José Marques de Melo fala sobre as novas diretrizes dos cursos de jornalismo

No início do ano, o Ministério da Educação (MEC) instituiu Comissão para revisar diretrizes dos cursos de jornalismo. Até chegar ao texto final, entregue ao MEC no dia 18 de setembro, foram pouco mais de seis meses de reuniões mensais e audiências públicas.

Agora, depois de ser analisado pelo MEC, texto será encaminhado para o Conselho Nacional de Educação. Professor José Marques de Melo, presidente da Comissão, esclareceu principais pontos abordados, em entrevista a Hugo Passarelli, na sede da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) em São Paulo. Sobre uma possível falta de diretrizes mais direcionadas às novas tecnologias, ele avisa: “O mundo hoje não se reduz à internet”. A seguir, trechos dessa conversa.

A formação e trabalho da Comissão foi indicação foi feita por competência. Eu convidei sete pessoas que são competentes na área e tinham disposição para trabalhar voluntariamente, já que esse era um trabalho não remunerado. Esse documento não é o que eu penso e nem o que os membros da comissão pensam. É um apanhado geral, uma tentativa de obter um consenso nacional em relação às diretrizes.

As diretrizes anteriores eram burocráticas e exigiam disciplinas Nós não estamos burocratizando nada. Nós estamos, na verdade, incitando as universidades à criatividade. Cada um vai ter de fazer o seu projeto pedagógico e aplicar as diretrizes de acordo com as suas condições locais e regionais. às aspirações dos estudantes, mas também às aspirações das empresas e da sociedade.

Quanto a repercussão, a esperança das pessoas em relação a esse documento é o que eu costumo chamar de “complexo do colonizado”. A gente sempre imagina que existe uma coisa mais avançada fora do País e quer trazer isso para cá. Nós trabalhamos com outra lógica, que é a das necessidades nacionais. Nós não precisamos ter um curso de jornalismo neste momento além do que nós já temos. Nós não vamos fazer um currículo para implantar coisas da pós-modernidade para atender a meia dúzia de grupos que querem elementos super sofisticados. Estamos pensando em cursos de jornalismo capazes de formar jornalistas que vão arranjar emprego na sociedade que nós temos. Eu espero, aliás, depois que fizermos uma avaliação daqui a cinco anos, constatar que houve alguma mudança. Vai depender das escolas. Se elas não fizerem nada, elas vão continuar como estão.

As expectativa do mercado de trabalho, não requer técnica [os órgãos de imprensa]. Eles querem profissionais que tenham bagagem cultural suficiente para não precisar passar uma pauta e dizer “você vai ler primeiro dois livros para você saber do que você vai tratar.

Estágio será obrigatório. Em qualquer profissão é uma observação da realidade. Porque você aprende uma série de conhecimentos na faculdade que não são aplicados. Você não vai fazer o trabalho, você vai ver como é feito, vai acompanhar um profissional, e não ocupar o lugar de um profissional. Estágio é reivindicação histórica dos estudantes de jornalismo. É a única profissão neste País em que o estágio supervisionado é proibido.

Nos trabalhos de Conclusão de Curso, o aluno pode integrar uma equipe e entregar a parte dela, mas a avaliação é feita individualmente. Ele tem de provar que tem capacidade de fazer. Integrar uma equipe é fundamental na atividade do jornalista.

As novas Tecnologias do mundo hoje não se reduzem à internet. Nós não acreditamos que deva haver ênfase em novas tecnologias. Nós estamos propondo um equilíbrio na formação. Mas se a faculdade quiser um curso com matérias mais específicas sobre isso, ela pode fazer. Nós estamos abrindo as possibilidades para a criatividade e a imaginação. Nós esperamos que as faculdades procurem ter suas identidades. Nos Estados Unidos, cada faculdade de jornalismo tem uma personalidade.
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