A Geni, o Papa, a P2 e os ninjas

Obs. do blogueiro: Vale a pena ler o texto abaixo intitulado "Papa, P2 e os ninjasde autoria da ombudsman (ou seria ombudswoman?) da Folha de S. Paulo Suzana Singer que, a exemplo do artigo “A militância e as responsabilidades dojornalismo”, de  Sylvia  Moretzsohn, mostra que os profissionais da  Rede Globo não são bons só de apanhar e de cuspir.
Folha não investe em denúncias surgidas na rede e fica para trás na cobertura da visita de Francisco


A melhor resposta aos que vaticinam a morte da grande imprensa, que estaria prestes a ser substituída pelas redes sociais e pela mídia alternativa, é o bom jornalismo.

Foi isso que a Globo fez nesta semana durante a cobertura da visita do papa Francisco ao Brasil. O clima de "Aleluia, o santo padre está entre nós" imperou, mas não impediu o "Jornal Nacional" de mostrar, com contundência, os problemas de organização que submeteram os peregrinos a um calvário no Rio.

Não faltou espaço também para desmontar a versão oficial sobre um dos presos no confronto entre manifestantes e policiais, que se travou na frente do Palácio Guanabara, na noite de segunda-feira.

Reportagem no "JN" mostrou que o manifestante que ficou mais tempo preso não tinha sido flagrado com coquetel-molotov, como alega a polícia. Bruno Ferreira Teles, o detido, pediu ao Mídia Ninja, grupo alternativo que transmite os protestos pela rede, que buscasse vídeos que provassem sua inocência.

Quem fez isso foi a Globo: conseguiu pegar o inquérito, no qual um PM diz que o rapaz não estava com explosivos quando foi preso, e editou imagens, feitas pela emissora e por amadores, que mostravam o momento da captura de Bruno.

Parecia um recado da TV, que vem sendo alvo dos protestos que tomaram as cidades brasileiras: "Não precisa de mídia alternativa para questionar as autoridades".

Na terça-feira, o "JN" já havia citado a acusação, que surgiu nas redes sociais, de que um policial infiltrado entre os manifestantes teria jogado o primeiro coquetel-molotov.
O assunto despertou a atenção também do "New York Times", que publicou, em seu site, uma grande reportagem em que comparava uma dúzia de vídeos, além de fotos, na tentativa de esclarecer a participação dos agentes infiltrados (http://migre.me/fBtD7).

Por causa da Globo, do "NYT" e das redes sociais, a polícia do Rio assumiu que usa "P2" (policiais sem farda dispersos na multidão), mas negou que esses homens tenham participado de atos de vandalismo.

Enquanto isso, a Folha comeu poeira. Fez uma boa apresentação da visita papal, com uma pesquisa que registrou a diminuição no número de católicos no país, publicada no domingo passado, mas foi lenta quando a festa de fato começou.

O jornal só foi dar o devido destaque aos problemas de infraestrutura no Rio na sexta-feira, quando o campo de Guaratiba, enlameado, foi descartado para os eventos da Jornada Mundial da Juventude.

Faltou também atenção à celeuma em torno da prisão dos manifestantes. O jornal parece não ter levado a sério as denúncias que surgiram na internet.

Não dá mais para cobrir os protestos à moda antiga, contando apenas com o que os seus repórteres viram, a versão da polícia e as imagens das grandes emissoras. Além do Ninja (sigla de Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação), há centenas de filmagens feitas por manifestantes, que mostram a mesma cena em "n" versões.

É preciso levar em conta essas novas fontes de informação -sempre com um olhar crítico, já que a maior parte dessa produção é disponibilizada na internet para confirmar teses pró-ativistas (no caso do Rio, tentar provar que a violência parte da própria polícia).

No momento, blogs e redes sociais não têm capacidade nem qualidade para tomar o lugar da mídia convencional, mas servem de agente provocador. Desafiada, a imprensa convencional precisa repensar seu jeito de trabalhar e mostrar jornalismo de qualidade.

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