Roberto Civita morre em São Paulo aos 76

Folha de S. Paulo



Criador da ‘Veja’, maior revista semanal do país, presidente do Grupo Abril morreu devido à falência de múltiplos órgãos. De origem italiana, Roberto veio para o Brasil em 1950, quando seu pai criou a Abril, e lançou ‘Veja’ em 1968

O empresário Roberto Civita morreu ontem em São Paulo aos 76 anos, devido à falência de múltiplos órgãos. De origem italiana, era presidente do Grupo Abril, uma das maiores empresas de comunicação no país, e editor da “Veja”, a maior revista semanal do país.

Era também diretor editorial da Abril S.A., com 9.000 funcionários e faturamento de R$ 2,98 bilhões em 2012, da qual faz parte a Editora Abril. Fundada em 1950 pelo pai de Roberto, a editora publica 52 títulos, entre eles as revistas “Exame”, “Claudia”, “Playboy” e “Quatro Rodas”.

Em entrevista ao jornal “Valor Econômico” em 2012, ao falar sobre as reações fortes provocadas pela “Veja”, revista que com o passar dos anos se tornou mais assertiva e polêmica em suas posições editoriais, Roberto Civita defendeu o título.

“Se você não está gerando reações fortes, está fazendo algo errado. Não acredito em imprensa que quer agradar a todo mundo. Por que você faz uma revista? Só para ganhar dinheiro? Eu acho que vem junto uma responsabilidade. Eu falo isso há 50 anos… Para todo mundo. Para os meus filhos. Eles não gostam, mas eu falo. Se você não quer ter a responsabilidade, vai fazer álcool, vai plantar batata.”

Filho do empresário Victor Civita e de Sylvana Alcorso, Roberto Civita nasceu em Milão em 9 de agosto de 1936. Três anos depois, sua família abandonou a Itália quando o regime fascista intensificou a perseguição contra os judeus. Em 1939, partiram para Londres, onde nasceu o irmão Richard. Depois, seguiram para os EUA.

A família viveu dez anos nos EUA, país em que seu pai se tornou sócio de uma fábrica de embalagens. Em 1949, visitou a Itália, onde Victor reencontrou seu irmão César, que havia se estabelecido na Argentina e lá editava a revista “El Pato Donald”, sob licença da Disney. César lhe disse que o Brasil lhe parecia um mercado promissor, e Victor foi para São Paulo.

Sua família o seguiu em 1950, quando lançou a edição brasileira de “O Pato Donald”. Roberto fez o segundo grau em São Paulo, mas em 1953 voltou aos EUA, onde se formou em jornalismo pela Universidade da Pensilvânia e em economia pela Wharton School, em 1957.

Retornou ao Brasil em 1958 para trabalhar na editora do pai. Em 1966, lançou a revista “Realidade”, inspirada na “Life”. Um ano depois, criou “Exame”, inicialmente um suplemento das revistas técnicas da divisão Abril-Tec e, a partir de 1971, uma revista autônoma. Em 1968 lançou “Veja” e, em 1975, criou a “Playboy” brasileira.

Em 1982, o conglomerado foi dividido, e Roberto ficou com as revistas. Após a morte do pai, em 1990, procurou diversificar o grupo: criou a MTV em 1990, a TVA em 1991 e a DirectTV em 1996. As dívidas contraídas, porém, o obrigaram a se desfazer de parte dos empreendimentos. Em 1999, saiu da DirectTV e, em 2012, desfez-se da TVA.

Estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, havia três meses. O velório será hoje, às 11h, no crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra (SP).

Deixa a mulher, Maria Antonia, os filhos do primeiro casamento Giancarlo, Victor Neto e Roberta Anamaria, e seis netos e enteados.