‘BARRIGA’ DA COPA: As lições do espanto

Barrigada: você está fazendo isso errado (Imagem: Blog falafoca).
O tamanho do estrago ainda está para ser dimensionado, mas o episódio em que o veterano jornalista Mario Sergio Conti comete um erro primário ao confundir um sósia com o técnico da seleção brasileira de futebol e pensa estar diante de um furo de reportagem representa, indiscutivelmente, um forte abalo no valor mais precioso que qualquer jornal pode ter: a credibilidade, ainda mais necessária na fluidez do mundo virtual em que passamos a viver.
Amplamente ridicularizado nas mídias sociais, o caso expôs pelo menos dois problemas fundamentais para o jornalismo: o tratamento privilegiado concedido aos medalhões, que não passam pelo crivo imposto aos demais repórteres, e a inabilidade da cúpula das redações em lidar com o erro, que em tempos de internet se espalha e se desdobra com uma velocidade assustadora.
A sucessão de equívocos, associada a um contexto desfavorável, leva a aplicar a este caso a metáfora do acidente de avião. Um acidente particularmente espetacular, pois foram dois boeings abatidos no mesmo dia: dois dos três maiores jornais do país viram-se repentinamente diante de uma situação inesperada, absurda, constrangedora. E custaram a reagir adequadamente, o que só aumentou a dimensão do desastre.
A história
Recapitulemos: no fim da tarde de quarta-feira (18/6), o colunista Mario Sergio Conti, ex-diretor de Redação de Veja e do Jornal do Brasil e atual colunista do Globo e da Folha de S.Paulo, embarca num avião da ponte aérea Rio-São Paulo e se depara com o que imagina ser o técnico Luiz Felipe Scolari e o atacante Neymar. Por sorte – ou azar – senta-se ao lado do suposto Felipão e começa a puxar conversa. No final, convida-o a participar de seu programa de entrevistas na GloboNews. O interlocutor ri, diz que está muito ocupado e lhe entrega um cartão com sua identificação, mas o jornalista entende como uma brincadeira, como se o técnico lhe estivesse indicando um sósia para o programa.
Em seguida, comunica-se com a direção de Redação dos dois jornais para vender o “furo”. Animados, os diretores repassam a matéria às respectivas editorias de Esportes.
Já é noite, todos estão ocupados com o fechamento do jornal e com o noticiário on line. A maioria dos repórteres que cobre regularmente a seleção estava em trânsito, após o empate do Brasil com o México.
A matéria é editada. O erro só é detectado horas depois. O Globo consegue substituir o arquivo enviado para a gráfica, mas só corrige a edição digital pela manhã. A Folha não tem a mesma sorte e é obrigada a descartar parte da edição – cerca de 70 mil exemplares –, impressa com o texto errado.
Leia a íntegra da análise de Sylvia Debossan Moretzsohn, publicada no Obervatório da Imprensa, da barrigada de Mauro Conti.