Future-se acena para o mercado na educação pública, retirando autonomia das Universidades e Institutos Federais
Educação
Agência Focaia
ReportagemBarbara Argôlo
Júlia Viana
Ministro da Educação, Abraham Weintraub apresenta o programa “Future-se” - Foto: Luis Fortes/MEC
O Ministério da Educação
(MEC), divulgou no mês de julho deste ano, o projeto Future-se para
flexibilizar a autonomia financeira das universidades e institutos federais
brasileiros. No lançamento o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou
que o objetivo não é fazer com que estudantes paguem mensalidade e acrescentou
que a adesão das universidades não será obrigatória.
A proposta foi
apresentada ao país em meio ao contingenciamento de verbas das universidades,
anunciado no fim de abril pelo governo. O programa pretende alterar a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que define e regulariza a
organização da educação brasileira, com base nos princípios presentes na
Constituição.
De acordo com MEC, o
Programa Institutos e Universidades Empreendedoras e Inovadoras (Future-se) tem
por finalidade o fortalecimento da autonomia administrativa, financeira e de
gestão das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), por meio de
parceria com Organizações Sociais (OSs) e do fomento à captação de recursos
próprios, com reflexo na autonomia do ensino superior.
Para
Edson Spentoff, professor do curso de jornalismo da Universidade Federal de
Mato Grosso, Campus Araguaia (UFMTCUA) a proposta causa um impacto profundo nas
universidades porque altera o modelo até então estabelecido, com base no
financiamento quase que exclusivamente público.
Como quer o ministério da
Educação, a proposta se divide-se em três eixos centrais: Governança, Gestão e
Empreendedorismo, Pesquisa e Inovação, e Internacionalização.). A participação
nele será realizada por meio de adesão, na forma e prazo estabelecidos por
regulamento.
As OSs quando contratadas
deverão apoiar a execução das atividades vinculadas aos três eixos do programa,
apoiar a execução de planos de ensino, pesquisa e extensão das Ifes, realizar o
processo de gestão dos recursos relativos a investimentos em empreendedorismo,
desenvolvimento e inovação e auxiliar na gestão patrimonial dos imóveis das
Ifes participantes.
Segundo Spentoff
se o proposta prosperar resultará em “uma perda total da autonomia não só
permitindo que as Organizações Sociais façam a gestão da universidade e com
isso acabem com o concurso público, por exemplo, o que é uma garantia de acesso
democrático às universidades, mas também uma forma de privatização por meio da
possibilidade de a iniciativa privada financiar as universidades."
Para
atingir as metas planejadas será criado um Fundo, vinculado ao MEC, com o
objetivo de possibilitar o aumento da autonomia financeira do ensino superior por
meio de incentivo à novas fontes de recursos.
“O
future-se pretende resolver o problema das universidades públicas, tirando o
Estado da preocupação e responsabilidade estabelecida constitucionalmente de
gerir as universidades, partindo para a captação de dinheiro através da
iniciativa privada,” destaca o professor da UFMT/CUA.
De acordo com o professor
do Instituto de Ciências Exatas e da Terra do campus Araguaia, Marcio Andrade,
com o contingenciamento de gastos da educação, a universidade necessita reavaliar
sua interação com empresas e a própria sociedade, e “que seria viável uma
equipe do campus responsável para produzir um relatório a respeito de opiniões
a serem discutidas e enviadas ao governo”, afirma.
O Sindicato Nacional dos
Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES), em parceria com a
Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (ADUFMAT),
lançaram folder distribuído durante alguns atos e mobilizações ocorridos no mês
de agosto, com ampla crítica ao projeto, inclusive denominando o projeto de
"Fature-se".
As entidades sindicais listam
motivos para que as universidades não adiram ao projeto. Dentre uma série de motivos
está incentivo a competição entre alunos e entre professores para obtenção do
título de "empreendedor", a subordinação da pesquisa e da extensão
aos interesses de empresas privadas.
Consulta pública
No começo deste mês o
Ministério Público Federal ingressou com ação na justiça, solicitando que o MEC
refaça a consulta pública do projeto Future-se realizada entre julho e agosto
deste ano, alegando que não cumpriu com os requisitos legais.
De acordo com o site de
notícias G1, o MEC recebeu mais de 20 mil contribuições com respostas da
consulta pública quanto ao Future-se. Agora será realizado um compilado desses
dados e logo após haverá discussão sobre as propostas apresentadas, para
construção de um novo texto legislativo.
Supondo que a proposta do
Future-se se torne um Projeto de Lei (PL), deve ser aprovada na Câmara dos
Deputados e no Senado Federal, se começar a tramitar na Câmara, vai depois para
o Senado e vice-versa. Em cada uma das Casas o projeto será discutido,
analisado e votado pelos parlamentares. Se após aprovado pelo Congresso,
enviado ao Presidente da República para sanção ou veto do projeto completo ou em
parte.