Universidades brasileiras avaliam calendário para retorno das aulas em tempo de Covid-19

Coronavírus

Agência Focaia
Redação
Júlia Viana


A questão sobre a mesa neste momento na comunidade acadêmica das universidades públicas é sobre a retomada das atividades pedagógicas com aulas a distância (EaD) ou prorrogar das atividades, com mudanças no calendário acadêmico. A UFMT em decorrência de greve estudantil no ano de 2018, o período de quarentena para evitar o novo Coronavírus coincide com as férias estudantis, porém os índices de contaminações e mortes pelo Brasil sinalizam que será necessário aumento do prazo de permanência da população em casa. 
As aulas na universidade mato-grossense estão agendas para retorno dia 13 de abril, referentes ao semestre letivo 2020/1.
Carta aberta Coletivo de Professoras Mulheres da Universidade Nacional de Brasília (UNB), com manifestação na rede social dia 19 de março, destacando preocupação com a substituição das aulas presenciais na graduação e pós-graduação, desperta a atenção da comunidade acadêmica para uma questão que divide decisões nas universidades brasileiras em tempo de prevenção e redução do contágio com  Novo Coronavírus - COVID-19, no Brasil.

Aulas de graduação a distância. "Um debate, coletivo e organizado entre estudantes,
professoras, professores e técnicos, é extremamente necessário neste momento, com
o fim de apresentar propostas a instâncias superiores deliberativas,” afirma professora
Paula Alves – imagem arquivo Focaia.

De acordo com a professora do curso de Direito da UFMT campus Araguaia “vale lembrar que as dificuldades da universidade transcendem a relação professor/estudante. Elas apontam ainda para grupos muito vulneráveis como serviços terceirizados, contratos temporários de trabalho, pequenos fornecedores, bolsistas etc.”
“A conexão entre a tecnologia digital e os meios de telecomunicação nos permite expandir o acesso à educação e abre para diversas formas criativas de ensino por plataformas digitais, tanto institucionais como outras disponíveis na internet; e cotidiano de todos é atravessado pelo seu uso e muitos de nós adaptamos muito bem a elas, afirma a professora. Como destaca, “quando lidamos com educação a distância, além de exigir experiência com o manuseio de ferramentas específicas, é preciso conhecimento sobre técnicas e metodologias voltadas a esse modelo.”
Na UFMT o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) faz parte das atividades acadêmicas. Nele é possível encontrar recursos como questionários, espaços para postar materiais, atividades avaliativas, formulários, que são utilizados como complemento à sala de aula, e não como meio principal de aprendizagem na graduação.

De acordo com Alves, “o ensino exclusivo via AVA não parece uma alternativa mais adequada, quando pensamos que é preciso ter, ao menos, experiência com metodologias voltadas à educação a distância; e, quando olhamos para a realidade de muitos estudantes, que não têm a computadores e/ou internet, questiona.

No último dia 27, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) suspendeu aulas por meio digitais, por entender que estas não são capazes de substituir com eficácia aulas presenciais, e foi deliberado a suspensão de calendário. Outras universidades do país, como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Universidade Nacional de Brasília (UNB), também aderiram a suspensão. Os conteúdos deverão serem repostos após a suspensão das aulas, e quando a situação de aglomeração for permitida. 
Infraestrutura adequada
Outro ponto que coloca em análise é se há equipamento digitais para atender a todos os estudantes que não tem acesso à internet ou disponibiliza de um computador, mesmo considerando que “no campus, tendo um espaço exclusivo destinado ao uso de computadores e internet”. 
Alves acrescenta a preocupação com grupos de servidores que deverão dar suporte aos estudantes no processo das atividades, o que pode resultar em risco para a saúde. Reconhece que, diante do atual cenário, adotar exclusivamente esse tipo de proposta é uma saída condizente às exigências de quarentena e isolamento. 
“A UFMT, por meio de esforços de vários setores internos, aos poucos tem buscado acertar o seu calendário, desde a última greve. Contudo, como professora, desconfio da qualidade dessa forma de ensino, e entendo que a questão de sua produtividade deve sobrepor o argumento pautado no calendário. Além disto, a educação a distância atravessa o debate, tanto sobre a formação, ambiente e jornada de trabalho de professoras e professores, como sobre o acesso democrático a computadores e internet disponíveis, sobretudo, ao corpo estudantil” discute Alves. 
Há questões que também estão sendo levantadas pelos professores quanto ao modelo EaD. Com o início das atividades,  o corpo docente precisará adequar-se imediatamente, porque atual conjuntura não permite uma solução que demore. Os profissionais da educação que já são adaptados a essas ferramentas poderão se sair bem, já outros nem tanto. 
Alves reitera que “implementar o sistema EaD é uma política institucional que exige muito debate, recursos e tempo. Para tanto é preciso realizar um estudo sobre o possível impacto dessas medidas, levando em consideração diversas variáveis. O que eu consigo observar é uma mera especulação sobre riscos que possam resultar em uma condição expressamente danosa à comunidade acadêmica,” avalia.