Aplicativos para encontros presenciais – algumas considerações

No livro Comportamento em lugares públicos, Erving Goffman realiza descrições de situações interacionais a darem conta de aspectos comportamentais de padrões socialmente aceitos, com foco específico sempre nas interações face a face, ou seja, de “presença física imediata” entre as pessoas. Uma das questões norteadoras do trabalho se dá quanto à formação dos ajuntamentos, descritos como “todas as ocasiões em que duas ou mais pessoas estão conscientes das presença da(s) outra(s)” (p.18). Esse é, pois, o componente básico para o processo interacional que daí se poderá observar. Se os indivíduos A e B não se sabem presentes, não há como eles traçarem qualquer parâmetro em comum para qualquer interação que seja – uma ideia básica, pois, contida na palavra comunicare. Existem, contudo, considerações diversas que fogem do objetivo do autor. Como, por exemplo, se constituirão as situações(os contextos materiais em que se dão os ajuntamentos) e as ocasiões sociais(os acontecimentos, as realizações de cunho semântico)? Cada ocasião se dará por razões específicas (festas, congregações, assuntos e querelas pontuais…) e em situações singulares (a espacialidade do local junto aos seus significados próprios para os membros do ajuntamento que ali estão). Assim, menos importante que as motivações, são as formas e caminhos tomados no contexto interacional que ganham as atenções de Goffman.

Dito isto, é pertinente observar como nossos comportamentos em situações públicas têm se transformado com o advento de dispositivos midiáticos – e, mais uma vez, o foco está no como, não no porquê. A própria TV e o rádio, meios massivos tradicionais, trazem implicações não só quanto às nossas disposições físicas, mas também quanto a nossa atenção (pensemos no que se faz – e o que se pode fazer – num bar em dia de jogo de quartas de final, por exemplo). O mesmo vale para o livro, com a instituição da leitura silenciosa e a transformação da narração, ou ainda para os sinos de igrejas em cidades pequenas, os quais produzem práticas espaciais, interacionais e culturais singulares e acabam atuando como meios de comunicação na medida em que informam a hora da missa, por exemplo. Ai de quem fingir não ter ouvido o badalar. Mais