Seja feliz, demita-se

Eu nunca cheguei a conhecê-lo mas sempre o achei triste. A impressão vinha das vezes em que nos cruzamos pelos corredores da emissora. Era muito gordo e baixo e usava um rabo de cavalo que não dava conta de esconder o início da calvície. Caminhava com dificuldade, sempre fumando um Marlborão vermelho, exalando tédio e cansaço.

Só o vi sorrir uma vez. Na verdade foi no mesmo dia em que ouvi sua voz pela primeira vez. Estava estranhamente radiante. As mãos tremiam de empolgação, segurando um cigarro que não fazia questão de acender. O motivo? Acabara de ser demitido.

– Vou pra Bahia, deitar embaixo de um coqueiro e fumar um quilo de maconha – dizia rindo feito criança.

Eu olhava aquele pobre ser humano, que durante dez anos trabalhou sem vontade, acumulando banha e alcatrão, e secretamente o invejava. Na vida, há poucos prazeres comparáveis a abandonar um emprego.

Tive essa grata experiência algumas vezes e frequentemente sonho em repeti-la. A mais memorável aconteceu há uns quatro anos, na Folha de S.Paulo. Estava terminando um período de cinquenta dias cobrindo férias no caderno Cotidiano. Trabalhava muito, ganhava pouco, não tinha benefícios e sempre acabava com as tarefas mais ingratas.


Leia a íntegra do texto de Tomás Chiaverini publicado no Nota de Rodapé.