ICET/CUA desenvolve pesquisas para o cultivo do açaí no Araguaia e criação de plástico biodegradável

Pesquisa

Agência Focaia
Reportagem
Vasco Aguiar

Fotos: Arquivo pessoal dos pesquisadores               
Alunos do curso de Agronomia participam do plantio de mudas de açaí.

O Instituto de Ciências Exatas e da Terra (ICET), da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Araguaia (UFMT/CUA), realiza atualmente 15 projetos de pesquisas vinculados à Pró-Reitoria de Pesquisa (Propeq). O órgão da instituição mato-grossense tem a missão de fomentar a produção de conhecimento em todas as áreas do saber, por meio da articulação interna, com os grupos de pesquisa dos campi, e externa, com as agências de fomento.

Para a diretora do ICET, Loyse Tussolini, a pesquisa durante a graduação tem grande relevância, “pois é a partir dela que também podemos abrir novos programas de pós-graduação na universidade, valorizando o nome de nossa instituição”.

Além disso, afirma a diretora, que por meio dos programas de pesquisas “incentivamos nossos alunos a se tornarem possíveis pesquisadores, e serem profissionais diferenciados”.

Fazem parte do instituto os cursos de graduação em Agronomia, Ciência da Computação, Engenharia de Alimentos, Engenharia Civil, Física, Matemática e Química.

Nem todas as pesquisas do ICET recebem os investimentos necessários para o seu desenvolvimento. Dos projetos de pesquisa em atividade do instituto, analisados pela reportagem, somente dois deles registram recursos externos para o seu andamento, os demais apontam recursos dos próprios pesquisadores.

Açaí do Araguaia

Entre os projetos de destaque do ICET está a pesquisa desenvolvida por Devanir Murakami e Nair Bizao, professores do curso de Agronomia da UFMT/CUA. Eles investigam o cultivo do açaí na região de Barra do Garças (MT), na busca de estudar a viabilidade desta cultura em solo diverso do habitual, no norte do país, em que o fruto é nativo. 

Murakami explica que a pesquisa surgiu a partir da sua participação em um congresso de fruticultura, no Maranhão, de onde trouxe algumas frutas, das quais extraiu as sementes para serem germinadas na universidade do Araguaia.

Sabendo disso, estudantes do curso de agronomia, com a liderança da aluna Ana Flávia Lelis, propuseram que desenvolvessem investigação sobre a adaptação da cultura na região do Araguaia.

Conforme Lelis, por observar que em Barra do Garças o consumo do açaí é muito grande, os estudantes tiveram o “interesse de saber se seria possível cultivá-lo por aqui, o que possibilitaria o barateamento do produto”. O desafio foi levado ao orientador e aceito prontamente. 

“Sabemos que o açaí vem de uma localidade mais úmida, porém achamos que seria interesse averiguar a possibilidade de seu cultivo em regiões mais secas, como é o caso do Cerrado, o bioma do Mato Grosso”, explica Murakami.

O experimento foi feito em quatro ambientes, dois deles com sombra, sendo um com irrigação (foto ao lado) e outro sem. Outros dois ambientes ficaram a céu aberto, um mantido seco e o outro úmido.

O professor relata ser previsível que nos locais mais úmidos as plantas teriam melhores condições de se desenvolver. Justamente o que ocorreu, “as mudas que estavam a céu aberto não resistiram, mesmo as que receberam irrigação. Já as que ficaram na sombra, apenas aquelas que recebiam água conseguiram prosperar”, diz o pesquisador.

Ele conta que a pesquisa, ainda em andamento, vai investigar se essas plantas que sobreviveram chegarão a fase produtiva. No entanto, salienta o professor, caso cheguem neste estágio, “entendemos que o cultivo de açaí em nossa região necessitaria de grande investimento, tendo em vista que deverá ser feito em áreas sombreadas e também irrigadas”, finaliza.

Plástico biodegradável

Outra pesquisa feita por pesquisadores e estudantes do ICET investiga o desenvolvimento de “papel filme plástico” a partir do amido de gengibre. O trabalho objetiva a aplicação deste material no setor de embalagens alimentícias, podendo substituir até mesmo o produto usado atualmente, comprovadamente danoso ao meio ambiente.

O projeto é coordenado por Ricardo Stefani (foto), do curso de Química da UFMT/CUA. Ele explica que o gengibre é uma raiz rica em amido, porém este potencial tem sido pouco explorado. O amido é biodegradável, podendo com isso se decompor de maneira rápida na natureza, e ao mesmo tempo formar filmes plásticos altamente resistentes.

Sobre este tema, o pesquisador esclarece que o filme plástico a partir do gengibre leva em torno de três meses para que seja totalmente desintegrado, enquanto o plástico tradicional demora cerca de 50 anos para fazer o mesmo processo.

A aluna do Curso de Engenharia de Alimentos, Isadora Reis, é uma das envolvidas no projeto, sendo inclusive tema de sua monografia da graduação, pesquisa que resulta em trabalho obrigatório para conclusão do curso. Ela aponta que outra característica do papel filme de amido de gengibre (foto ao lado) é a sua atividade antimicrobiana, que pode inibir o alimento de ser facilmente infectado por fungos e bactérias.

“Se conseguirmos, por meio de análises, concluir que o filme é antimicrobiano, ele contribuiria para uma deterioração mais lenta do alimento embalado”. Com isso, relata a pesquisadora, que “a vida de prateleira do alimento poderia ser maior, como consequência ocorrer a diminuição do uso de conservantes, gerando grandes benefícios para o consumidor”, explica.

Como relata Stefani, os estudos ainda estão na etapa de laboratório, que no futuro a pesquisa poderá resultar em atividade de produção. Para isso, ele avalia, existe um longo percurso pela frente.

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Os projetos tratados nesta reportagem são custeados por recursos próprios dos pesquisadores envolvidos.