As aulas devem ser retomadas na UFMT nas próximas semanas, a distância; comunidade acadêmica discute normatizações
Ensino a Distância
Agência Focaia
Reportagem
Júlia Viana
A Universidade Federal do Mato Grosso aprovou na quarta-feira (16), a proposta de flexibilização do ensino presencial, para a oferta de disciplinas
por meio das novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), enquanto
durar o isolamento social, em virtude da pandemia do novo coronavírus.
Neste sentido, deverá ser apresentada a normatização e o calendário letivo especial para
atendimento dos cursos, que passam a realizar planejamento das atividades
pedagógicas, ministradas remotamente.
A Universidade Federal do Mato Grosso avalia a normatização das aulas a distância, para
retorno das atividades por meio das tecnologias da informação e comunicação, nas próximas
semanas. Imagem:
reprodução.
As faculdades, institutos, cursos de graduação e centros acadêmicos
poderão contribuir até a esta terça-feira (23) com sugestões para a proposta
de normatização das atividades, a chamada minuta, uma espécie de rascunho de
decisões, cujo texto aprovado se torna resolução, conforme decisão do Conselho de
Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE), cuja reunião será realizada na próxima segunda-feira (29).
As diretrizes para o ensino a distância, com uso de TICs, dependem do
resultado da discussão em torno do texto da minuta, em análise por
uma comissão formada por seis conselheiros, a partir das contribuições das
instâncias acadêmicas. O calendário será criado após a aprovação da resolução,
que neste caso, entará em vigor somente durante o período da pandemia.
A disponibilidade de aula online será decidida pelos cursos do campus, isoladamente, aderindo ou não e quais matérias ofertar. Há, no entanto, a
determinação do próprio Ministério da Educação, que normatiza atividades a distância,
que nesta modalidade de flexibilização, as atividades presenciais somente podem
ser oferecidas para conteúdos teóricos, enquanto que as práticas pedagógicas somente
serão oferecidas no retorno das aulas presenciais, sem data prevista.
Nesse momento de pandemia, muitas das instituições públicas de ensino
superior, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro, decidiram manter
somente serviço essencial em teletrabalho, com a volta das aulas presenciais em
2021, quando houver uma vacina contra Covid-19.
Flexibilização e exclusão
A princípio, a Universidade Federal do Mato Grosso não disponibilizou ainda
nenhum tipo de auxílio oficial direcionado para o ensino a distância, apesar de
proposta de liberação de recursos para atendimento aos estudantes sem acesso à
internet, e aqueles que não tem tecnologias digitais.
De acordo com Flávia Giordano, presidente do Diretório Central dos
Estudantes do Araguaia, o DCE solicitou à UFMT "o auxílio aos alunos
que possuem dificuldades de acesso durante a quarentena." Ela afirma que há solicitação à Pró-Reitoria de Assuntos
Estudantis (PRAE)
nesse sentido.
De acordo com o conselheiro no
Consepe, representante discente, Wesley da Mata, se houver a disponibilização de 2.000 auxílios, que é o
previsto para acessos à internet, poderá atender à demanda, porém não será
alcançado 100% dos estudantes.
O Diretório do Estudantes do Araguaia se mostra resistente à
flexibilização do ensino presencial, questionando pontos da proposta: como a
dificuldade de acesso por parte dos alunos, a falta de treinamento específico
de professores e alguns aspectos ligados a pandemia, como a saúde física e
mental de docentes e discentes.
“É muito delicado aprovar uma proposta que subentende que todos os
alunos têm acesso à internet, condições de saúde para acompanhar as aulas e até
mesmo tempo hábil, visto que muitos se encontram em regime de teletrabalho ou
de fato trabalhando de forma formal e informal,” afirma Giordano.
Além disso, há uma linha de pensamento nas instituições públicas de que
a implementação do ensino a distância pode abrir precedentes para que haja
diminuição de investimento público nas universidades, que já
vem sendo sucateadas ano após ano pela política educacional implementada no
Brasil, avalia.
Wesley afirma que não se deve tratar exatamente como ensino a distância,
e sim, aula online. “A relação entre aluno e professor costuma ser complicada,
então com o distanciamento social poderá ser mais complicada ainda.”
O conselheiro enfatiza a desigualdade social na UFMT entre os alunos e destaca o
fato de a Universidade não dispor de mecanismos ideais para que consiga aplicar
aulas online, podendo ser prejudiciais na relação ensino-aprendizagem, por
falta de acessibilidade, falta de intérprete, amparo financeiro, computadores e
equipamentos.
Persistem dúvidas
Persistem dúvidas
De acordo com o técnico Neemias Alves será necessário relação próxima
entre os servidores técnico com as atividades pedagógicas a distância, que será
oferecida por meio da plataforma de Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), sistema para apresentação das aulas, virtualmente. Tecnologia
frequentemente usado pelos professores da UFMT para complemento das aulas, agora será
o principal recurso para ministrar conteúdo.
Avalia Alves que será necessário antes treinamento para o uso eficiente do sistema. “A
relação dos técnicos com os professores está sendo mantida, e mesmo com o
desgaste e o cansaço mental e emocional, decorrentes da intensificação do uso
dos meios de comunicação a distância e do atual momento de inseguranças e
incertezas, os projetos continuam sendo desenvolvidos,” enfatiza.
A proposta de flexibilização não determina que a UFMT disponibilize o
uso de laboratórios, que exige a presença de servidor técnico para auxílio à
comunidade acadêmica nas atividades, que, considerando a pandemia, pode causar
proliferação do novo coronavírus entre estudantes e servidores.
Como afirma Alves, na flexibilização “com certeza haverá alunos que por
não terem computador ou internet, necessitarão de utilizar os laboratórios da
universidade, levando assim a uma relação presencial entre alunos e técnicos e
também entre os próprios alunos. Acho que esse é mais um ponto a se
pensar.”