Direito de escolha: as idas e vindas de Ana Lúcia



por Luana Santana

Ana Lúcia Martini Schmidt fica à vontade em sua cozinha enquanto faz o almoço. Aos 57 anos ela domina como ninguém a arte da culinária e declara em meio às panelas e sorrisos: “Nasci para ser uma mãe de família”. Comprova tudo ao dizer que se aposentou cedo na carreira de promotora pública, no Estado de São Paulo, para se dedicar ao lar.

Ana Lúcia veio de uma família grande do interior paulistano, o que também é visível no sotaque ainda carregado. É a penúltima de oito irmãos, dos quais apenas dois são homens. Não se lembra da época em que morou na fazenda, pois aos dois anos se mudou para a cidade de Pirassununga (SP), na qual permaneceu até os 20, quando foi para Ribeirão Preto com o objetivo de prestar vestibular em Medicina. Nesse período, morou em um pensionato e se recorda com carinho de uma colega de quarto que recebeu o apelido de “japonesa” por ser baixinha e ter olhos pequenos. “Eu, a japonesa e outra colegas fazíamos muita bagunça no pensionato”, relembra.

Não obteve sucesso com a Medicina e então foi para São João da Boa Vista (SP) cursar Ciências Econômicas. Ana Lúcia insiste em mostrar as fotos dos tempos de faculdade. O álbum é bem cuidado, tão congelado e nítido como as lembranças que são narradas. “Foi uma época muito boa, todo mundo tão jovem e bonito”, ressalta.

Durante o curso trabalhou em um escritório de contabilidade que logo ficou para trás, pois o desejo maior era o Fórum da cidade. “Eu passava em frente ao prédio do Fórum e falava que um dia ia trabalhar lá”, relata. Logo depois de formada ingressou no curso de Direito e trabalhou como escrivã no órgão até ser aprovada no concurso para promotora. O objetivo, a principio, era se tornar juíza, mas conheceu seu marido Jorge Luis Schmidt no meio deste percurso e a vontade de construir uma família falou mais alto.

Pouco tempo após o nascimento do primeiro e único filho, Jorge Guilherme Schmidt Neto, entrou com o pedido de aposentadoria, em 1997. “Quando saiu no Diário Oficial a notícia sobre a minha aposentadoria todo mundo foi pego de surpresa porque eu era nova para me aposentar, mas eu queria era cuidar do meu filho, da minha casa”, conta. Desde então se diz uma dona de casa encantada com Mato Grosso. Porém o percurso que levou a promotora paulistana aposentada até a cidade de Barra do Garças foi longo.


O caminho
As frequentes mudanças de cidade giraram em torno das transferências do marido, que era gerente de banco. “A gente mudava muito por conta do trabalho do Schmidt”. Passou por Tietê (SP) – cidade em que ficou por um ano e meio –, Bragança Paulista (SP) – onde permaneceu por três anos e meio –, voltou para Pirassununga e ficou por mais dois anos. Em 2006 a família decidiu retomar as raízes rurais e comprar terras em Mato Grosso para investir em gado de corte, atividade na qual permanece até hoje.


Balanço
Ana Lúcia diz achar engraçado o fato de ter saído da fazenda, passar por tudo isso e então voltar para o campo. Falou que gosta muito de receber e fazer telefonemas para os amigos e familiares que deixou espalhados pelos lugares por onde passou. “Me sinto realizada e grata pelas experiências e pessoas que encontrei durante essas idas e vindas”.


Texto elaborado na Oficina de fontes não-oficiais, ministrada pelo professor Gibran Lachowsky durante o I Simpósio de Jornalismo e Direito. Os certificados do Simpósio de Jornalismo e Direito já estão disponíveis na área reservada. Acesse completando o login com os quatro últimos números do código de inscrição e o seu CPF. Na área reservada há uma lista de todos os inscritos no evento e seus respectivos códigos de inscrição para consulta.