Veja o texto e a foto vencedores do V Prêmio Depcom


Veja o texto e a foto de Graci Sá vencedores do Prémio V Depcom de Jornalismo da Universidade do Estado de Mato Grosso. A autora é aluna do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso - Campus Araguaia.

O tema proposto foi: "Toda história merece ser contada"

Sonhando acordado

Outro dia tive um sonho estranho, eu estava em 1964. O golpe militar tinha acabado de derrubar o presidente João Goulart e instalado a ditadura no Brasil. Eu usava roupas “antiquadas” e mantinha uma barbinha que não era minha. Estudava em uma escola pública e tinha uma vida bastante conturbada no meio disso tudo.

No sonho vi uma multidão de jovens, assim como eu, gritando pelas ruas. Eles gritavam palavras de ordens até ficarem roucos. Era a luta por um Brasil de eleições diretas, tinha gente de todos os setores da sociedade. Um pouco mais distante, outra multidão podia ser notada, todos estavam com a cara pintada com as cores do Brasil, amarelo e verde; as cores da revolução. Pensei que fosse ano de copa do mundo, mas logo percebi que a luta ali era outra, não era uma comemoração de gol do Brasil. Os cartazes não eram de ídolos do futebol nacional, eram reivindicações deles, minhas, de toda a nação.

Achei tão bonito aquilo, mas ao mesmo tempo tão longe da minha realidade, da minha época, acho que seria inimaginável ver a minha geração lutar daquele jeito, gritar daquele jeito, ir às ruas daquele jeito. Afinal, nós somos a geração “Zuckeberg”, e nos acostumamos a gritar sim, mas no silêncio dos caracteres, EM LETRAS GARRAFAIS. Enquanto aqueles estudantes formavam uma resistência contra o regime militar, expressando-se por meio de jornais clandestinos, músicas e manifestações.

A minha geração jamais se submeteria à agressões que aqueles jovens estavam recebendo somente pelo fato de se manifestarem. Vi do meu lado, nesse sonho louco, um jovem sendo agredido pela polícia. Ele caia ensanguentado, mas não parava de gritar, de se impor. E isso, jamais aconteceria com a minha geração.

Então acordei. Estou novamente em 2013. Que confusão! A televisão mostra milhares de estudantes se manifestando, gritando, reagindo, igualzinho no meu sonho. O que aconteceu? Fiquei confuso, será que a programação continuou a daquela época? Levantei e fui até a janela. De lá vinha o som de milhares de pessoa gritando seus direitos. É realidade!!! É a minha geração de pé, formando um exército de batalha a favor dos direitos do cidadão. Assim como eu, a minha geração acordou!


O texto também pode ser lido na edição 4 do InfoCampus. Para acessá-lo, clique na barra superior deste blog.


À pedidos, eis o texto e a foto vencedores do Prémio V Depcom de Jornalismo:
O tema proposto foi: "Toda história merece ser contada"


  Sonhando acordado
Outro dia tive um sonho estranho, eu estava em 1964. O golpe militar tinha acabado de derrubar o presidente João Goulart, e instalado a ditadura no Brasil. Eu usava roupas “antiquadas” e mantinha uma barbinha que não era minha. Estudava em uma escola pública e tinha uma vida bastante conturbada no meio disso tudo.
No sonho vi uma multidão de jovens, assim como eu, gritando pelas ruas. Eles gritavam palavras de ordens até ficarem roucos. Era a luta por um Brasil de eleições diretas, tinha gente de todos os setores da sociedade. Um pouco mais distante, outra multidão podia ser notada, todos estavam com a cara pintada com as cores do Brasil, amarelo e verde; as cores da revolução. Pensei que fosse ano de copa do mundo, mas logo percebi que a luta ali era outra, não era uma comemoração de gol do Brasil. Os cartazes não eram de ídolos do futebol nacional, eram reivindicações deles, minhas, de toda a nação.
Achei tão bonito aquilo, mas ao mesmo tempo tão longe da minha realidade, da minha época, acho que seria inimaginável ver a minha geração lutar daquele jeito, gritar daquele jeito, ir as ruas daquele jeito. Afinal, nós somos a geração “Zuckeberg”, e nos acostumamos a gritar sim, mas no silêncio dos caracteres, EM LETRAS GARRAFAIS. Enquanto aqueles estudantes formavam uma resistência contra o regime militar, expressando-se por meio de jornais clandestinos, músicas e manifestações.
A minha geração jamais se submeteria à agressões que aqueles jovens estavam recebendo somente pelo fato de se manifestarem. Vi do meu lado, nesse sonho louco, um jovem sendo agredido pela polícia. Ele caia ensanguentado, mas não parava de gritar, de se impor. E isso, jamais aconteceria com a minha geração.
Então acordei. Estou novamente em 2013. Que confusão! A televisão mostra milhares de estudantes se manifestando, gritando, reagindo, igualzinho no meu sonho. O que aconteceu? Fiquei confuso, será que a programação continuou a daquela época? Levantei e fui até a janela. De lá vinha o som de milhares de pessoa gritando seus direitos. É realidade!!! É a minha geração de pé, formando um exército de batalha a favor dos direitos do cidadão. Assim como eu, a minha geração acordou!