"a velocidade da informação tem produzido uma igual necessidade de se posicionar rapidamente sobre um tema, gerando visões simplórias e esvaziadas de sentido"
Há algum tempo tenho refletido sobre o lugar comum que se tornou o discurso sobre as redes sociais. O indivíduo passou a ocupar um lugar central no processo de comunicação atual, cujas características mais marcantes são a assimetria, a sincronicidade e o fluxo de informação de mão dupla. Tem-se um feedback quase instantâneo sobre determinada postagem, produtos recém lançados são compartilhados e campanhas são alavancadas quase como um vírus (sim, ser viral tornou-se um valor nos dias de hoje).
Em meio a este cenário positivo e promissor, há de se repensar algumas questões. A existência dos canais não garante, de forma natural, a qualidade da mensagem. E, de forma preocupante, a opinião – maior valor no ambiente democrático – tornou-se artigo descartável, dada a existência de um fenômeno que chamaria aqui como a “vontade irresistível de se posicionar”. As pessoas têm sempre uma visão já fechada, que invariavelmente se apresenta de forma maniqueísta. Ou idolatra-se uma temática, marca ou pessoa, ou odeia-se a mesma.
Observa-se que a velocidade da informação tem produzido uma igual necessidade de se posicionar rapidamente sobre um tema, gerando visões simplórias e esvaziadas de sentido. Pouco são os comentários que nos conduzem a outras perguntas, a uma reflexão ou simplesmente pouco são os posicionamentos que corajosamente exprimem dúvidas. Em contrapartida, lê-se amor e ódio gratuito, que nos leva a uma clara reflexão: “O botão comment deve ser sempre clicado?”
As empresas buscam trabalhar a solidez de sua marca a partir do relacionamento com seu público, neste caso, com este público aqui descrito, cada vez mais transitório e mais impulsivo em seus posicionamentos. Ao invés de feedbacks mais consistentes, os números de views, curtidas e shares passam a mediar esta relação entre empresa e o gosto do público. Na ausência deste retorno mais qualificado, substituído pelo “curti” ou pelo “odiei”, tem-se muito pouco de informação de qualidade para as empresas. A “vontade irresistível de se posicionar” indica, portanto, sempre as tendências, para onde vai este gosto do público mas não depreende as reais motivações, causas e interesses. Este é um desafio para a área de RP: entender seu público além dos indicadores das redes sociais.
Ao escrever este texto, pensei nas inúmeras vezes em que desci a minha barra de rolagem em matérias em portais e sites de notícias, e no vazio que geralmente percebo nos comentários. Não é preciso escrever um tratado em uma resposta, não advogo em prol de um retrocesso dos meios de comunicação. Porém, devemos estar atentos a este “ter algo a dizer” que não traz valor e, em outra esfera, ao mar de números utilizados para validar o sucesso ou insucesso de um produto ou campanha. Escrevo este texto por acreditar em uma web mais construtiva, por crer que há vida inteligente nos 140 caracteres.
Via Blogrelações