Onda de prisões de cultivadores chega à música: #LiberdadeCert


Rapper da banda Cone Crew Diretoria é mais uma vítima da esdrúxula caça a cultivadores orquestrada pela polícia no Rio de Janeiro e Brasil afora

Ao que parece, o conservadorismo instaurado de vez na máquina política brasileira após as últimas eleições, com ênfase no Legislativo, já começa a se alastrar pelo aparato repressor, numa tentativa chula de atravancar o debate sobre a legalização da maconha no país. O Rio de Janeiro, principalmente, vive uma desenfreada onda de prisões de usuários que optaram por cultivar sua erva para se desvencilhar do tráfico. E os casos têm se multiplicado pelo Brasil.

São professores, físicos, publicitários, médicos, jornalistas, empresários, advogados, engenheiros, autônomos, entre outros, encarcerados pelo crime que buscavam distância ao cultivar sua própria erva. Como o historiador mineiro Marco Sávio, preso em Ouro Preto desde o dia 15 de outubro – infelizmente, um entre tanto exemplos. Até usuários medicinais, que precisam da planta para viver melhor, tiveram o direito ao remédio usurpado e o tratamento interrompido ao serem trancafiados covardemente, como no caso de Flávio Dilan, o Cabelo, que sofre de epilepsia e segue detido desde o dia 5 de fevereiro.

A onda de prisões de cultivadores acaba de atingir, também, o meio artístico. No último domingo, o rapper André da Cruz Teixeira Leite, o Cert, da Cone Crew Diretoria, foi detido por cultivar quatro pé de maconha para consumo pessoal em Miguel Pereira, na região serrana do Rio de Janeiro. Ele foi autuado pelo artigo 33, por tráfico de drogas, mesmo sem que houvesse provas de que venda – além das plantas, foram encontradas apenas parafernálias para fumar, como bongs e cachimbos, materiais de jardinagem, e uma pistola de brinquedo, exposta de forma cretina e maldosa durante a apresentação.

Segundo apuração da revista VICE, Cert foi denunciado pela sogra, que teria ido até a delegacia dizer que o cantor havia agredido sua filha. Como a esposa não quis representar a queixa, a sogra mostrou as fotos do cultivo de Cert e a polícia foi até sua casa. No entanto, a história é confusa. A polícia fala da denúncia de agressão, mas diz que Cert foi autuado em flagrante por desacato – sendo que o cantor não resistiu à prisão – e, no entanto, depois de encontradas as plantas, ele responde por tráfico de drogas. A polícia diz que as quanto plantas, que nem madura estavam, totalizariam mais de um quilo de flores prontas para fumar – o que qualquer cultivador sabe que é mentira. Armas reais nem quaisquer conexões com grupos criminosos foram encontrados.

Mesmo assim, Cert será transferido da 96ª DP, em Miguel Pereira, para uma penitenciária em Volta Redonda. Os companheiros da banda soltaram um comunicado na página oficial no Facebook, repudiando a prisão e dizendo que “cantor não é traficante e nem precisa disso pra viver, é um trabalhador como vários outros pais de família que levam a vida de forma honesta e são apenas usuários.” A hashtag #LiberdadeCert está em terceiro lugar nos trending topics mundiais do Twitter.

O caso de Cert é triste e lamentável, porém didático ao mostrar como a guerra às drogas virou um salvo-conduto para invadir casas e fazer prisões inescrupulosas. Basta uma denúncia, e a presunção de inocência vai por água abaixo. Não é à toa que pelo menos um e-mail por dia é enviado aos Consultores Jurídicos do Growroom, no endereço sos@growroom.ne . Os consultores fornecem auxílio gratuito a usuários presos injustamente por plantar maconha em casa.

É óbvio que o Growroom não apoia qualquer tipo de agressão a mulheres, seja física ou verbal.  Caso o cantor tenha, de fato, cometido tais erros, que repudiamos com veemência, deve pagar por seus atos. O que não conseguimos é ficar calados perante a mais uma manobra policial que tem no uso e no cultivo da maconha um atalho para atropelar direitos.

Para se condenar um cidadão por tráfico de drogas, deve-se ter provais cabais que sustentem uma acusação tão grave, que gera pena de 5 a 15 anos de prisão. E, por conta da esquizofrênica lei de drogas brasileira, vemos diariamente acontecer o contrário em atuações desastrosas da polícia, que suprimem a necessidade de investigações decentes e sérias, insistindo num modus operandi injusto e desonesto.

Não nos curvaremos diante da criminalização torpe de usuários e cultivadores de maconha. Que cultiva maconha no Brasil busca uma forma de deixar a roda-viva do tráfico, e não de traficar. Jardineiro não é traficante, cantor não é traficante.

Basta de presos por plantar!

Fonte: growroom