Professora em Tecnologias de Produtos de Origem Animal, da UFMT Araguaia, fala sobre a Operação Carne Fraca
Crise
pecuária
Agencia
Focaia
Reportagem
Giulia
Sacchetti
Vasco Aguiar
A Polícia Federal deflagrou a operação Carne Fraca na manhã
do dia 17 de fevereiro, revelando denúncias de que grandes frigoríficos
brasileiros, pertencentes a algumas das maiores empresas do ramo no mundo
estavam pagando propina para manter uma produção irregular. Foram cerca de 40
empresas investigadas, todas com algum tipo de alteração. Entre elas, a JBS, que
possui uma unidade em Barra do Garças. O fato espalhou uma onda de preocupação
dos consumidores em relação à carne brasileira. As informações divulgadas
antecipadamente trouxeram grandes prejuízos para a Indústria Brasileira, já que
o Brasil lidera o ranking mundial de exportação de produtos de Origem Animal.
Foto: Reprodução
Qualidade da carne brasileira é questionada após a 'Operação Carne Fraca', da Polícia Federal.
Para
entendermos melhor esta polêmica, encontramos a docente e Coordenadora do Curso
de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus
Araguaia, Paula Becker Pertuzatti Konda (foto abaixo), professora
de Tecnologia de Produtos de Origem Animal. A seguir, na entrevista concedida à
Agência Focaia, ela analisa a controvérsia gerada pelas suspeitas quanto à
qualidade das carnes do país.
Qual
sua opinião sobre a Operação “Carne Fraca”?
Acredito
que existem pontos negativos e positivos, e concordo que a fiscalização seja
essencial, tanto que existe em todas as indústrias e frigoríficos de
processamento de origem animal. Fiscalizar é fundamental para a estruturação
dos padrões de qualidade. Mas penso que o problema nessa operação foi o modo
como ela foi divulgada, porque as informações começaram a ser repassadas em um
momento onde não se tinham fatos concretos. Isso acarretou muitos prejuízos
para a Indústria Brasileira. O Brasil é o principal exportador de carnes do mundo,
e agora estamos vendo as portas se fecharem para nossa carne. O que percebi é
que na maioria dos frigoríficos, o que está acontecendo é um problema de
corrupção, muito mais do que um problema de fraude sanitária ou qualidade dos
produtos.
A
Srª acredita que as informações divulgadas a respeito das carnes adulteradas
sejam verdadeiras?
Pelo
que pude perceber, nos frigoríficos onde existiam problemas, eram com os
alimentos processados, como a salsicha, a linguiça, os nuggets, etc. E como o
nome da operação é Carne Fraca, induz a população a pensar que o problema está
na carne, quando não está. Nos alimentos processados sim, pode ter ocorrido
algumas fraudes por adição de ingredientes acima dos limites permitidos pela
legislação.
Quanto
à utilização de produtos químicos para a preservação da validade das carnes,
possui conhecimento sobre quais eram?
Segundo
a legislação brasileira, inúmeros componentes são utilizados e com isso são
elaborados padrões de qualidade. Vi algumas coisas que me pareceram equivocadas,
uma delas foi sobre a CMS – Carne Mecanicamente Separada - que, quando jogada
na mídia, foi confundida com a carne moída. São duas coisas completamente
diferentes: a CMS só pode ser utilizada em um produto cozido, é a carne
encontrada em carcaças de animais depois que todos os cortes de carnes já foram
removidos. Enquanto a carne moída é aquela que encontramos no açougue e passa
pelo moedor, sem adição de outros produtos. A parte em que falam sobre o
papelão na carne moída também foi um equívoco na divulgação dos dados, apenas
uma má interpretação.
Em
relação à adição de ácido ascórbico nas carnes, acredita que seja prejudicial à
saúde?
A
adição do ácido ascórbico, também foi mal interpretada pela população,
tornou-se alarmante por se tratar de um ácido. Ele nada mais é do que Vitamina
C, um composto antioxidante que as pessoas utilizam em caso de resfriados em
geral. Para as carnes, ele é de extrema importância, pois se usa muito o
Nitrato, um conservante que ajuda no impedimento do crescimento de
micro-organismos, porém, este poderia formar compostos tóxicos no produto se
não houvesse a adição de um antioxidante, como por exemplo, o ácido ascórbico.