Reitor da Universidade de Lisboa aborda dilemas para o professor universitário do século XXI em palestra na UnB

No Beijódromo da UnB, ocorreu a penúltima palestra do Ciclo de Diálogo com o reitor honorário da Universidade de Lisboa, Antônio Nóvoa. O tema foi “O professor universitário no século XXI”. O discente apresentou, dentro de um contexto global conectado pela internet, o choque entre as realidades do modelo tradicional, que rege uma universidade, e as ingerências mercadológicas, como o mercado editorial



O reitor honorário da Universidade de Lisboa Antônio Nóvoa, sobre o tema “O professor universitário no século XXI”, enumerou cinco dilemas vividos pelos professores atualmente. O primeiro é o ensino, em suas palavras: “hoje fantasiamos que damos aula para alunos dispersos em enormes anfiteatros”.  Para Nóvoa, o ensino precisa passar por uma construção em que ele próprio deve ser discutido como prioridade dentro de uma sala de aula.

O segundo dilema proposto pelo acadêmico foi em relação à pesquisa. Embora tenha comemorado o aumento nas publicações científicas nos últimos tempos, observa que “as carreiras acadêmicas estão sendo controladas pelo mercado editorial, que influencia até mesmo no direito autoral”, dispara. Na concepção de Nóvoa, é aguardada originalidade na produção científica. E devido à necessidade da produção em série, são geradas muitas maneiras diferentes de falar do mesmo material, com “até mesmo casos de plágio”. 

Nomenclatura obsoleta

“O modelo hoje da extensão universitária ainda é de uma época em que a academia tinha a missão de levar o conhecimento para a sociedade, pois eleera restrito aos muros da universidade”. Hoje as informações estão disponíveis em todos os lugares das mais diversas formas.  Logo, questiona o convidado internacional, como a UnB pode criar conexão com a população, com aeconomia, sem a ingerência de poderes econômicos e políticos?  Dentro desse contexto, ele fala da importância em ter uma palavra pública. 
“Percebemos hoje que quem ganha prestígio são os que conseguiram ter palavra pública. Hoje essa intervenção pública é o que caracteriza as grandes universidades”, pondera.

No quarto dilema proposto, e consciente do fato deque nossas carreiras são pautadas por ordens mundiais, o reitor diz que internacionalização da universidade hoje é limitada à ritualização presente em congressos internacionais.  “Só vamos a eles para cumprir protocolos e toda a informação já está disponível na internet”. Outro problema identificado pelo catedrático é que as grandes instituições mundiais são financiadas por alunos estrangeiros revelando a desigualdade no mundo das universidades. 

Para concluir, o último dilema apresentado por Nóvoa é que a gestão interna e a vida democrática não podem ser sistemáticas ou burocráticas. Atento à pátria a qual visita, onde presta consultoria à Unesco, ele dá dois exemplos tirados da literatura brasileira que podem servir como inspiração para os dois últimos dilemas propostos. Sobre a internacionalização e a voz pública, reproduz uma citação direcionada a Ariano Suassuna, “que só se tornou um escritor universal porque utilizou sua linguagem própria, não porque seguiu a literatura universal”. Sobre o conflito gestão interna versus participação sistemática e burocracia, ele parafraseia João Guimarães Rosa: “a universidade é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar".

Fonte: UnB