Conselho da UFMT Araguaia nega concessão de espaço transitório para isolamento de indígenas com suspeitas de covid-19


Pandemia


Agência Focaia
Redação
Júlia Viana
Izadora Viana


O Conselho Universitário do Araguaia (CONSUA), da Universidade Federal do Mato Grosso decidiu, em reunião na segunda semana deste mês, não atender o pedido do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Xavante espaço transitório para indígenas com suspeita de Covid-19, com necessidade de isolamento para evitar proliferação da doença entre membros da comunidade.
                                               
A principal alegação da maioria dos conselheiros diz respeito às condições sanitárias do Campus universitário para abrigar a comunidade indígena em período de quarentena, de maneira adequada, preservando a saúde dos funcionários da instituição que, apesar do isolamento social, mantêm atividades internas em funcionamento.

Na UFMT/CUA há projetos de pesquisa e extensão que exigem manutenção e desenvolvimento de atividades em laboratórios, durante a pandemia com aulas presenciais suspensas no período.

O pró-reitor do campus, Paulo Jorge da Silva, ao argumentar com os conselheiros durante a reunião, acrescentou que na unidade de Barra do Garças, “os institutos possuem um único banheiro em cada bloco, com localização um pouco distante das salas de aulas". Quanto à unidade do Pontal do Araguaia avalia que "possuiu apenas uma entrada, o ginásio de esporte também utiliza a mesma entrada, entre outras coisas”.

Acrescentou que as duas unidades não oferecem estrutura para o atendimento à solicitação, “o espaço teria que passar por adaptações,” para ter condição de abrigar pessoas com necessidade de isolamento da comunidade Xavante. Parte dos conselheiros seguiu no mesmo entendimento, formando maioria para a decisão de que o local, de fato, não oferece segurança sanitária para atender à solicitação da entidade de defesa da saúde indígena.

Caso a decisão fosse para o deferimento do pedido, no entendimento de integrantes do CONSUA, o pessoal da segurança, limpeza, estudantes, servidores técnicos e professores, em atividade no Campus da UFMT Araguaia não estariam plenamente seguros contra eventual contaminação.


UFMT nega espaço transitório para isolamento social de indígenas da comunidade Xavante,
com suspeitas de Covid-19 - Imagem - Gilson Costa.


O professor de Jornalismo da UFMT Araguaia, Gilson Costa, diz que “a universidade perde uma oportunidade interessante de contribuir com o povo Xavante aqui da região, seria uma coisa relativamente simples, mas acabou tomando rumos burocráticos”.

Conforme o teor do pedido, no espaço a ser cedido ficariam as pessoas suspeitas. Aquelas que apresentassem um quadro de infecção, por sua vez, seriam encaminhadas para um atendimento médico especifico.

“O espaço seria cedido, a princípio para pessoas que estiverem com suspeitas, agora dentro desses suspeitos, pode ser que haja um ou outro infectado e que não desenvolva os sintomas, e os que fossem sintomáticos, seriam encaminhados para um hospital apropriado”, ressalta Costa.

“Por exemplo, vem um indígena da aldeia para a cidade, se ele desenvolver alguma suspeita ele vai ficar nesse espaço, até que ele tenha certeza ou não da contaminação. O espaço ali é de transição” afirmou Costa.

A decisão do Conselho de Campus, que exigiu duas reuniões para deliberação sobre o mesmo assunto, casou divisão entre os professores dos três institutos da universidade do Araguaia. Costa que se manifesta a favor da concessão do espaço para abrigo da comunidade indígena na Universidade Federal de Mato Grosso, avalia "que é um pouco de resistência mesmo da instituição de lidar com essas questões".

Acrescenta que "são decisões mais sensíveis, que exigem um pouco de trabalho, para refletir", critica. "Como é que vai fazer?", questiona. Seria uma ajuda extremamente importante que a universidade poderia ter dado, uma contribuição fundamental para saúde da comunidade dos indígenas da região, lamenta.