que o Brasil é um dos países, fora do Oriente Médio, onde mais matam pessoas da comunidade. 

“Os dados de assassinatos LGBTQI+ e até mesmo outros tipos de violência, como física e sexual, são assustadores. A estruturação social de forma geral se desenvolveu de modo a tentar apagar esses grupos, inclusive tentando exterminar por serem consideradas aberrações. Acredito que a garantia de direitos iguais, políticas públicas e o reconhecimento da existência dessa comunidade e sua inclusão em todas as camadas sociais é o que pode provocar a alteração dessa realidade”, acrescenta Karenn Ferreira.

“É fato que o Estado brasileiro é omisso em tratar da criminalização da homofobia, por exemplo, e não tem o mínimo de interesse em institucionalizar políticas públicas de amparo e inclusão da comunidade LGBTQ no mercado de trabalho. Isso fica claro e evidente pelo julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 26 e Mandado de Injunção (MI) 4733, em que o Superior Tribunal de Justiça reconhece a omissão do Congresso Nacional em criminalizar frequentes atentados aos direitos fundamentais da comunidade LGBTQ”, acrescenta Luiz Guilherme.

Diante disso, o Brasil encontra-se num cenário histórico após o Supremo Tribunal Federal (STF), derrubar restrição sobre a doação de sangue pela comunidade, por intermédio do ministro Edson Fachin, e outros parlamentares argumentarem a favor da derrubada das normas anteriormente estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e Ministério da Saúde. Tendo o estado do Ceará como precursor nas doações da comunidade aos hemocentros.

Tornando o marco das conquistas da comunidade LGBTQ+ e seu ativismo ao longo dos anos, algo a ser celebrado, numa época em que os direitos conquistados a tanto suor e perdas de seus membros da comunidade, sempre será lembrando ao mundo que inclusão é o único caminho para um futuro melhor.

STONEWALL

Marcando o mês do orgulho LGBTQ+ é fundamental destacar a importância da revolução de Stonewall na representatividade ao longo da história. Em 1969, quando um grupo de pessoas da cidade de Nova York, nos Estados Unidos, no dia 28 do mesmo ano, decidiu reivindicar seus direitos nos espaços públicos, no famoso bar Stonewall Inn, o qual foi declarado em 2015, monumento histórico nacional.

Antes dessa conquista da comunidade LGBTQ+, as relações entre pessoas do mesmo sexo eram taxadas como crimes em todo o estado do Estados Unidos da América. O primeiro estado a descriminalizar a homossexualidade foi Illinois, modificando o seu código penal em 1962. Alcançando somente na década de 80 o restante do território americano, sendo abolido permanentemente em 2003.

No começo da década de 60, o Stonewall era conhecido como o maior bar gay de New York, sendo conhecido principalmente como ponto de encontro marginalizado da sociedade gay, acomodando em sua grande parte jovens sem teto, por conta do preconceito sofrido por suas famílias, como demais denominação da sigla LGBTQ+, além daqueles que se escondiam da visão dos conservadores do estado, tendo de viver suas vidas à sombra ao longo dos anos.

Motins de Stonewall – 28 de junho de 1969, “Não me empurre mary! Eu não estou de bom humor.”
[Stonewall, 1995] – Imagem: Tumblr/Reprodução


Na madrugada do dia 28 de junho de 1969, nove agentes entram o Stonewall, alegando a venda de bebidas alcoólicas, que na época eram proibidas de serem comercializadas naquele recinto. Prenderam funcionários, agrediram frequentadores travestidos e algumas drags queens, que se encontravam ali. A busca da polícia em bares da região do East Village, em um curto espaço de tempo, era incessante.

No total, treze pessoas foram presas, muitas delas vestidas com pouca roupa, a maioria delas não se identificava com seu sexo biológico. Diante desse fato começou o que pode ser chamado de “revolta” dos condenados, que decidiram provocar as autoridades, que acabaram respondendo com violência.

A partir da brutalidade gerada aos frequentadores e servidores do bar, a multidão que estava do lado de fora do estabelecimento, respondeu do mesmo modo aos policias, retalhando a violência que foram expostos, atirando objetos em direção às viaturas policiais, a fim de ferir os agentes e libertar os condenados.

Os policiais tentaram fazer uma barreira para impedir a ação dos manifestantes presentes no local, mas acabaram ficando à mercê deles, sendo encurralados para dentro do Stonewall. Os policiais em algum momento, em meio à confusão, jogaram um jornal em chamas dentro do bar que começou a pegar fogo, os mesmos agentes apagaram o incêndio com mangueiras, aproveitando a água para atacar manifestantes.

Diante do incidente, muitos da comunidade LGBTQ+, que não frequentavam os bares gays da cidade, aproveitaram para protestar em torno de Stonewall e pelas ruas de New York, durante seis dias. As manifestações continuaram ao longo de outras noites, por muitos manifestantes que lutavam por seus direitos.

Após o movimento em Stonewall, a discussão sobre a causa resultou na criação das primeiras organizações LGBTQ+ nos Estados Unidos.

O fato ocorrido em Stonewall diante da reconhecida brutalidade policial aos arredores da região de East Village, motivou a impressa nacional e mundo afora, destacarem o episódio como algo de urgência, colocando em discussão o episódio ocorrido para todo mundo.