ESPAÇO ABERTO - Debate de idéias – Informativo da Associação dos Docentes da UFMT – Adufmat - nº 170/2012




GREVE E DESACORDOS
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT

A atual greve das universidades e institutos federais, em breve, poderá ser a mais longa das já realizadas no ensino superior.
De minha parte, nunca duvidei de que teríamos enormes dificuldades para garantir o diálogo com o governo Dilma/PT. Dito e feito. A resistência governista já é a mais forte do período pós-ditadura.
Desde o início do movimento, buscamos discutir nossas propostas para a reorganização da universidade. Para isso, centralmente, pretendemos: 1) reestruturar a carreira; 2) garantir autonomia acadêmica das atividades; 3) assegurar condições dignas de trabalho; 4) garantir alguma recomposição salarial. Do serviço público, nossos salários são dos mais baixos.
No entanto, toda tentativa de diálogo com o governo foi frustrada. Motivo: nosso projeto de universidade é oposto à concepção de universidade pensada pelo governo/sistema. Com muita honra, estamos lutando por uma universidade pública, gratuita, laica, de qualidade e socialmente referenciada.
Da parte do governo há articulações para consolidar a privatização do ensino superior. De maneiras várias, para a satisfação do governo, o mercado já é referência para muitos da academia; e pela sociedade brasileira, chegou a hora da interrupção e reversão desse processo.
Aqui está o enrosco. Aliado a isso tudo, as universidades e institutos têm servido ao governo petista para vender a ilusão daquilo que ousam chamar de inclusão. Através de irresponsáveis programas de expansão, como o Reuni, o governo vem superlotando as estruturas das instituições federais e esgotando as forças físicas e mentais dos docentes.
As universidades já podem ser comparadas, em termos de superlotação e falta de profissionais suficientes para o desempenho das atividades, aos presídios. Neles, quando a superlotação chega ao limite, explodem os motins. Nas universidades e institutos, as greves.
Agora, por conta dessa intransigente postura política do governo, agradeço o próprio governo, na pessoa de Dilma Rousseff. Afinal, desde a implantação do programa neoliberal por Collor (1990), culminando com a presença de Lulla (esta grafia marca minha leitura política desse agente do capital) na Presidência por oito anos, os sindicatos entraram num processo de esvaziamento “nunca antes vivido na história...” Muito disso se deu por conta de cooptação de lideranças que amorteceram várias categorias.
Essa prática não isentou as universidades. O governo Lulla criou um sindicato pelego (Proifes) para arrebentar com o ANDES, nosso verdadeiro Sindicato Nacional. E foi com os pouquíssimos traíras do Proifes, de pouquíssimas universidades, que o “acordo” da proposta do governo foi assinado e anunciado na mídia. Todos covardes.
Todavia, como a maioria dos docentes não reconhece o Proifes, a greve continua; e forte! Mas mais do que a greve continuar, o importante é que muitos docentes retornaram às assembleias de base do ANDES-SN. Elas estavam esvaziadas.
Esse retorno, somado à chegada de novos e bravos colegas, advindos dos poucos concursos havidos, tem nos possibilitado discutir – madura e emocionante – o ensino superior, bem como a situação geral do próprio país. Tudo isso com o apoio da maioria dos estudantes.
Por isso, sou grato a Sra. Dilma. A intransigência de seu governo tem contribuído para a nossa reorganização. Estava difícil. Ficou mais fácil.
Quanto ao 31/08, ele não passa de uma data como outra qualquer. Quando se quer, mexe-se no orçamento da União em qualquer momento. Logo, nem o mundo e nem a greve acabará ali. Quem viver verá.