A revolução digital tem causado grandes transformações na educação dos
tablets, dos Moocs e
das simulações em 3D. Em meio a essa nova era onde fala-se muito em educação
digital e menos de uma formação para a educação digital, especialistas chamam
atenção: boa parte dos professores não sabe lidar com essas mudanças. “É muito
claro que os governantes estão com uma vontade de levar a tecnologia para
dentro da sala de aula, no entanto o que mais me preocupa é ouvir notícias
sobre a compra de milhares de tablets e nenhuma sobre capacitação de
professores para o uso deles”, afirma Martha Gabriel, autora do livro Educ@r – A (r)evolução Digital na Educação,
lançado ontem pela Editora Saraiva. A publicação de Martha tem a proposta de
ajudar professores, educadores e até pais para a entenderem e acompanharem as
tendências tecnológicas.
A principal delas refere-se ao novo papel do professor. Martha, que é
engenheira de formação pela Unicamp e professora acadêmica, reforça a ideia do
educador também ser visto como um designer de currículo. Ela afirma que
o docente precisa deixar de ser um conteudista para voltar a ser como no tempo
de Sócrates, um “catalisador de conexões e reflexões” focado em seus alunos.
“Antigamente os alunos precisavam única e exclusivamente do professor para
chegar até à informação, ao conhecimento. Hoje, não, pelo contrário. O
estudante encontra o que quer e a qualquer momento na internet”, afirma ela,
que também é especialista em marketing e artes e já ministrou mais de 50
palestras nos Estados Unidos, Europa e Ásia.
“Se um aluno das classes C,D, e E compra um smartphone, por que um
professor não consegue? Ele nunca vai aprender a ser digital sem usar e
deve se responsabilizar por essa inclusão”
“Assim como no mestrado e doutorado, onde os estudantes tem a figura de
um orientador por meio de um ensino dirigido, no ensino fundamental não será
diferente”, diz a pesquisadora. “A escola não está mais confinada na parte
física. Ela continua para além dos muros. A participação digital está em
constante ascensão por conta dos Moocs”, afirma ela apontando para os pioneiros
Coursera e edX.
Para a especialista, o professor é o único responsável por sua inclusão
digital para a educação. “Se um aluno das classes C,D, e E compra um
smartphone, por que um professor não consegue? Ele precisa e deve se
responsabilizar por essa inclusão. O professor nunca vai aprender a ser digital
sem usar. Imagine que num futuro breve as aulas serão feitas por meio de
holografias a partir de simulações de ambientes incorporados dentro da escola”,
diz.
Enquanto toda essa tecnologia não chega em grande escala à escola, Martha
sugere que parte dos investimentos destinados à educação seja direcionada à
tradução dos bons materiais feitos lá fora – como no edX,Coursera e Khan
Academy. Estes dois últimos, já vêm sendo traduzidos pelaFundação Lemann.
Ela vai mais além e aconselha que secretarias de educação tornem-se
parceiras de iniciativas como essas para a criação de políticas públicas.
“Parte do investimento poderia ser convertido para traduzir bons conteúdos de
fora, gastando menos, uma vez que seria desnecessário produzir os mesmos
materiais. Enquanto o resto do dinheiro poderia seria destinado à produção de
conteúdos pelos próprios professores, especialmente na área de humanas, como
literatura brasileira, história do Brasil, entre outros”, afirma. “Não adianta
fazer um PDF. É preciso bons vídeos, que sejam curtos e diretos, com uma
didática bacana, como acontece nos vídeos do Khan”, emenda.
Martha aconselha os governos a começarem de forma mais tímida, a partir
de concursos em que professores possam competir na criação desses materiais e,
inclusive, serem premiados por isso. “Não precisa começar nada grande. É
começar como um estímulo aos educadores. De forma simples, assim como fez o
Khan. Tem gente muito boa fazendo muitos conteúdos interessantes. Só precisam
de um ponta-pé”, diz a especialista que não apenas fala de tecnologia na
educação em seu livro, como também o produziu de uma maneira em que o mundo
físico se integra ao conteúdo digital.
Livro interativo
Na publicação Educ@r – A (r)evolução Digital na Educação, ao decorrer da
leitura dos textos, o leitor encontra referências, como a de Salman Khan,
podendo, a partir de um QRcode, assistir ao vídeo on-line que fala sobre o
assunto no impresso. Isso acontece assim ele escaneia, a partir de seu celular
ou tablet, esses QRcodes referentes aos links assinalados no texto. Já na
própria capa da obra, o leitor tem a chance de assistir a um vídeo, com um
minuto de duração, que conta sobre a obra, que, inclusive, teve o título
escolhido a partir de uma campanha no Facebook.
Com 250 páginas, a publicação é dividida em duas partes. Na
primeira delas, Martha fala sobre as transformações que a tecnologia vem
causando na sociedade – como as diferenças entre as gerações X e Y, creative
commons, direitos autorais e um dos temas do momento, o Big
data. Já na segunda parte da publicação, o destaque é para a
educação 3.0, suas transformações desde a era industrial até a era da inovação,
ressaltando o novo papel do professor, sobre criatividade, cyberbulling e
ética. Além disso, também traz exemplos de iniciativas nacionais e
internacionais, como a Educopédia, e os pioneiros Coursera e edX. Martha já
está produzindo seu próximo livro, uma espécie de guia que auxiliará o
professor a usar a internet de forma prática.
Veja vídeo em que Martha fala sobre seu livro: