Rolezinhos na ordem do dia


 
Assim, pode-se acreditar que o progresso da pós-modernidade causa a aparente mudança na geografia urbana, com visibilidade social e modo de fazer política

Por Antonio Silva

O rolezinho nos shoppings vai criando um debate caloroso na sociedade e causando preocupação aos empresários do setor, que não sabem como conter a onda de jovens, principalmente os da periferia, que marcam encontros no Facebook, com milhares de fãs para estes centros comerciais.

Somente o número de adolescentes juntos causaria grande temor a uma elite acostumada com a segurança dos lugares privados, feitos para dar conforte e tranquilidade. Se não bastasse, nos momentos ímpares de confraternização forma-se uma espécie de arrastam, alucinando os frequentadores tradicionais. Estabelecendo, portanto, uma crise de espacialidade – na relação entre diferentes classes sociais.

Mais uma vez surge a discussão sobre o comportamento de massa daqueles que mexem com o ritmo natural dos tradicionais lugares disciplinados. Não demorará surge a afirmação do interesse político ou mesmo falta dele – dependendo da fonte de análise. Em espécie de manada, os jovens querem subvertem a ordem, trazendo a periferia para os centros comerciais, seria o argumento hegemônico nos dias que passam.

Duas questões

Mesmo não havendo partidos, ou mesmo não acreditando em partidos políticos, a “(des)organização social” geram mudanças de comportamento na busca de ocupar espaços. Se há mudanças da ordem entre incluído e excluído se está diante de um ato político.

A tentativa de mudar o foco da discussão, ressaltando a pouca convicção dos jovens sobre as lógicas partidárias não resolve os problemas sociais brasileiros, que ficam cada vez mais visíveis na relação menos segura entre o centro e as periferias.

Outro ponto importante. Natural a mudança geográfica, no mundo moderno. Se em meados do século passado, havia namoros habituais nas praças, onde estava instalado um cinema ou uma igreja, não existe mais.

Aliás, os centros comerciais urbanos estão cada vez mais desabitados, dando  lugar ao comércio, com ocupação intensa nos horários de trabalho. Ou seja, os centros confortáveis onde viviam a classe alta migraram para as  periferias, com ricos empreendimentos habitacionais - com direito a toda infraestrutura, impossível para os marginalizados da ordem econômica.

Pós-moderno urbano

Neste momento, os jovens de todas as classes, inclusive aqueles os estrangeiros aos shoppings revelam o seu interesse pela ocupação  dos centros comerciais, como ocorreu com as avenidas e ruas das cidades, de um modo geral. O carro acessível a milhares de trabalhadores permitem o que  se pode chamar de "democracia" urbana, em que todos tem direito a trafegar pelas ruas, inclusive dos concorridos centros comerciais.

Por sua vez, a internet revolucionou a ordem e progresso, com a organização de encontros entre todas as classes, de maneira a tumultuar os tradicionais lugares de compras, com reconhecidos clientes.
Assim, pode-se acreditar que o progresso da pós-modernidade causa a aparente mudança na geografia urbana, com visibilidade social e modo de fazer política.

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Antonio Silva é Jornalista e  professor UFMT, Campus Araguaia.

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